Conhecer a Palavra

Lição 6: Uma Igreja não conivente com a mentira

Subsidio Lição 6 : Uma Igreja não conivente com a mentira | EBD Adulto | 3º Trimestre 2025

Lição 6 :Uma Igreja não conivente com a mentira | EBD Adulto | 3º Trimestre 2025 | Comentarista : Pastor José Gonçalves

 

TEXTO ÁUREO

Disse, então, Pedro: Ananias, porque encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo e retivesses parte do preço da herdade?(At 5.3).

VERDADE PRÁTICA

Como toda forma de engano, a mentira é pecado. Devemos, pois, andar sempre na luz da verdade.

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE

Atos 5.1-11.

INTRODUÇÃO

Um casal, aparentemente despretensioso, achou que podia lucrar às custas da santidade da Igreja. Ao combinarem um ardil para enganar os apóstolos, Ananias e Safira estavam, na verdade, a serviço do Diabo, o pai da mentira. Nesta lição, aprenderemos que é possível um crente não vigilante estar a serviço do Diabo em vez de agir em favor do Reino de Deus. Foi exatamente isso o que aconteceu com Ananias e Safira — tentaram obter lucro negociando valores do Reino. Como crentes, não podemos usar de engano, porque Deus sonda os corações. Cabe, portanto, a nós, nos afastarmos do pecado pelo temor do Senhor.

Palavra-Chave:

MENTIRA

I. O DIABO, O PAI DA MENTIRA

1. É da natureza satânica mentir.

A Escritura afirma que Satanás induziu Ananias a mentir: “Disse, então, Pedro: Ananias, por que encheu Satanás o teu coração…?” (At 5.3). Motivado pela cobiça, pelo desejo de obter lucro fácil, Ananias deu lugar ao Diabo, que o levou a mentir. Jesus já havia afirmado que o Diabo é o pai da mentira (Jo 8.44). Satanás está por trás de toda mentira e engano (2Ts 2.9,10). O apóstolo Paulo viu esse espírito de engano quando enfrentou Elimas, o mágico (At 13.10). O Diabo será sempre mentiroso, nunca mudará.

A mentira nunca é inofensiva. Nas Escrituras, ela sempre se associa à ação de Satanás, cuja natureza é essencialmente mentirosa. Quando Pedro confronta Ananias em Atos 5.3, ele vai direto à raiz do problema, perguntando: “Ananias, por que Satanás encheu o teu coração para que mentisses ao Espírito Santo?”. Essa pergunta revela uma realidade espiritual profunda: mentir não surge apenas de uma falha humana comum, mas pode resultar da influência direta do maligno sobre o coração. Ananias foi motivado por cobiça, desejo de reconhecimento e, provavelmente, orgulho. Ao permitir que esses sentimentos crescessem, ele abriu espaço para Satanás enganá-lo e conduzi-lo ao pecado.

Jesus já havia alertado que o Diabo é “mentiroso e pai da mentira” (Jo 8.44). Isso não significa apenas que ele mente com frequência, mas que mentir faz parte da sua essência.

Satanás nunca agirá com transparência, pois sua missão é enganar, distorcer a verdade e conduzir os homens à perdição. Toda mentira, por menor que pareça, é uma aliança com esse espírito de engano. O apóstolo Paulo, quando confrontou Elimas, o mágico, o chamou de “filho do diabo, inimigo de toda justiça” e disse que ele estava “cheio de todo o engano e de toda a malícia” (At 13.10). Isso nos mostra que o engano espiritual é uma das principais armas do inimigo, e ele se utiliza de corações já inclinados à desobediência para promover seu propósito de destruição.

A mentira, portanto, não deve ser tolerada nem relativizada no meio do povo de Deus. Ela rompe a comunhão, destrói a confiança e, pior ainda, ofende diretamente ao Espírito Santo. Pedro deixou claro que o problema de Ananias não era ter retido parte do valor da venda — isso era uma decisão que ele tinha liberdade para tomar — mas sim fingir que estava entregando tudo, com a intenção de enganar. O erro estava em tentar passar por justo diante dos homens enquanto ocultava a verdade. Isso revela um coração corrompido, mais preocupado com a aparência do que com a integridade.

