Conhecer a Palavra

Lição 7: Uma Igreja que não teme a perseguição

lição 7 :Uma Igreja que não teme a perseguição | EBD Adulto | 3º Trimestre 2025

Lição 7 :Uma Igreja que não teme a perseguição | EBD Adulto | 3º Trimestre 2025 | Comentarista : Pastor José Gonçalves

 

TEXTO ÁUREO

Porém, respondendo Pedro e os apóstolos, disseram: Mais importa obedecer a Deus do que aos homens.(At 5.29).

VERDADE PRÁTICA

Em relação à verdadeira Igreja Cristã há duas verdades inegáveis: 1) a Igreja será perseguida; 2) Deus a protegerá.

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE

Atos 5.25-32; 12.1-5.

 

INTRODUÇÃO

Desde o seu início, a Igreja enfrenta oposição e perseguição. Por sua própria natureza, a fé cristã atrai sobre si a rejeição e a perseguição. Isso porque a fé cristã, por defender princípios exclusivos, muitas vezes se choca com os valores seculares e mundanos. Foi assim no primeiro século e é assim ainda hoje. Contudo, devemos destacar que a igreja não está sozinha nem abandonada no mundo. Deus é o seu dono e, portanto, o seu protetor. Vemos ao longo da história da Igreja o Senhor agindo de diferentes formas para dar livramento e vitória a seu povo. Assim, nesta lição, veremos como Deus faz isso capacitando e empoderando o seu povo para viver no meio de um mundo hostil.

Palavra-Chave:

PERSEGUIÇÃO

I. A IGREJA PERSEGUIDA

1. Os perseguidores.

Na Bíblia, vemos que as autoridades religiosas da época dos apóstolos começaram a se opor à Igreja (At 5.17,24). Atos 5 menciona três grupos: os sacerdotes, os saduceus e o capitão do templo. Os saduceus eram um grupo muito influente, com grande poder político e religioso. Eles tinham o apoio dos sacerdotes e dos anciãos, e, dentro dessas classes religiosas, eram os mais poderosos. Esse grupo já havia tentado atrapalhar o ministério de Jesus várias vezes, criando dificuldades sempre que podiam (Lc 20.27-40). Os anciãos eram líderes judaicos influentes, representando tanto aspectos religiosos quanto políticos, mas sem exercer funções sacerdotais no Templo. Já o capitão do Templo, mencionado também em Atos 4.1, era um sacerdote de nível inferior, mas que tinha autoridade policial dentro do Templo. Esses grupos, cada um com sua influência, viram a Igreja como uma ameaça e fizeram de tudo para impedir a pregação do Evangelho.

Desde os primeiros capítulos de Atos dos Apóstolos, fica evidente que a propagação do Evangelho provocava reações diversas, inclusive a perseguição.

O crescimento da Igreja não foi visto com bons olhos pelas autoridades religiosas judaicas. No capítulo 5, Lucas menciona três grupos principais que se levantaram contra os apóstolos: os sacerdotes, os saduceus e o capitão do templo (At 5.17,24). Todos eles pertenciam à estrutura religiosa dominante em Jerusalém e exerciam grande influência sobre o povo e sobre os rumos da vida religiosa e política da nação judaica. Para esses líderes, a Igreja representava não apenas uma divergência doutrinária, mas uma ameaça à sua posição de poder.

Os saduceus, em especial, tinham uma visão bastante racionalista da fé. Eles não criam na ressurreição dos mortos, nem em anjos ou espíritos (At 23.8), o que os colocava em total oposição à pregação dos apóstolos, cujo centro era justamente a ressurreição de Jesus Cristo. Eram um grupo da elite sacerdotal, ligados ao Templo, e detinham grande poder político por seu relacionamento próximo com Roma. Sua principal motivação ao perseguirem os apóstolos não era apenas a discordância teológica, mas também o medo de perder a influência e o controle sobre o povo. Eles estavam mais preocupados em preservar sua autoridade do que em buscar a verdade.

