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Subsidio Lição 5 : Uma Igreja cheia de amor

Subsidio Lição 5 : Uma Igreja cheia de amor

Subsidio Lição 5 : Uma Igreja cheia de amor | EBD Adulto | 3º Trimestre 2025 | Comentarista : Pastor José Gonçalves

TEXTO ÁUREO

E era um o coração e a alma da multidão dos que criam, e ninguém dizia que coisa alguma do que possuía era sua própria, mas todas as coisas lhes eram comuns.(At 4.32).

VERDADE PRÁTICA

O amor é o elo que mantém a unidade da igreja local. Sem o amor, não existe relacionamento cristão saudável.

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE

Atos 4.32-37.

INTRODUÇÃO

Nesta lição, veremos como o amor de Deus se manifesta numa igreja genuinamente cristã. Ele capacita a igreja a enxergar os mais necessitados e a buscar caminhos para que suas carências sejam atendidas. Esse amor, contudo, não é um mero sentimento humano. Em vez disso, ele é a expressão máxima da graça de Deus que foi derramada abundantemente nos corações daqueles que creem em Jesus. Somente através do amor de Deus o cristão aprende a ser solidário e generoso com aqueles que precisam ter suas necessidades supridas.

Palavra-Chave:

AMOR

I. O AMOR MANIFESTADO NA COMUNHÃO CRISTÃ

1. O crescimento da Igreja Cristã.

Nesse ponto de sua narrativa, Lucas se refere à igreja como a “multidão dos que criam” (v.32). Essa expressão pode ser entendida com o sentido de um “grande número” ou “assembleia”. A Igreja que havia começado com 120 discípulos, agora é uma grande multidão. Uma igreja pequena possui a mesma natureza e essência de uma igreja grande. Assim como uma igreja grande, uma pequena igreja também enfrenta seus problemas e desafios. Contudo, os desafios e problemas de um grande povo são maiores em proporção em relação a uma pequena. Eles se tornam mais complexos e, portanto, mais desafiadores.

A expressão usada por Lucas — “a multidão dos que criam” — revela não apenas um aumento numérico, mas a formação de uma igreja viva, ativa e comprometida com o evangelho. A Igreja, que começou com um pequeno grupo de 120 pessoas no cenáculo, tornou-se agora uma grande assembleia de crentes. Esse crescimento não aconteceu por estratégias humanas ou métodos de convencimento, mas pela pregação fiel da Palavra, acompanhada pelo poder do Espírito. Isso confirma o que Jesus havia prometido: “edificarei a minha igreja” (Mt 16.18). A obra é dEle, e o crescimento é resultado da Sua ação.

No entanto, o crescimento numérico também traz consigo novos desafios. Quanto maior o número de pessoas, maior a diversidade de pensamentos, temperamentos, necessidades e níveis de maturidade espiritual.

Uma igreja pequena pode lidar de forma mais direta e pessoal com suas dificuldades, mas quando se torna uma multidão, os problemas ganham outra proporção. Os conflitos internos, as diferenças de opinião, as necessidades sociais e espirituais e até mesmo a administração dos recursos se tornam mais complexos. Isso exige sabedoria dos líderes, estrutura espiritual sólida e, acima de tudo, a permanência da igreja na dependência de Deus. O crescimento nunca deve ser visto apenas como sinal de sucesso, mas como uma responsabilidade ainda maior diante do Senhor.

Importa destacar que, mesmo em meio ao crescimento, a essência da igreja permanece a mesma. Uma igreja grande não é mais valiosa do que uma pequena, nem possui mais unção por conta do seu tamanho. O que define a qualidade de uma igreja não é a quantidade de membros, mas sua fidelidade à Palavra, sua comunhão com o Espírito e sua disposição para cumprir a missão do evangelho. Tanto uma pequena congregação quanto uma grande devem preservar os mesmos princípios: amor fraternal, zelo pela doutrina, oração constante e serviço ao próximo.