Satanás age justamente nessa área: alimentando o desejo de parecer espiritual, de obter louvor humano, mesmo que às custas da falsidade. É por isso que toda forma de dissimulação e fingimento precisa ser tratada com seriedade na vida cristã. Não é possível ser cheio do Espírito e, ao mesmo tempo, esconder a verdade. Deus ama a sinceridade, e seu Espírito habita em corações verdadeiros. O engano, por outro lado, corta o relacionamento com Deus e abre brechas para a ação do inimigo. Por isso, é essencial que cada crente vigie seu coração e rejeite toda tentativa de manipular ou disfarçar a verdade.

2. A mentira como um ardil maligno.

Satanás não obrigou nem forçou Ananias a mentir, mas, evidentemente plantou a semente do engano e da mentira em seu coração. A mentira é um dos seus ardis. A Escritura é bem clara: “não deis lugar ao diabo” (Ef 4.27). Por certo, Ananias sabia disso, pois estava numa igreja doutrinada pelos apóstolos (At 2.42). A questão, portanto, não estava em não saber fazer a coisa certa, mas em subestimar o ardil do Inimigo que possui a capacidade de induzir a fazer a coisa errada. É possível que o casal tenha flertado com a possibilidade de ganhar lucro e fama fingindo estar fazendo a coisa certa. Duas coisas que não são em si mesmas pecaminosas, mas quando buscadas com a intenção errada, se tornam pecado.

A mentira, além de ser uma expressão da natureza do Diabo, é também uma das suas principais estratégias para enganar e destruir. O caso de Ananias e Safira, relatado em Atos 5, nos mostra como Satanás age sorrateiramente, plantando sugestões e influências no coração humano. Ele não força ninguém a pecar, mas sabe muito bem como seduzir e manipular os desejos mal direcionados. Ananias não foi obrigado a mentir; ele fez isso porque permitiu que o engano encontrasse espaço em seu coração. A Escritura nos adverte claramente: “não deis lugar ao diabo” (Ef 4.27). Isso nos mostra que cabe ao crente manter sua mente e seu coração guardados contra qualquer sugestão maligna.

Ananias fazia parte de uma igreja bem ensinada. Ele não era um novo convertido nem alguém sem instrução.

Atos 2.42 nos informa que os crentes perseveravam na doutrina dos apóstolos, o que significa que ele sabia o que era certo. O problema não estava no desconhecimento da verdade, mas na negligência em aplicar essa verdade. A mentira entrou como um ardil sutil: talvez a ideia de manter uma boa aparência diante da igreja, ganhar algum reconhecimento ou até guardar parte do valor para seu próprio conforto. Desejar estabilidade financeira ou ter boa reputação não são, por si só, coisas pecaminosas. Contudo, quando esses desejos são alimentados por motivações egoístas ou enganosas, tornam-se brechas para o pecado.

O ardil do Diabo está justamente em distorcer intenções legítimas, levando-as por um caminho dissimulado. Ele não aparece com aparência maligna, mas com sugestões que, à primeira vista, parecem até razoáveis. Assim como fez com Eva no Éden, ele não obrigou Ananias a pecar, mas lançou dúvidas e desejos no coração. A mentira, nesse caso, foi um instrumento para alcançar aquilo que se desejava de forma errada. Ananias e Safira talvez tenham pensado que poderiam agradar a Deus e, ao mesmo tempo, manter algo para si — uma tentativa de conciliar santidade e conveniência. Mas o Espírito Santo não se deixa enganar, e o pecado oculto foi imediatamente revelado e julgado.

3. Não superestime o Inimigo!

O apóstolo Paulo orienta os crentes a perdoarem e a não guardarem nenhuma raiz de amargura (2Co 2.10,11). Se por um lado não podemos superestimar o inimigo, visto ele ter sido derrotado na cruz (Cl 2.15); por outro lado, não podemos subestimá-lo. Paulo orienta os crentes a se revestirem de toda armadura de Deus para que possam ficar firmes contra as “astutas ciladas do diabo” (Ef 6.11). A expressão grega “astutas ciladas” traduz o termo grego methodeias, de onde procede nosso termo português “método”. O Diabo é meticuloso e trabalha metodicamente para enganar os cristãos. Vigiemos!