Além dos saduceus, os sacerdotes também se sentiam ameaçados. Muitos deles faziam parte do Sinédrio e, mesmo sendo conhecedores da Lei, deixaram-se levar pelo ciúme e pela resistência à mudança. Eles viam os apóstolos como homens sem formação rabínica formal, mas que atraíam multidões e realizavam sinais e prodígios que confirmavam sua mensagem. Isso gerava desconforto entre os líderes religiosos, pois colocava em xeque a autoridade que eles diziam possuir. A mensagem dos apóstolos era clara: Jesus, a quem eles haviam rejeitado e crucificado, era o verdadeiro Messias. Isso era inaceitável para o orgulho religioso deles.

O capitão do templo, por sua vez, era uma espécie de chefe da guarda do Templo. Embora fosse um sacerdote de posição inferior, ele tinha autoridade para manter a ordem no recinto sagrado.

Sua função incluía prender e interrogar qualquer pessoa que causasse tumulto ou pregasse algo que fugisse do controle da liderança religiosa. A atuação dele em prender os apóstolos mostra como todo o sistema institucional da época estava envolvido na tentativa de silenciar a Igreja. Eles não agiam por zelo espiritual genuíno, mas para proteger suas estruturas humanas de poder e prestígio.

2. Esferas da perseguição.

A perseguição dos judeus aos cristãos se dava em duas esferas: a religiosa, por verem a mensagem de Cristo como ameaça; e política, os romanos procuravam aumentar o capital político com os judeus.

a) Na esfera religiosa. Lucas registra que os religiosos judeus prenderam os apóstolos (At 5.17,18). À medida que os cristãos testemunhavam da sua fé com poder, ganhavam mais e mais admiração popular (At 2.47). Muitos já havia aceitado a fé (At 4.4). Esse número continuava crescendo (At 5.14). A inveja, portanto, provocou a ira desses líderes. Enquanto a Igreja crescia, o velho judaísmo farisaico regredia.

b) Na esfera política. Em Atos 12.1-5, vemos que a perseguição se dá na esfera estatal e é de natureza mais política, na esfera pública. Ali, o rei Herodes, um dos governantes que representava o império Romano na Judeia, mandou executar Tiago e prender o apóstolo Pedro. Sabendo que Pedro era um líder de destaque entre os apóstolos, queria com isso aumentar o seu capital político perante os judeus que se opunham à Igreja (At 12.3).

A perseguição contra a Igreja do primeiro século se manifestava de maneira clara em duas frentes distintas, mas interligadas: a religiosa e a política.

Essa dupla oposição demonstrava o quanto a mensagem do Evangelho confrontava não apenas o pecado individual, mas também sistemas inteiros que se sustentavam sobre estruturas humanas de poder, influência e tradição. A expansão da fé cristã ameaçava os interesses estabelecidos, provocando reações intensas tanto das autoridades judaicas quanto do aparato governamental romano. Em ambos os casos, o alvo era silenciar a voz da Igreja e frear o avanço do Reino de Deus.

Na esfera religiosa, os líderes judaicos se sentiam incomodados pelo crescimento da Igreja. Lucas nos mostra que, enquanto os apóstolos pregavam com poder, o número de crentes aumentava significativamente (At 2.47; 4.4; 5.14). Esse crescimento, além de surpreendente, era desconcertante para os religiosos da época. O povo se encantava com os sinais realizados pelos apóstolos e com a simplicidade e autoridade com que anunciavam Jesus como o Messias prometido. Esse prestígio popular contrastava fortemente com o distanciamento e a rigidez dos líderes religiosos, que viam sua influência diminuir dia após dia. Movidos por inveja, eles prenderam os apóstolos (At 5.17,18), tentando impedir que a mensagem cristã se espalhasse ainda mais. O Evangelho, contudo, não pode ser aprisionado, pois ele é a verdade viva de Deus em ação.