O modelo deixado pela igreja primitiva nos lembra disso: eles perseveravam na doutrina dos apóstolos, na comunhão, no partir do pão e nas orações (At 2.42).

O crescimento, portanto, é algo desejável e até esperado, mas deve ser acompanhado por maturidade espiritual. É possível ter uma multidão de crentes e, ainda assim, viver superficialmente. Por isso, os líderes devem se preparar para pastorear um povo numeroso com sabedoria bíblica e sensibilidade espiritual. O próprio Moisés, ao liderar Israel, precisou de ajuda para julgar o povo, pois o número era grande e as questões, complexas (Êx 18.17-26). Da mesma forma, a igreja de hoje precisa de cooperação, organização e submissão mútua para lidar com os desafios do crescimento sem perder o foco do Reino.

2. Os desafios do crescimento.

Assim, vemos a Igreja de Jerusalém crescer em escala geométrica. Ela se multiplicava (At 6.7) e com isso os desafios também eram maiores. Como essa igreja, que até pouco tempo não passava de um pequeno número, se comportaria com o novo formato adquirido? Ela manteria a unidade em meio à complexidade? Somente o amor poderia manter o elo fraterno entre os crentes. De fato, Paulo dirá que o “amor de Deus” foi derramado nos corações dos crentes pelo Espírito Santo (Rm 5.5); aos colossenses, o apóstolo dos gentios disse que o amor “é o vínculo da perfeição” (Cl 3.14). Somente através do amor cristão a igreja pode manter-se unida. Quando uma igreja se fragmenta e se divide, isso significa que o egoísmo tomou o lugar do amor em algum ponto.

A Igreja de Jerusalém experimentou um crescimento extraordinário. De um grupo reduzido de discípulos, ela se transformou rapidamente em uma multidão de crentes (At 4.32), e mais adiante, o evangelista Lucas afirma que ela se multiplicava (At 6.7). Esse avanço numérico, ainda que desejável, impôs à igreja novos dilemas: como manter a comunhão entre tantos? Como preservar a unidade diante de tantas necessidades, origens e temperamentos? A resposta não estava em fórmulas humanas, mas em uma virtude essencial do cristianismo: o amor.

É o amor que sustenta a comunhão entre os irmãos. Paulo afirma com clareza que “o amor de Deus é derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado” (Rm 5.5).

Ou seja, não se trata de um sentimento humano comum, mas de uma graça divina que capacita o crente a agir com empatia, humildade e paciência. À medida que a igreja cresce, surgem diferenças naturais — uns mais maduros, outros mais novos na fé; uns com mais recursos, outros com menos. Porém, o amor cristão nivela todos diante da cruz e promove o respeito mútuo. É por isso que o apóstolo, ao escrever aos colossenses, declarou que o amor “é o vínculo da perfeição” (Cl 3.14), ou seja, ele é o elo que sustenta a estrutura da vida comunitária e impede que ela se desfaça diante das tensões.

Quando o amor é substituído pelo egoísmo, a igreja começa a se dividir. Divisões surgem não por causa das diferenças em si, mas pela ausência de uma disposição sincera de considerar o outro superior a si mesmo (Fp 2.3). O crescimento, então, deixa de ser bênção e se torna uma ameaça à unidade. Por isso, a igreja precisa estar constantemente cheia do Espírito Santo, pois é Ele quem derrama o amor de Deus em nós. Sem essa ação divina, o convívio se torna pesado, os relacionamentos se desgastam, e os conflitos se agravam. Mas quando o amor prevalece, a igreja, mesmo sendo grande e diversa, permanece unida, saudável e frutífera.

3. A vida interior.

A expressão “era um o coração e a alma” (At 4.32) mostra a igreja em sua essência, revelando sua união interna. O Espírito Santo capacitou poderosamente os cristãos para cumprir a missão fora da igreja (At 1.8), para a tarefa do evangelismo (At 4.31,33; 8.6,7), mantendo os crentes unidos internamente.