A vida cristã é marcada por equilíbrio. Ao tratarmos da atuação de Satanás, esse equilíbrio se torna ainda mais necessário. De um lado, não podemos superestimar o poder do inimigo, como se ele fosse onipotente ou irresistível. Isso seria negar a vitória de Cristo na cruz, onde o Senhor “despojou os principados e potestades e os expôs publicamente e deles triunfou em si mesmo” (Cl 2.15). Por outro lado, não podemos cair no erro de subestimar sua astúcia. O apóstolo Paulo adverte que é preciso perdoar e manter o coração limpo para que Satanás não alcance vantagem sobre nós, “porque não ignoramos os seus ardis” (2Co 2.11). Isso mostra que o inimigo, embora derrotado, ainda é ativo, e tenta constantemente nos desviar da verdade.

O crente precisa manter-se vigilante, pois o Diabo não trabalha de forma aleatória, mas sim com métodos específicos.

A expressão usada por Paulo em Efésios 6.11 — “astutas ciladas do diabo” — vem do termo grego methodeias, que tem o sentido de planos organizados, estratégias bem calculadas. Isso nos mostra que o inimigo observa, analisa e ataca com precisão, especialmente nas áreas onde estamos mais vulneráveis. Ele conhece nossas fraquezas, nossas inclinações e nossos pontos de descuido espiritual. Justamente por isso, o apóstolo nos orienta a nos revestirmos de toda a armadura de Deus, para que possamos resistir em dia mau e permanecermos firmes.

É importante destacar que a vitória sobre o Diabo já foi conquistada por Cristo, mas essa vitória se manifesta na vida do crente por meio da obediência, da vigilância e da oração. Ignorar os ardis do inimigo é colocar-se em risco. O caso de Ananias e Safira é um exemplo claro de como Satanás age: não de forma escandalosa ou evidente, mas plantando sugestões sutis que parecem inofensivas. Quando um crente guarda mágoa, quando alimenta orgulho ou quando tenta esconder o pecado, está, sem perceber, abrindo espaço para o trabalho do adversário. É por isso que Paulo insiste tanto na necessidade de perdoar e manter o coração limpo — não apenas para o bem da comunhão, mas como proteção espiritual.

Dessa forma, a igreja deve ser ensinada a conhecer seus inimigos, mas sem medo, pois maior é o que está conosco (1Jo 4.4).

Não superestimar o Diabo significa reconhecer que ele já foi vencido; mas também não subestimá-lo significa não viver de forma negligente. A estratégia do cristão é a vigilância constante. Jesus mesmo advertiu: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação” (Mt 26.41). Não somos chamados a viver amedrontados, mas a andar com discernimento. O Espírito Santo nos capacita com sabedoria, nos fortalece com poder e nos guia com verdade. E, com a armadura de Deus, somos plenamente preparados para resistir às suas investidas.

II. O CRISTÃO E A MENTIRA

1. Mentir é uma escolha.

Um fato fica evidente em Atos 5.1-11: tanto Ananias quanto sua mulher, Safira, agiram livremente na questão envolvendo a venda de uma propriedade (At 5.1,2). Isso fica ainda mais claro quando Pedro, sob o discernimento do Espírito Santo, reprova Ananias por ter tentado enganar a igreja acerca do real valor da propriedade (v.3). Ananias não foi obrigado, nem tampouco constrangido, a agir da forma como agiu. Tanto ele como sua esposa, que foi conivente com a ação dele, tomaram uma decisão livre. Mentir é uma escolha que envolve a natureza moral. Ora, para haver responsabilidade moral é necessário que os nossos atos sejam feitos livremente, isto é, não estejam sob nenhuma força externa que nos obrigue a praticá-los. Nesse aspecto, como veremos mais a frente, eles não poderiam culpar a ninguém, nem mesmo o Diabo, pelo que fizeram.

Quando o casal decide vender uma propriedade e ocultar parte do valor da venda, tentando, ao mesmo tempo, parecer generoso diante da igreja, eles agem com total liberdade. Pedro, ao confrontar Ananias, deixa isso evidente: “guardando-a, não ficava para ti? E, vendida, não estava em teu poder?” (At 5.4). Ou seja, não havia nenhuma exigência para que ele vendesse o bem, nem obrigação de entregar todo o valor. A decisão de mentir sobre a oferta partiu dele mesmo. A ação foi planejada, e sua esposa, Safira, concordou com o plano. Ambos tomaram suas decisões livres, sem qualquer coerção.

Essa liberdade de escolha revela o aspecto moral da mentira. Ninguém mente sem querer. Para que haja responsabilidade diante de Deus, é necessário que os atos sejam praticados com plena consciência e intenção.