Já na esfera política, a perseguição assumia um caráter oportunista. O texto de Atos 12 nos apresenta o rei Herodes Agripa I, um político hábil e astuto, que buscava agradar os judeus para consolidar seu domínio sobre a região.

Ao perceber que os judeus influentes se opunham veementemente à Igreja, Herodes executou Tiago, irmão de João, e prendeu Pedro (At 12.1-5). Essa ação não foi movida por convicção religiosa, mas por interesse político. Era uma tentativa clara de angariar apoio popular, fortalecendo sua posição junto às lideranças judaicas. Assim, a perseguição tornava-se um instrumento de barganha política, onde a fidelidade dos crentes ao Evangelho era usada como moeda de troca em jogos de poder.

O apóstolo Paulo nos lembra que “as armas da nossa milícia não são carnais, mas sim poderosas em Deus, para destruição das fortalezas” (2Co 10.4). Isso significa que, mesmo diante das perseguições externas, a Igreja continua vencendo quando permanece firme em sua missão, sustentada pela verdade do Evangelho e fortalecida pelo poder do Espírito Santo. A perseguição, ainda que dolorosa, é também uma confirmação de que estamos no caminho certo, pois o mundo odeia o que não pode controlar e rejeita aquilo que expõe sua escuridão.

3. A Igreja enfrentará oposição.

A Igreja sempre enfrentará opositores, de um jeito ou de outro. Isso acontece porque o Cristianismo Bíblico, por sua natureza, acolhe a todos, mas também estabelece princípios para quem deseja segui-lo. Por isso, muitas vezes, é visto como antiquado, preconceituoso e indesejado. A perseguição pode mudar conforme o tempo e o lugar, mas seu objetivo continua o mesmo: silenciar a voz da Igreja.

O Evangelho é luz, e a luz sempre incomodará as trevas. Jesus já havia advertido os seus discípulos: “Se o mundo vos aborrece, sabei que, primeiro do que a vós, me aborreceu a mim” (Jo 15.18).

Ao longo da história, vemos que os opositores da Igreja assumem diferentes rostos e estratégias. Em alguns momentos, como nos tempos dos apóstolos, a oposição foi institucional e violenta, por meio de prisões, espancamentos e mortes. Em outras épocas, manifestou-se por meio de perseguições ideológicas, censuras e difamações. Atualmente, em muitos lugares, a perseguição acontece de forma sutil, porém constante, especialmente quando a fé cristã bíblica se posiciona contra valores distorcidos da sociedade. O Cristianismo que permanece fiel às Escrituras é frequentemente rotulado como retrógrado, intolerante ou ultrapassado. Contudo, isso não surpreende aqueles que conhecem a Palavra, pois Paulo já havia declarado que “todos os que querem viver piamente em Cristo Jesus padecerão perseguições” (2Tm 3.12).

É necessário compreender que a oposição ao Evangelho não deve nos paralisar nem nos intimidar. Pelo contrário, deve nos lembrar que fazemos parte de um Reino que não é deste mundo (Jo 18.36) e que a nossa cidadania está nos céus (Fp 3.20).

A oposição, por mais dura que seja, não pode vencer uma igreja cheia do Espírito Santo, firmada na Palavra e comprometida com a verdade. A história do Cristianismo mostra que a perseguição, ao invés de sufocar a Igreja, sempre serviu como combustível para seu crescimento e purificação. Onde há oposição, há também avivamento entre os fiéis, há unidade, oração fervorosa e busca sincera por Deus.

II. A IGREJA PROTEGIDA

1. Um anjo de Deus.

Lucas destaca que em meio à perseguição, Deus provê livramento para os apóstolos (At 5.19). A igreja não era apenas perseguida, mas também protegida! Aqui a igreja contou com a presença de anjos, seres de natureza totalmente sobrenatural. Não é incomum a presença de anjos no Livro de Atos. Eles estiveram presentes na libertação de Pedro da prisão (At 12.7); com Filipe em sua missão evangelística (At 8.26); em missão na casa do centurião romano, Cornélio (At 10.3) e com o apóstolo Paulo em alto-mar (At 27.23,24). A Bíblia diz que eles estão a serviço daqueles que vão herdar a salvação (Hb 1.14).