A expressão “era um o coração e a alma” (At 4.32)  é uma poderosa revelação do que acontece quando a vida interior da igreja está alinhada com o Espírito de Deus. Esse tipo de unidade não nasce da simples organização humana nem de afinidades naturais, mas do agir sobrenatural do Espírito Santo no interior dos crentes. Antes de capacitar a igreja para realizar sinais e proclamar o evangelho com ousadia fora dos muros, o Espírito realiza uma obra dentro dela: une os corações e alinha as almas para que haja verdadeira comunhão.

O texto de Atos nos apresenta uma igreja que vivia unida não apenas em reuniões públicas, mas também em sentimentos, propósitos e afetos. “Ser um o coração e a alma” significa viver com os mesmos valores espirituais, o mesmo amor por Cristo, a mesma esperança e a mesma entrega à missão. É nesse ambiente de unidade interna que a igreja encontra força para cumprir sua missão externa. O evangelismo eficaz, os milagres, a pregação com poder — tudo isso flui de uma igreja que vive primeiro em comunhão com Deus e entre si. Sem essa base, as ações externas se tornam vazias ou apenas rotinas religiosas. Mas quando há vida interior fortalecida, cada palavra e cada gesto são acompanhados da presença viva de Deus.

A unidade do coração e da alma também nos mostra o padrão de relacionamento que deve existir entre os irmãos.

Em um mundo marcado por divisões, interesses pessoais e disputas, a igreja deve ser um lugar onde reina o amor, o perdão e a consideração mútua. Esse nível de unidade só é possível porque o Espírito Santo transforma o interior do crente, arrancando o egoísmo e plantando o amor de Deus (Rm 5.5). A vida interior do cristão é o solo onde brotam os frutos do Espírito, e esses frutos são essenciais para que a convivência em comunidade seja saudável e edificante. Onde há um coração dividido, há contenda. Mas onde todos têm o mesmo coração diante de Deus, há paz, propósito e poder.

II. O AMOR COMO MANIFESTAÇÃO DA GRAÇA

1. A graça como manifestação do Espírito.

O melhor ambiente para a manifestação dos dons do Espírito é em uma igreja onde o amor de Deus está presente. Lucas nos informa que “os apóstolos davam, com grande poder, testemunho da ressurreição do Senhor Jesus” (At 4.33). O contexto nos mostra que o Espírito opera em um ambiente que lhe é propício, isto é, onde a igreja está banhada no amor cristão.

Muitos podem cair na tentação de achar que o segredo para ter uma igreja imersa no Espírito, isto é, onde os dons espirituais se manifestam com regularidade, tem a ver com cumprir determinadas regras e normas estabelecidas. Regras são importantes e não podemos viver sem elas. Contudo, o Espírito opera no ambiente onde há comunhão entre os irmãos. Às vezes, podemos quebrar a comunhão com os outros, achando que não tem importância, mas Jesus ensina que, para ser perdoado por Deus, devemos perdoar sinceramente nossos irmãos (Mt 6.15; 18.35). Qualquer ensino contrário a isso é falso.

Em Atos 4.33, Lucas nos mostra que “os apóstolos davam, com grande poder, testemunho da ressurreição do Senhor Jesus”, e logo em seguida afirma que “em todos eles havia abundante graça”.

Essa “graça” não se refere apenas ao favor imerecido de Deus, mas também à ação sobrenatural do Espírito em meio ao Seu povo. Essa graça se manifesta em poder, dons espirituais, ousadia e, sobretudo, na comunhão sincera entre os crentes. O Espírito Santo não opera com liberdade em ambientes marcados por frieza, orgulho ou divisão, mas sim onde há unidade, perdão e amor verdadeiro.