Tanto Ananias quanto Safira sabiam o que estavam fazendo. Eles não foram enganados, nem forçados. Eles não pecaram por ignorância, mas por decisão. Escolheram maquiar a verdade diante da comunidade cristã e, pior, diante de Deus. Ao fazer isso, revelaram o quanto valorizavam mais a aparência do que a sinceridade, mais o reconhecimento público do que a aprovação divina.

Nesse contexto, é fundamental compreender que Satanás, embora tenha influenciado Ananias (At 5.3), não pode ser culpado pelo pecado cometido. O Diabo pode sugerir, semear pensamentos, estimular desejos, mas não pode obrigar ninguém a pecar. A responsabilidade permanece com quem toma a decisão. A Escritura é clara ao dizer: “Cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência” (Tg 1.14). Assim, tanto Ananias quanto Safira não tinham como atribuir sua culpa a nenhuma força externa. Eles escolheram mentir, e por isso foram responsabilizados diante de Deus.

Essa verdade é extremamente importante para a igreja de hoje. Vivemos em uma época onde é comum transferir a culpa: para o sistema, para as pressões externas, para o inimigo. No entanto, o relato de Atos 5 nos lembra que a mentira, assim como todo pecado moral, é resultado de uma decisão interior. O coração é o campo onde essas escolhas são feitas. É por isso que a Bíblia nos exorta: “Sobre tudo o que se deve guardar, guarda o teu coração, porque dele procedem as saídas da vida” (Pv 4.23). Quando o coração não está rendido ao Espírito, torna-se vulnerável às tentações e, consequentemente, capaz de escolhas erradas.

2. Atraídos pela mentira.

Se por um lado Ananias e Safira tomaram decisões livres, por outro lado, sofreram implicações de suas decisões: “E Ananias, ouvindo estas palavras, caiu e expirou” (At 5.5). Não podemos saber o que se passou pela cabeça de Ananias e Safira para agirem como agiram. O certo é que quiseram obter vantagem com a negociação feita. É possível que, ao verem os demais crentes fazendo ações louváveis, quando doavam seus bens, tivessem visto nesse gesto uma oportunidade de obterem, além do reconhecimento, o lucro pelo patrimônio que fora vendido e, supostamente, doado.

Não temos como saber todos os pensamentos e intenções que levaram aquele casal a mentir. Contudo, o texto nos permite algumas reflexões. É provável que, ao observarem a generosidade de outros irmãos — como Barnabé, que vendeu um campo e trouxe todo o valor aos pés dos apóstolos (At 4.36-37) —, eles tenham desejado o mesmo reconhecimento sem, no entanto, o mesmo compromisso. Queriam os aplausos, mas não o sacrifício. Queriam parecer espirituais, mas sem abrir mão de seus próprios interesses. Ao serem atraídos pela mentira, permitiram que o desejo de aprovação e vantagem os dominasse. Assim, a falsidade tornou-se o caminho para alcançar um prestígio que não vinha de Deus, mas do ego.

Esse tipo de atitude é extremamente perigoso, pois se disfarça de espiritualidade.

É a tentação de parecer piedoso enquanto o coração está cheio de intenções egoístas. Jesus já havia alertado sobre isso ao condenar os fariseus, que praticavam obras para serem vistos pelos homens (Mt 6.1). O mesmo espírito parece ter se manifestado em Ananias e Safira. Eles não mentiram apenas por dinheiro, mas por status. Foram atraídos pela possibilidade de serem admirados pela igreja, mesmo sabendo que estavam encobrindo a verdade. E essa duplicidade é extremamente ofensiva a Deus, pois tenta enganar não apenas os homens, mas o próprio Espírito.

3. Mentir tem consequências.

Ao agirem assim, Ananias e Safira não pensaram nas consequências de suas ações. Mesmo fazendo parte de uma igreja pentecostal, onde os dons do Espírito Santo estavam em evidência, se expuseram a uma ação mesquinha quando resolveram mentir, não somente aos apóstolos, mas ao próprio Deus. Contudo, o preço pago por essas ações foi muito caro — custou-lhes suas próprias vidas. Antes de se praticar qualquer ação de natureza pecaminosa, é necessário pensar nas consequências que isso produzirá. Quantos crentes, muitos deles experientes, hoje lamentam por não terem levado em conta as consequências de suas ações? Vigiemos!