No capítulo 5 de Atos, após a prisão dos apóstolos por causa da pregação do Evangelho, Lucas registra que “um anjo do Senhor abriu de noite as portas da prisão” (At 5.19). Esse fato nos mostra que a Igreja primitiva não estava apenas debaixo de oposição, mas também sob a proteção do céu. O mesmo Deus que permite a perseguição para fortalecer a fé de seus servos também estende Sua mão para livrá-los quando Lhe apraz. Os anjos do Senhor eram enviados para intervir de maneira direta, provando que a Igreja não estava sozinha em sua missão.

Em diversas situações, anjos foram enviados por Deus para auxiliar, orientar e livrar os servos do Senhor. Quando Pedro foi preso novamente, foi um anjo quem o despertou e o conduziu para fora da prisão, livrando-o de uma execução certa (At 12.7-11).

Quando Filipe foi enviado ao caminho que descia de Jerusalém a Gaza, foi um anjo que lhe deu a direção (At 8.26). Na casa de Cornélio, foi um anjo que apareceu em visão, preparando o coração daquele centurião romano para ouvir o Evangelho (At 10.3-6). E quando Paulo enfrentava a tempestade em alto-mar, um anjo do Senhor lhe apareceu, assegurando-lhe que todos a bordo sobreviveriam (At 27.23-24).

A Igreja do Senhor deve, portanto, manter sua fé firme mesmo em meio à oposição, sabendo que o céu está atento a cada situação. A perseguição pode vir, as portas podem parecer trancadas, mas o Senhor continua operando, muitas vezes de forma invisível, em favor do Seu povo. Quando todas as saídas humanas parecem fechadas, Deus ainda tem Seus meios de agir. Se for preciso, Ele envia um anjo. Outras vezes, Ele opera por meio de circunstâncias, pessoas ou milagres diretos. Mas sempre age com soberania e fidelidade.

Por isso, ao enfrentarmos tribulações, lembremo-nos de que há uma realidade espiritual operando ao nosso favor. O mesmo Deus que enviou Seus anjos para livrar os apóstolos é o mesmo que hoje vela por Sua Igreja. Não estamos sozinhos, não somos esquecidos, e não seremos vencidos, pois o Senhor dos Exércitos está conosco.

2. A intercessão da Igreja.

Atos 12.5 diz que a Igreja “fazia contínua oração” por Pedro. O mesmo texto bíblico que mostra um anjo no cenário da libertação de Pedro também revela a Igreja como um agente ativo nessa libertação. Não teria sentido Lucas destacar o papel da Igreja intercedendo por Pedro se isso não tivesse nenhuma relevância. É evidente que Deus é soberano e age como quer e quando quer. A morte de Tiago, irmão de João, é mencionada anteriormente e não temos uma explicação no texto bíblico do porquê Tiago não foi libertado (At 12.2). Contudo, esse evento certamente causou um impacto na Igreja, levando-a a orar ainda mais fervorosamente por Pedro. Deus respondeu à oração da igreja e libertou Pedro.

No mesmo episódio em que o anjo do Senhor intervém milagrosamente para libertar Pedro, Lucas também registra o clamor da Igreja como um fator importante. Isso não é coincidência, tampouco apenas uma informação paralela. Ao mencionar a intercessão da Igreja, o texto nos ensina que, embora Deus seja soberano e aja segundo Seus eternos propósitos, Ele também atende às orações do Seu povo. A oração da Igreja não é um ritual vazio, mas um instrumento eficaz nas mãos de Deus. Deus quis, em Sua soberania, associar a libertação de Pedro à oração dos irmãos. Esse é um testemunho poderoso de que a oração da Igreja move os céus, abre portas e interfere diretamente em situações impossíveis.