Muitos, ao buscarem uma igreja cheia do Espírito, concentram-se apenas em formas externas: regras, rituais, códigos de conduta. Embora a disciplina e a ordem tenham seu lugar na vida cristã, elas jamais podem substituir a comunhão real e o amor mútuo entre os irmãos. O próprio Senhor Jesus deixou claro que o relacionamento entre os crentes está diretamente ligado ao relacionamento com Deus. Ele afirmou: “Se, porém, não perdoardes aos homens as suas ofensas, também vosso Pai não vos perdoará as vossas” (Mt 6.15). Em outra ocasião, disse que se não perdoarmos “de coração, cada um a seu irmão”, também não receberemos o perdão divino (Mt 18.35). Isso mostra que o Espírito Santo não se manifesta com liberdade onde existe mágoa, ressentimento ou divisão.

2. A graça como favor imerecido.

Há ainda um outro aspecto da graça de Deus revelada neste texto: “em todos eles havia abundante graça” (At 4.33). Isso significa que a graça de Deus estava manifestada tanto nos apóstolos como em toda a igreja. Esse texto não se encontra deslocado, mas é posto aqui com o propósito de mostrar a razão ou motivo daquele contagiante ambiente cristão. Uma igreja dinâmica, que demonstra amor para com seu próximo e na qual o Espírito Santo se manifesta de forma abundante, é uma igreja que reflete a graça de Deus.

Na Bíblia, podemos perceber que a graça de Deus gerou entre os crentes um sentimento de gratidão por terem sido, sem merecimento algum, capacitados por Deus para viverem uma vida abundante. Isso se torna um padrão nas demais igrejas do Novo Testamento (1Ts 4.9). Vemos, por exemplo, esse sentimento de gratidão como uma resposta à graça de Deus na pessoa do apóstolo Paulo (1Co 15.10). Somente a graça gera tamanho sentimento de gratidão.

A graça não era limitada aos apóstolos ou aos que exerciam liderança; ela era abundante “em todos eles”, permeando toda a comunidade de fé. Esse ambiente carregado de graça é o que explicava o dinamismo espiritual, o amor fraternal e a manifestação evidente do Espírito no meio da igreja.

A graça, como favor imerecido, produz nos corações um profundo senso de gratidão. Os primeiros cristãos compreendiam que não estavam ali por seus próprios esforços, nem por algum valor pessoal, mas porque Deus, em sua infinita misericórdia, os havia alcançado. Esse entendimento os impelia a viver com alegria, generosidade e humildade. A graça recebida gerava uma resposta de entrega total. É o mesmo princípio que se repete em outros textos do Novo Testamento, como em 1 Tessalonicenses 4.9, onde Paulo reconhece que o amor entre os crentes vinha do ensino direto de Deus. Esse amor só pode existir porque a graça é real na vida da igreja. Onde há gratidão verdadeira, há serviço espontâneo, adoração sincera e comunhão profunda.

O apóstolo Paulo, em sua experiência pessoal, foi exemplo claro dessa resposta à graça. Ele declara: “Mas, pela graça de Deus, sou o que sou; e a sua graça para comigo não foi vã” (1Co 15.10). Ele reconhecia que tudo o que era — sua conversão, seu ministério e sua perseverança — era fruto exclusivo da graça divina. Sua gratidão era tamanha que ele se dedicava com intensidade à obra, não para merecer algo, mas como resposta amorosa ao que já havia recebido de forma imerecida. É exatamente esse tipo de atitude que vemos na igreja de Atos: uma igreja grata, consciente de que viveu a transformação pela graça, e que agora expressava essa realidade por meio da unidade, da partilha e do testemunho.

III. A MANIFESTAÇÃO DO AMOR NA SOLIDARIEDADE CRISTÃ

1. A busca pela equidade.

O Dicionário Aurélio de Língua Portuguesa conceitua “equidade” como a “disposição de reconhecer igualmente o direito de cada um”. Assim, diferentemente da igualdade, a equidade não enxerga as pessoas como sendo todas iguais e, por isso, busca formas de ajustar o desequilíbrio entre elas. Em Jerusalém não havia um nivelamento social, nem todos possuíam as mesmas condições. Havia pessoas mais abastadas, e havia pobres também. Estes, geralmente, em maior número. Logo, a igreja demonstrou ser sensível a essa realidade, procurando tratar dessa situação (At 4.34), sendo solidária com a situação dos menos favorecidos.

Em Jerusalém, os crentes não viviam em um ambiente onde todos possuíam os mesmos recursos ou condições sociais. A comunidade era formada por pessoas de diversas origens e níveis econômicos — alguns tinham propriedades, enquanto outros mal possuíam o necessário para viver. No entanto, o que se destaca na narrativa de Lucas é a disposição voluntária da igreja em lidar com essas desigualdades de maneira prática, acolhedora e justa.

O conceito de equidade, como ensinado nas Escrituras, está profundamente enraizado no caráter de Deus. Ele é justo, mas também é misericordioso. E sua justiça não é fria ou distante, mas se manifesta em cuidado com os necessitados, os órfãos, as viúvas e os estrangeiros (Dt 10.18; Sl 146.7-9).

A igreja, ao viver cheia do Espírito Santo, reproduziu esse caráter divino na prática, criando um ambiente onde ninguém passava necessidade porque os que tinham mais se dispunham a compartilhar. Isso não foi fruto de uma imposição, mas de uma consciência espiritual que os levava a ver o irmão necessitado como parte do mesmo corpo. O amor cristão se traduzia em ações concretas, e a equidade se tornava visível na solidariedade.

Vale observar que o texto não aponta para uma eliminação das diferenças econômicas por meio de um sistema obrigatório ou nivelador. A equidade não significa tratar todos de maneira idêntica, mas tratar cada um conforme sua necessidade real. Isso fica claro quando os crentes, de forma voluntária, vendiam suas propriedades ou bens e traziam o valor para que fosse distribuído segundo a necessidade de cada um (At 4.35). Essa atitude mostra uma sensibilidade que nasce do Espírito Santo e se opõe ao egoísmo natural do ser humano. A equidade, nesse contexto, é a expressão da graça de Deus, atuando por meio de corações dispostos a servir e amar.

2. Propriedade e compartilhamento.

Estudiosos observam que a igreja de Jerusalém vivia uma comunidade de compartilhamento, não de domínio. Os crentes mantinham a propriedade de seus bens, mas os disponibilizavam conforme a necessidade de cada um. Desse modo, eles compartilhavam tudo o que tinham. Isso pode ser observado com Maria, mãe de João Marcos. Ela também pertencia à igreja de Jerusalém e em vez de vender sua casa, a pôs a serviço da igreja, transformando-a em uma casa de oração onde a igreja se reunia (At 12.12). A prática da generosidade pode mudar de acordo com o tempo, lugar e circunstâncias; contudo, o princípio que a governa permanece o mesmo. Podemos fazer o bem a quem necessita de uma forma ou de outra.

A igreja de Jerusalém, como nos revela o livro de Atos, vivia um espírito de comunhão, onde o compartilhamento era um princípio guiado pelo amor e pela sensibilidade às necessidades dos irmãos. Esse modelo não se baseava na abolição da propriedade privada, como alguns erroneamente interpretam, mas em uma disposição voluntária. Os crentes continuavam sendo donos de seus bens, mas estavam prontos a usá-los em benefício da igreja. Isso demonstra que o coração da prática cristã não está no que se possui, mas na forma como se lida com o que se possui. O que caracterizava essa igreja era a ausência de apego egoísta às posses e a presença de um amor sacrificial.

Um exemplo claro é o de Maria, mãe de João Marcos. Ela não vendeu sua casa, mas a colocou a serviço da igreja, fazendo dela um espaço de oração e comunhão (At 12.12). Isso mostra que a generosidade não segue um único formato.

O Espírito Santo capacita cada crente a contribuir conforme suas possibilidades e circunstâncias. Alguns venderam propriedades para ajudar os necessitados; outros, como Maria, usaram o que tinham de maneira útil para o Reino. O mais importante não era a forma exata do ato, mas o espírito que o motivava: o amor ao próximo e o desejo sincero de servir a Deus com os recursos disponíveis.

A generosidade cristã nunca deve ser motivada pela obrigação, mas pelo amor. Ela pode se manifestar por meio de doações financeiras, pela hospitalidade, pelo apoio emocional, ou mesmo pelo tempo e pelos talentos colocados à disposição dos irmãos. Em todos os casos, o cristão demonstra, por suas ações, que compreendeu o exemplo do próprio Cristo, que “sendo rico, por amor de vós se fez pobre; para que pela sua pobreza enriquecêsseis” (2Co 8.9).

3. Um exemplo da voluntariedade.

Lucas destaca que “os que possuíam herdades ou casas, vendendo-as, traziam o preço do que fora vendido e o depositavam aos pés dos apóstolos” (At 4.34). Nada aqui foi feito de forma obrigatória. Ninguém contribuiu porque foi constrangido a isso. O texto bíblico deixa claro que havia voluntariedade nos crentes em ajudar uns aos outros. Havia uma consciência de pertencimento e, por isso, ninguém deseja ver o outro excluído. Isso era a manifestação do grande amor de Deus derramado nos corações daqueles crentes.

A Bíblia não dá margem para entendermos que isso era um mandamento universal, mas sim uma prática espontânea e contextual, movida por um amor sincero. O que acontecia era que, diante das necessidades visíveis dentro da igreja, aqueles que tinham condições decidiam, por conta própria, fazer algo concreto para ajudar. Essa atitude só pode ser compreendida quando se entende que, para os crentes de Jerusalém, a fé não era algo individualizado. Eles se viam como um só corpo e tinham consciência de que pertenciam uns aos outros. Por isso, o sofrimento de um era o sofrimento de todos, e a provisão de um era também a provisão de todos.

Essa voluntariedade também expressa uma espiritualidade madura. Quando alguém entrega algo de valor sem que lhe seja exigido, isso revela que o coração já foi trabalhado por Deus.

Não se trata de caridade superficial, mas de amor verdadeiro. Jesus ensinou que onde está o nosso tesouro, ali estará também o nosso coração (Mt 6.21), e os crentes de Atos demonstravam que seu tesouro estava em Cristo e na sua obra, e não nas posses materiais. Por isso, entregar parte do que tinham, ou até tudo o que possuíam, era uma resposta natural ao amor que haviam recebido de Deus.

A igreja de hoje precisa redescobrir esse espírito. Em tempos onde há tanta individualidade e materialismo, é fácil cair na tentação de enxergar os recursos como bens exclusivos, protegidos por um direito pessoal. No entanto, o evangelho nos chama à entrega, à partilha e ao serviço. A generosidade não deve ser vista como uma obrigação imposta por líderes ou estruturas, mas como uma expressão do coração cheio do Espírito Santo. Quando os crentes se sentem parte viva do corpo, compreendem que sua fé também se manifesta na forma como cuidam uns dos outros.

CONCLUSÃO

Chegamos à conclusão de mais uma lição bíblica. Vimos como o amor de Deus, derramado nos corações da Primeira Igreja, mobilizou os crentes a socorrer os mais necessitados. Isso aconteceu de forma voluntária quando cada um, de acordo com suas posses, se prontificava a dar do que lhe pertencia. Não há igreja cristã verdadeira sem essa identificação com o outro. Ninguém pode fechar os olhos diante da necessidade alheia e se autointitular de cristão. O verdadeiro amor se realiza no atendimento da necessidade do próximo.

 

Um comentário

  1. Antonio

    Glória a Deus. Mais um estudo bastante profundo. Muito obrigado pelo subsídio e que Deus siga lhe abençoado a cada dia mais.

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