O episódio de Ananias e Safira não deve ser visto como uma exceção isolada, mas como um aviso válido para a igreja de todos os tempos. Muitos crentes cometem erros semelhantes sem refletir nas implicações do pecado. A mentira, muitas vezes, parece pequena, especialmente quando se justifica por boas intenções ou se disfarça com aparência de piedade. Contudo, Deus vê o coração e não compactua com o engano. A severidade da punição que Deus aplicou a Ananias e Safira revela quanto Ele valoriza a verdade e abomina qualquer falsidade, principalmente quando praticada no meio da igreja.

É necessário que cada cristão entenda que seus atos têm consequências. Antes de qualquer atitude — seja uma palavra, uma escolha ou uma decisão financeira — é preciso refletir: isso glorifica a Deus? Isso é verdadeiro? Isso está em conformidade com a minha fé?

Quantos crentes hoje carregam marcas profundas e arrependimentos dolorosos por não terem pensado nas consequências de suas ações? Muitos são aqueles que, mesmo após anos de caminhada com Cristo, tropeçaram porque permitiram que pequenas concessões os levassem a grandes quedas.

Jesus ensinou que devemos ser fiéis no pouco (Lc 16.10). Isso inclui a fidelidade nas intenções, nas palavras e nas atitudes diárias. O Espírito Santo, que habita na igreja, é o Espírito da verdade. Quando o cristão escolhe enganar ou esconder a verdade, ele entristece o Espírito e compromete sua comunhão com Deus. Por isso, não podemos brincar com o pecado, nem subestimar sua gravidade. A aparência de santidade não substitui a sinceridade do coração. A reputação diante dos homens pode ser preservada com palavras; mas a aprovação diante de Deus depende da verdade interior.

III. A IGREJA QUE REPELE A MENTIRA

1. Uma igreja temente.

Lucas destaca que os fatos ocorridos com Ananias e Safira trouxeram um grande temor dentro e fora da Igreja (At 5.11). A palavra “temor” traduz o termo grego phobos, que também aparece no versículo 5 deste mesmo capítulo. Muitas vezes essa palavra é traduzida com o sentido de “medo” (Mt 28.4; Lc 21.26; Jo 7.13). Contudo, aqui nesse contexto o sentido é de “reverência” e “respeito” como em Atos 2.43 e outras passagens neotestamentárias (cf. At 9.31; 19.17; 1Co 2.3; 2Co 7.1; 2Co 7.15).

Se Deus não tivesse usado Pedro para parar o intento daquele casal, o pecado teria entrado na Primeira Igreja e, sem dúvidas, causado danos irreparáveis. Esse julgamento de Deus, além do fato de punir o pecado do casal, serviu para mostrar quão séria é a Igreja de Deus. Ninguém pode agir na Igreja de Deus da forma que achar mais conveniente, pensando que não estará sujeito ao julgamento divino.

A reação da igreja e daqueles que estavam de fora revela que Deus havia comunicado algo muito mais profundo do que uma simples advertência: Ele estava estabelecendo um padrão.

A disciplina aplicada a Ananias e Safira não foi apenas corretiva, mas também pedagógica. Se aquele engano tivesse passado sem consequência, o pecado teria se infiltrado e corrompido a igreja logo em seu início. O julgamento divino, portanto, preservou a santidade da Igreja e estabeleceu, desde cedo, que ninguém pode tratar com leviandade as coisas espirituais. Deus não é indiferente à desonestidade, à hipocrisia ou à manipulação dentro de sua casa.

O temor do Senhor caracteriza uma igreja viva e saudável. Diversas passagens do Antigo e do Novo Testamento mostram que o temor a Deus caminha junto com a sabedoria e a santidade. Atos 9.31 revela que a igreja primitiva “tinha paz, e era edificada, e se multiplicava, andando no temor do Senhor e na consolação do Espírito Santo”. Não era uma igreja movida por pavor, mas por profundo respeito à presença de Deus. Esse temor evitava que o culto se tornasse um ritual vazio, que a comunhão virasse formalidade ou que as ações seguissem interesses egoístas. Era ele que mantinha o povo na sinceridade e na verdade.