A diferença entre a morte de Tiago e a libertação de Pedro pode nos levar a questionamentos, mas o silêncio do texto quanto ao livramento de Tiago não diminui a soberania de Deus.

A Escritura não nos revela todos os porquês, mas nos mostra com clareza que a Igreja aprendeu a importância de se colocar na brecha. A morte de Tiago foi um duro golpe, certamente um momento de dor e perplexidade. E, por causa disso, podemos supor que a Igreja se despertou ainda mais para o poder da oração. A intercessão, nesse sentido, foi uma resposta de fé em meio à adversidade. A Igreja não podia enfrentar Herodes com espadas ou com influência política, mas podia mover os céus com suas súplicas.

O poder da intercessão não está no número de palavras, mas na fé com que se ora. A oração contínua, fervorosa e unida da Igreja em favor de Pedro foi uma expressão clara de confiança em Deus. O Senhor poderia libertá-lo com ou sem oração, mas decidiu agir por meio da oração, mostrando que a Igreja tem um papel ativo na obra que Ele realiza. Ao se reunir na casa de Maria, mãe de João Marcos, os irmãos se engajaram em um esforço espiritual coletivo (At 12.12). O ambiente de unidade e fé foi o terreno fértil para o milagre que Deus realizou.

Mesmo que, naquele momento, alguns não acreditassem de imediato que Pedro havia sido realmente libertado — como mostra a reação da serva Rode e dos demais irmãos (At 12.13-16) —, isso não anula o fato de que a oração deles foi ouvida.

Isso nos ensina que, mesmo quando nossa fé vacila, Deus continua sendo fiel. Ele responde não pela nossa perfeição, mas pela Sua misericórdia. A oração da Igreja não é apenas um dever, é um privilégio. É a forma como nos unimos ao que Deus está fazendo no mundo e participamos, com humildade e reverência, da Sua obra redentora.

3. O valor da oração.

Essa passagem bíblica, assim como muitas outras, mostra o grande valor da oração. Enquanto os cristãos oravam, o lugar em que estavam tremeu (At 4.31); quando Paulo orava, teve uma visão com Ananias de Damasco orando pela cura dele (At 9.11,12); enquanto Cornélio orava, um anjo se apresentou a ele (At 10.3) e os apóstolos oravam para que os cristãos fossem batizados no Espírito Santo (At 8.15). Não podemos subestimar o poder da oração. A conhecida frase “muita oração, muito poder; pouca oração pouco poder” ainda continua atual.

Após orarem (At 4.31) , os discípulos experimentaram um terremoto espiritual que abalou o lugar onde estavam reunidos, sinalizando que Deus estava presente e aprovando a fé e ousadia daqueles crentes. Essa manifestação extraordinária do Espírito foi uma resposta direta à oração da Igreja. O texto diz que todos foram cheios do Espírito Santo e passaram a anunciar com ousadia a Palavra de Deus. Isso mostra que a oração tem o poder de renovar, fortalecer e capacitar os servos de Deus para a missão.

Outro exemplo está em Atos 9.11-12. Quando Saulo de Tarso se encontrava cego e arrependido, orando em Damasco, Deus respondeu suas orações através de uma visão e também moveu outro servo, Ananias, para ir ao seu encontro.

Mais uma vez, vemos como a oração é um elo poderoso entre os céus e a terra. A oração de Saulo preparou o caminho para a restauração de sua visão e o início de um ministério que mudaria o mundo. Ao mesmo tempo, Deus também falou com Ananias durante a oração, mostrando que esse tempo com Deus não é apenas uma via de mão única, mas um momento de diálogo espiritual onde o crente ouve e é direcionado por Deus.

Em Atos 10.3, encontramos o centurião Cornélio, um homem temente a Deus, em oração. Ele não fazia parte do povo judeu, mas seu coração sincero e suas orações constantes chamaram a atenção dos céus. A resposta foi imediata: um anjo foi enviado com instruções claras para que Cornélio chamasse Pedro, que lhe anunciaria o evangelho da salvação. Esse episódio foi tão importante que marcou o início da expansão do Evangelho entre os gentios. Tudo começou com uma oração.

Não menos importante é o que ocorre em Atos 8.15, onde Pedro e João oram pelos novos crentes em Samaria para que recebessem o Espírito Santo. A oração, nesse caso, se torna o instrumento através do qual a promessa do Pai se concretiza na vida dos que haviam crido. 

Diante desses exemplos, torna-se impossível subestimar o valor da oração. Ela é uma arma espiritual, um instrumento de revelação, uma fonte de poder e um meio de comunhão profunda com o Deus Todo-Poderoso.

A frase tão conhecida — “muita oração, muito poder; pouca oração, pouco poder” —, apesar de simples, carrega uma verdade espiritual. Quanto mais tempo passamos em oração, mais sensíveis nos tornamos à voz de Deus, mais fortalecidos estamos para enfrentar os desafios da vida cristã e mais preparados somos para agir segundo a vontade do Senhor.

III. A IGREJA DESTEMIDA

1. Testemunho com poder.

Tão logo foram libertos, os apóstolos começaram a testemunhar de sua fé (At 5.25). De nenhuma forma se sentiram intimidados. Estavam capacitados pelo poder do alto. Não é por acaso que o livro de Atos já foi denominado por antigos escritores de os “Atos do Espírito Santo”. Vemos o Espírito Santo operando por todo o livro, mesmo quando o seu nome não é mencionado. Ele é a fonte de poder da Igreja. Sem o Espírito Santo a Igreja perde o seu testemunho e se torna inoperante.

Atos 5.25 relata que, em vez de fugirem ou se esconderem, os apóstolos estavam novamente no templo, ensinando o povo. Essa postura revela um nível extraordinário de coragem e convicção, algo que não pode ser explicado apenas por motivação humana. Eles haviam sido capacitados pelo poder do Espírito Santo, e é esse poder que move a Igreja em sua missão, mesmo diante da perseguição.

Essa coragem não era fruto de simples entusiasmo ou resistência emocional. Ela era resultado direto do derramamento do Espírito Santo, conforme prometido por Jesus antes de sua ascensão: “Mas recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas…” (At 1.8). É esse poder que os impulsiona a continuar pregando, ainda que o ambiente fosse de oposição e risco.

A Igreja de Atos não testemunhava apenas com palavras, mas com uma autoridade espiritual que impactava profundamente seus ouvintes.

A pregação vinha acompanhada de sinais, transformação de vidas e, acima de tudo, de uma ousadia sobrenatural que não podia ser detida por prisões, açoites ou ameaças.

Essa é uma das razões pelas quais muitos estudiosos preferem chamar o livro de Atos de “Atos do Espírito Santo” em vez de “Atos dos Apóstolos”. Embora os apóstolos sejam personagens centrais, é o Espírito Santo quem atua do início ao fim, dirigindo, capacitando, consolando e operando maravilhas por meio da Igreja. Mesmo nos trechos onde o nome do Espírito não é explicitamente mencionado, Sua presença é evidente. É Ele quem transforma homens comuns, antes medrosos, em testemunhas destemidas. Pedro, que antes negara Jesus por medo de ser identificado como seu seguidor, agora não hesita em enfrentar o Sinédrio e proclamar a ressurreição de Cristo com autoridade.

O testemunho com poder é, portanto, uma marca de uma Igreja cheia do Espírito. Não se trata apenas de conhecer doutrinas ou repetir discursos, mas de falar com convicção nascida de uma experiência real com Deus. O testemunho poderoso vem de um coração que foi transformado, de uma vida que foi cheia do Espírito e de lábios que não podem se calar diante da verdade. Quando a Igreja se distancia dessa fonte de poder, perde sua autoridade espiritual e se torna apenas mais uma instituição religiosa entre tantas.