2. Uma igreja forte.

Mais uma vez, Lucas destaca que “muitos sinais e prodígios eram feitos entre o povo pelas mãos dos apóstolos” (At 5.12). Isso mostra que uma igreja santa, que trata o pecado como pecado e não arranja desculpas para justificá-lo, é uma igreja forte. A prova disso é a manifestação dos dons espirituais que levou os apóstolos a fazerem milagres extraordinários. Uma igreja fraca, anêmica por falta de disciplina espiritual e que aprendeu a tolerar o pecado em seu meio, torna-se inoperante.

Após o juízo divino sobre Ananias e Safira, Lucas nos mostra que a Igreja de Jerusalém não ficou abalada ou retraída. Pelo contrário, continuava crescendo em poder e autoridade espiritual. Ele afirma: “E muitos sinais e prodígios eram feitos entre o povo pelas mãos dos apóstolos” (At 5.12). Esse detalhe é extremamente importante, pois revela que a força da igreja estava diretamente relacionada à sua pureza e ao temor ao Senhor que havia se estabelecido em seu meio.

Uma igreja santa é uma igreja forte. Quando o pecado é tratado com seriedade, o ambiente espiritual é preservado e a presença de Deus permanece entre o povo. O juízo contra Ananias e Safira não afastou a manifestação do Espírito — ao contrário, criou as condições para que ela se intensificasse. O texto bíblico mostra que os dons espirituais, os milagres e os sinais não aconteciam por acaso ou por mérito pessoal dos apóstolos, mas porque havia um ambiente propício à ação divina. A comunhão era verdadeira, a reverência era profunda, e a disciplina espiritual era levada a sério. Assim, Deus operava com liberdade.

Infelizmente, o que se observa em muitas igrejas cristãs hoje é uma postura frouxa diante do pecado.

A tolerância indevida, a relativização da verdade e as justificativas humanas para pecados evidentes fazem a igreja perder sua autoridade espiritual. Quando a igreja deixa de confrontar o pecado e passa a acomodá-lo, o Espírito Santo se entristece, e a igreja fica fraca, anêmica e inoperante. Mesmo mantendo suas programações e rituais, falta-lhe vida. Os sinais cessam, a Palavra perde poder, e as almas não se transformam. Tudo isso resulta de uma vida coletiva que perdeu o temor de Deus.

A narrativa de Atos nos ensina que a igreja precisa preservar a santidade se quiser experimentar o sobrenatural de Deus. Os dons espirituais não são brinquedos litúrgicos nem ferramentas para promoção pessoal. Eles são manifestações do Espírito Santo para edificação da igreja e para confirmação da Palavra. Quando a igreja vive em santidade e zelo, os dons fluem com liberdade. Deus se agrada de um povo que trata o pecado como pecado, que não faz concessões ao erro e que busca a verdade com sinceridade de coração. É nesse ambiente que os milagres acontecem, que os enfermos são curados, que os oprimidos são libertos e que os corações são transformados.

Uma igreja forte é, portanto, aquela que está comprometida com a verdade e com a santidade. Ela não negocia seus princípios, não fecha os olhos para o erro e não permite que o pecado seja normalizado em seu meio.

Sua força vem da presença contínua de Deus, que se manifesta onde há reverência, arrependimento e sinceridade. Os apóstolos não operavam milagres por eles mesmos, mas porque Deus estava com eles. E Deus só permanece onde há pureza e verdade.

Se desejamos ver o poder de Deus em ação, se queremos uma igreja viva, vibrante e eficaz, precisamos começar pelo básico: tratar o pecado com seriedade, manter o altar limpo e buscar a presença de Deus com todo o coração. Só assim seremos uma igreja verdadeiramente forte — não por causa de estratégias humanas, mas porque o Senhor está no nosso meio, operando com poder.

CONCLUSÃO

É possível um crente pecar e se acostumar com o pecado sem se arrepender. É possível que ele encontre até mesmo justificativas plausíveis para comportamentos notadamente pecaminosos. Contudo, uma coisa é certa: não é possível escapar do juízo divino. No caso da igreja de Jerusalém, o juízo divino veio de forma rápida e precisa. Contudo, em outros, como no caso de Corinto, o apóstolo Paulo cobrou uma ação enérgica por parte da igreja que havia se tornado tolerante em relação ao comportamento pecaminoso de um crente (1Co 5.1-13). Em outra situação, Paulo deixou claro que Deus exerceu seu direito de juiz com aqueles que haviam pecado (1Co 11.30-32). Fica o alerta: ninguém é capaz de enganar a Deus.

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