O mundo de hoje, assim como nos dias dos apóstolos, precisa ouvir o Evangelho com poder. Mas esse poder não vem de estratégias humanas, retórica bem elaborada ou recursos tecnológicos. Vem do Espírito Santo. É Ele quem convence do pecado, da justiça e do juízo (Jo 16.8). É Ele quem dá poder à Igreja para cumprir sua missão. 

2. Convictos de sua fé.

Lucas registra a ousadia do testemunho de Pedro (At 5.29). Nesse texto temos uma clara defesa dos valores cristãos. Ele mostra que a Igreja Primitiva não negociava sua fé, mesmo que isso lhe custasse caro. A mesma referência também é muitas vezes usada para justificar a desobediência cível por parte da igreja em relação ao Estado, quando este age contrariamente aos princípios adotados por aquela. De fato, isso está em foco. Contudo, não se trata de uma mera desobediência civil ou rebeldia, mas de uma defesa consciente daquilo que a igreja crê como fazendo parte da sua natureza e essência e que, por conta disso, não pode, de forma alguma, ser negociado.

O versículo de Atos 5.29 — “Mais importa obedecer a Deus do que aos homens” — não é apenas uma frase corajosa pronunciada por Pedro, mas uma expressão profunda da convicção da Igreja Primitiva. Trata-se de um testemunho claro de que, para os primeiros cristãos, a fidelidade a Deus estava acima de qualquer imposição humana. Essa convicção não surgiu de um sentimento de rebeldia, nem tampouco de um espírito de confronto com as autoridades. Ao contrário, ela nasceu da consciência de que a obediência à vontade divina era um princípio inegociável, algo que fazia parte da própria identidade da Igreja.

Pedro não estava falando apenas por si, mas como representante de uma Igreja que entendia seu chamado e sua missão.

A fala de Pedro em Atos 5.29 não se trata, portanto, de uma afronta às autoridades ou de uma tentativa de subverter a ordem, mas de uma postura firme diante da ameaça de silenciamento. A Igreja não poderia deixar de anunciar a ressurreição de Jesus porque essa verdade era o coração da fé cristã. Abandoná-la significaria negar tudo aquilo que haviam visto, ouvido e experimentado.

Em tempos em que a fé cristã é constantemente desafiada, é fundamental que a Igreja atual aprenda com esse exemplo. Nem tudo o que é legal é moral. Nem tudo o que é permitido pelo mundo é aprovado por Deus. A Igreja não deve buscar conflitos com as autoridades, mas também não deve ceder quando aquilo que lhe é ordenado fere os mandamentos do Senhor. A convicção de fé precisa ser mais do que um discurso; deve ser uma prática que resiste às pressões externas, que sustenta a integridade mesmo sob ameaça e que glorifica a Deus através da obediência.

Portanto, o exemplo de Pedro nos convida a examinar o nível de nossa fidelidade. Será que estamos prontos para manter firme a nossa fé quando ela for posta à prova? Ou temos cedido às pressões do mundo, buscando agradar aos homens em detrimento da obediência a Deus? A Igreja precisa, hoje mais do que nunca, de cristãos convictos, que não negociam valores, que não adaptam sua fé à cultura, mas que permanecem fiéis ao Senhor mesmo quando isso lhes custa algo. Porque, no fim das contas, como bem disse Pedro, é melhor obedecer a Deus do que aos homens.

CONCLUSÃO

Vimos como uma igreja capacitada pelo Espírito enfrenta perseguições. O cristão, portanto, não deve se assustar com elas. No contexto do Cristianismo Bíblico essa é a regra, não a exceção. Ninguém gosta de ser perseguido; contudo, as Escrituras nos previnem a respeito da realidade da perseguição na jornada cristã (Jo 16.33). Isso não significa que o sofrimento deve ser um alvo a ser alcançado, mas que devemos estar conscientes de que não podemos evitá-lo. Portanto, o nosso foco deve estar em Deus, pois Ele é quem pode nos guardar e capacitar no meio do sofrimento.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *