TEXTO ÁUREO
“E não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei, antes, aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo.” (Mt 10.28).
VERDADE PRÁTICA
Cuidar da alma é uma atitude fundamental para uma vida cristã estável e uma eternidade de alegria e paz.
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
Gênesis 1.27,28; 2.15-17; Mateus 10.28.
INTRODUÇÃO
Na primeira lição apresentamos um conceito preliminar da alma, demonstrando seu lugar na tríplice constituição do homem. Vimos que, junto do espírito e inseparável dele, a alma compõe a parte imaterial ou espiritual do ser humano, que o torna uma pessoa, criado à imagem de Deus. Nesta lição buscaremos nos aprofundar no conceito e distinção da alma, estudando seus atributos e sua importância no relacionamento com Deus e com o próximo.
Palavra-Chave:
ALMA
I. ATRIBUTOS DA ALMA
1. De volta ao Gênesis.
A parte imaterial do ser humano é o que mais o diferencia dos animais, como bem evidenciado na criação (Gn 2.7). O homem é um ser pessoal, criado à imagem de Deus, com autoconsciência e autodeterminação. O Criador fez-lhe seu representante, dando-lhe poder de governo sobre toda a obra criada (Sl 8.3-6): “[…] enchei a terra, e sujeita-a; e dominai […]” (Gn 1.28).
Sua capacidade de administração, compreensão e decisão moral é resultado do caráter consciente e autônomo da alma humana. Isso é exemplificado originalmente na aptidão de lavrar e guardar o jardim (Gn 2.15), discernir entre o certo e o errado e fazer escolhas (Gn 2.16,17) e dar nomes aos animais (Gn 2.19). A parte afetiva do homem é demonstrada na afirmação divina da necessidade de uma companheira e na expressão de satisfação de Adão ao receber Eva, que alguns eruditos consideram ser a primeira composição poética da história humana (Gn 2.18,23).
O relato da criação em Gênesis revela que o ser humano foi formado de modo singular, distinto de todas as outras criaturas.
Quando Deus soprou o fôlego de vida em Adão (Gn 2.7), conferiu-lhe uma natureza espiritual e consciente, tornando-o um ser capaz de refletir a imagem do Criador. Essa parte imaterial — composta por alma e espírito — é o que verdadeiramente distingue o homem dos animais. Enquanto as demais criaturas agem por instinto, o homem possui razão, vontade e emoções que o capacitam a pensar, sentir e escolher entre o bem e o mal. Assim, ele se torna responsável diante de Deus por suas decisões e atitudes.
O domínio sobre a criação, concedido por Deus (Gn 1.28; Sl 8.3-6), é mais que um privilégio — é uma responsabilidade espiritual. Deus colocou Adão no Éden para lavrar e guardar o jardim (Gn 2.15), mostrando que o trabalho faz parte da dignidade humana e expressa a parceria do homem com o Criador. Esse mandato cultural revela que a capacidade de administrar, planejar e cuidar do ambiente vem da mente e da alma que Deus concedeu ao homem. Além disso, a liberdade de escolha, mostrada na ordem de não comer do fruto proibido (Gn 2.16-17), confirma que o homem foi criado com consciência moral, e não como uma criatura programada.
A criação da mulher também revela a profundidade da dimensão emocional do ser humano. Ao perceber a solidão de Adão, Deus afirmou que não era bom que o homem estivesse só (Gn 2.18). A formação de Eva completou o projeto divino e trouxe à tona a capacidade humana de se relacionar, amar e expressar afeto. A reação de Adão ao ver sua companheira — “Esta é agora osso dos meus ossos e carne da minha carne” (Gn 2.23) — reflete a primeira manifestação poética registrada na história, evidenciando a sensibilidade e a expressão estética presentes na alma humana.
2. Entre o espírito e o corpo.
A alma do homem é sua personalidade ou distintivo pessoal. Seus três principais atributos são: emoção ou sentimento, razão ou intelecto e volição ou vontade. É, portanto, a sede dos afetos, raciocínio, impulsos, desejos e decisões. O ser humano emprega esses atributos em sua comunicação com Deus e com o mundo físico, principalmente seus semelhantes. Para ter comunhão com Deus, a alma serve-se do espírito. Para comunicar-se com o próximo, o veículo são o corpo e seus órgãos sensoriais (pele, olhos, ouvidos, nariz, boca). Pode-se dizer, então, que a alma funciona entre o espírito, que se conecta com Deus, o Ser Divino, e o corpo, que se conecta com o mundo dos homens. O cântico de Maria, na casa de sua prima, Isabel, é uma típica cena dessa tríplice interação e comunicação (Lc 1.46,47).
Entre o espírito e o corpo está a alma, que representa o centro da personalidade humana. É nela que se encontram as emoções, os pensamentos e a vontade, tornando cada pessoa única diante de Deus e dos homens. Por meio da alma, o ser humano expressa amor, alegria, tristeza, raiva e tantos outros sentimentos que compõem sua experiência de vida. Essa dimensão interior também é o ponto de equilíbrio entre o espiritual e o físico, pois o espírito conecta o homem ao Criador, enquanto o corpo o liga ao mundo material. Quando a alma está em harmonia com o Espírito Santo, toda a vida humana se alinha ao propósito divino, refletindo equilíbrio, discernimento e santidade.
A alma também é o campo onde se travam as maiores batalhas do ser humano. É nela que se decidem os rumos da obediência ou da desobediência a Deus.
A vontade pode se inclinar tanto para o bem, guiada pelo espírito regenerado, quanto para o mal, quando dominada pelos desejos carnais. O apóstolo Paulo descreve essa luta interna ao afirmar que “a carne cobiça contra o Espírito, e o Espírito contra a carne” (Gl 5.17). Essa tensão constante mostra que a alma precisa ser continuamente renovada pela Palavra de Deus (Rm 12.2), para que os sentimentos e decisões estejam de acordo com a vontade divina.
A comunhão com Deus ocorre quando o espírito humano, vivificado pelo Espírito Santo, conduz a alma a se submeter ao governo divino. Isso se reflete nas atitudes visíveis do corpo, que passa a agir como instrumento de justiça (Rm 6.13). Assim, o crente vive de modo coerente, permitindo que seu corpo, alma e espírito sejam santificados por completo (1Ts 5.23). Maria, ao expressar em seu cântico: “A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espírito se alegra em Deus, meu Salvador” (Lc 1.46-47), demonstrou essa harmonia entre as três dimensões do ser. Sua adoração brotou de um coração rendido, unindo razão, emoção e fé em um mesmo ato de louvor.
3. A alma abatida.
Os afetos da alma em relação a Deus são vistos na poesia do Salmo 42, quando o salmista conversa consigo mesmo: “Por que estás abatida, ó minha alma, e por que te perturbas em mim? Espera em Deus, pois ainda o louvarei na salvação da sua presença” (Sl 42.5). O contexto indica que o autor experimentava aflição espiritual e alguma crise em sua comunhão com Deus (vv.4,9; 43.2), por isso sua alma estava entristecida e suspirava: “A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo; quando entrarei e me apresentarei ante a face de Deus?” (Sl 42.2). O Salmo 84.2 também ilustra essa função da alma, assim como o Salmo 51, no qual Davi fala de sua tristeza e do anseio por um espírito reto, voluntário e renovado, o que devolveria alegria à integralidade de seu ser (Sl 51.7-12).
A alma abatida revela o conflito interno que o ser humano enfrenta quando a comunhão com Deus é afetada por circunstâncias difíceis, tentações ou períodos de silêncio espiritual. O salmista, ao interrogar sua própria alma no Salmo 42, expressa um sentimento de profunda saudade da presença divina e a angústia de quem se sente distante do altar. Esse diálogo interior mostra que a fé verdadeira não anula as emoções humanas, mas as submete à esperança em Deus. Mesmo em meio à dor, o salmista escolhe esperar no Senhor e confiar que o louvor voltaria a brotar de seus lábios. Essa atitude ensina que a fé não é ausência de sofrimento, mas firmeza em meio à adversidade.
O abatimento da alma é uma experiência comum até entre os servos mais fiéis, pois o homem é um ser emocional e sensível às pressões da vida.
Davi, ao compor o Salmo 51, reconhece que seu pecado o havia afastado da presença de Deus e suplica: “Torna a dar-me a alegria da tua salvação” (Sl 51.12). Ele entende que a restauração da alma depende do perdão divino e da renovação interior. O arrependimento sincero e a busca por um espírito reto revelam a disposição do crente em ser transformado. Essa restauração não ocorre apenas por palavras, mas por uma entrega completa, onde o coração quebrantado é o verdadeiro sacrifício que agrada a Deus (Sl 51.17).
Quando a alma está abatida, é comum que o inimigo tente semear dúvidas sobre o amor e a fidelidade do Senhor. Porém, a Palavra nos lembra que Deus está “perto dos que têm o coração quebrantado” (Sl 34.18). Ele não despreza o sofrimento do seu povo, mas o usa como meio de fortalecer a fé e aprofundar a dependência d’Ele. A alma aflita aprende, na dor, a buscar consolo nas promessas divinas. O apóstolo Paulo também enfrentou momentos de angústia, mas declarou que “ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o interior, contudo, se renova de dia em dia” (2Co 4.16). Essa renovação acontece quando a esperança é firmada na certeza de que o Senhor permanece fiel, mesmo quando as circunstâncias parecem contrárias.
II. A NATUREZA DA ALMA: IMATERIALIDADE E IMORTALIDADE
1. Distinção de substâncias.
O texto de Mateus 10.28 é um excelente fundamento para o estudo da alma como parte da natureza imaterial do ser humano. Em um só versículo estão profundas verdades espirituais reveladas por Jesus a respeito de nossa psiquê; algumas delas relacionadas a debates alimentados ao longo de toda a História, inclusive no contexto da Igreja. Em primeiro lugar, Jesus expõe a clara distinção de substâncias entre as partes material e imaterial do homem: uma tangível (o corpo, que pode perecer por ação humana), outra intangível (a alma, que não pode ser destruída pelo homem). Nesse ponto é importante observar que em vários textos das Escrituras a parte imaterial é representada ora pela alma, ora pelo espírito (Ec 12.7; Tg 2.26; Ap 6.9). Nesses casos as referências sempre abrangem ambas as substâncias devido à sua inseparabilidade.
Em Mateus 10.28, Jesus revela uma verdade essencial sobre a constituição do ser humano ao distinguir entre corpo e alma. Ele declara: “Não temais os que matam o corpo e não podem matar a alma; temei antes aquele que pode fazer perecer no inferno a alma e o corpo.” Essa afirmação estabelece a diferença entre o que é material e o que é imaterial no homem. O corpo é visível, sujeito à morte e à corrupção; já a alma pertence à esfera espiritual e não pode ser destruída por forças humanas. Cristo, ao apresentar essa distinção, não apenas confirma a existência de uma parte imortal no ser humano, mas também reforça a responsabilidade eterna que temos diante de Deus.
Essa diferenciação entre corpo e alma também se manifesta em outras passagens bíblicas. Em Eclesiastes 12.7, lemos que “o pó volte à terra, como o era, e o espírito volte a Deus, que o deu”.
A morte, portanto, não encerra a existência humana; ela separa o físico do espiritual. Tiago 2.26 reforça isso: “o corpo sem o espírito está morto”, mostrando que a vida terrena depende da união dessas duas dimensões. Em Apocalipse 6.9, João descreve ter visto “as almas dos que foram mortos por amor da palavra de Deus”, confirmando que a parte imaterial do homem continua consciente após a morte.
Portanto , ao destacar a distinção de substâncias, Jesus também nos alerta sobre as prioridades da vida. Muitos vivem preocupados apenas com o corpo, sua aparência ou bem-estar físico, esquecendo que a alma é o centro da existência e o que define o destino eterno. O corpo é apenas a morada temporária; a alma, porém, permanece para sempre. Por isso, o Senhor ensina que devemos temer a Deus, o único que tem autoridade sobre ambas as partes. Essa consciência leva o crente a buscar a santificação completa, como exorta Paulo: “E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo” (1Ts 5.23).
2. Imaterialidade e responsabilidade pessoal.
Ao tratar do perecimento da alma e do corpo no Inferno, Jesus refuta as concepções antropológicas materialistas existentes desde a Antiguidade. Em tempos modernos temos o marxismo, que prega que o homem se resume à matéria, ignorando a existência de uma alma consciente após a morte (Lc 16.19-31). Essa ideologia ateísta nega a pecaminosidade e a responsabilidade moral do indivíduo. Considera que o mal é estrutural; que a culpa é da sociedade; que as pessoas individualmente são vítimas de estruturas opressoras. Identificam pecados sociais, mas não individuais. Esse engano desconsidera a necessidade de arrependimento, conversão e salvação pessoal e mantém as almas de seus adeptos no caminho da perdição eterna (At 3.19; Jo 17.3). Toda ideologia que promete soluções absolutas para os problemas do homem por meio de doutrinas sociais, políticas ou econômicas incorre no mesmo erro (Pv 4.12,27; At 4.12).
Quando Jesus fala sobre o perecimento da alma e do corpo no inferno (Mt 10.28). Ele deixa claro que o ser humano possui uma dimensão imaterial e eterna, refutando toda forma de materialismo que reduz o homem à matéria.
Essa afirmação confronta antigas filosofias naturalistas e também as ideologias modernas, como o marxismo, que nega a existência da alma e rejeita qualquer responsabilidade moral diante de Deus. Para essa visão ateísta, o mal não é resultado do pecado pessoal, mas consequência de estruturas sociais injustas. Assim, o indivíduo é tratado apenas como produto do meio, isento de culpa e, portanto, sem necessidade de arrependimento ou salvação.
A Bíblia ensina que cada pessoa é moralmente responsável diante do Criador. Jesus ilustrou essa verdade na parábola do rico e Lázaro (Lc 16.19-31). Nela, Ele mostrou que a alma continua consciente após a morte e que há consequências eternas para as escolhas feitas nesta vida. O rico, mesmo em tormentos, reconheceu sua condição e lembrou-se de suas atitudes passadas. Isso confirma que a consciência e a responsabilidade pessoal permanecem além da morte. A Escritura declara: “A alma que pecar, essa morrerá” (Ez 18.4). Assim, o juízo de Deus é individual, não coletivo.
O problema do pecado não se resolve por reformas sociais ou econômicas, mas pela transformação interior operada pelo Espírito Santo. Somente o arrependimento genuíno e a fé em Cristo podem restaurar a comunhão do homem com Deus (At 3.19; Jo 17.3). Toda ideologia que promete redenção por meios humanos desvia o homem da verdade e o afasta do propósito divino. O pecado é uma realidade pessoal e universal (Rm 3.23), e o único remédio para ele é a graça salvadora de Cristo, que morreu para libertar o homem da condenação eterna (Rm 6.23; At 4.12).
Assim, reconhecer a imaterialidade da alma é também admitir a responsabilidade moral de cada indivíduo. Deus nos criou com consciência, razão e vontade para que possamos escolher entre o bem e o mal.
Cada decisão nesta vida reflete o estado do coração e determina o destino eterno. A mensagem de Jesus chama à sobriedade espiritual. Não basta cuidar do corpo ou buscar soluções humanas para os dilemas da existência; é preciso cuidar da alma, que viverá para sempre. Quem ignora essa verdade corre o risco de perder o que tem valor eterno.
3. Materialismo e teologia.
A visão materialista da natureza humana vai além das questões político-ideológicas. Afeta também a teologia, principalmente quanto à missão da Igreja, a ortopraxia, isto é, a prática correta. No campo católico, inspira a Teologia da Libertação. No protestantismo, a Teologia da Missão Integral. Ambas se alimentam de concepções socioeconômicas e políticas comuns ao marxismo, que, por sua vez, tem como fundamento o ideário materialista e crítico, que busca tirar Deus do cenário humano e instigar as lutas de classes. Toda negação da condição pecaminosa do homem é, no mínimo, um ateísmo prático, independentemente do viés que assuma (Lm 3.39; Tt 1.16). Algumas correntes teológicas contemporâneas reinterpretam as Escrituras com base em vertentes da teologia da libertação, e compartilham do mesmo campo de distorção e confusão espiritual (Lc 11.17; 1Co 14.33). Conflitam com a sã doutrina, que é essencial para a salvação da alma (1Tm 4.6,16; 2Tm 4.1-3).
O materialismo, ao reduzir o ser humano apenas à dimensão física e social, influencia não apenas a filosofia e a política, mas também a teologia.
Essa influência tem gerado distorções profundas na compreensão da missão da Igreja e no modo como a fé cristã deve ser vivida. Quando a teologia passa a adotar princípios materialistas, desloca o foco da redenção espiritual para questões meramente sociais e econômicas. Foi o que ocorreu, por exemplo, com a Teologia da Libertação, no contexto católico, e com a Teologia da Missão Integral, em alguns segmentos protestantes. Ambas, ainda que usem linguagem cristã, se baseiam em pressupostos marxistas — como a luta de classes e a ênfase na libertação terrena — e acabam negando a centralidade da cruz de Cristo.
O marxismo, como ideologia, nasce da negação de Deus e da crença de que o homem é produto do meio e pode alcançar plenitude apenas por transformações estruturais. Esse pensamento, quando incorporado à teologia, resulta em um “evangelho social”, que substitui a mensagem da salvação pela militância política. Assim, o pecado deixa de ser uma questão pessoal e espiritual para ser tratado como um problema coletivo, causado por desigualdades econômicas ou opressões sociais. Essa mudança desvia a Igreja de sua verdadeira missão: reconciliar o homem com Deus por meio de Jesus Cristo (2Co 5.18-20).
A Bíblia afirma claramente que o maior problema da humanidade não é a pobreza, a injustiça social ou a falta de recursos, mas o pecado que separa o homem do Criador (Is 59.2; Rm 3.23).
Ideologias que substituem a mensagem da salvação por projetos humanos, mesmo bem-intencionados, promovem um “ateísmo prático” (Lm 3.39; Tt 1.16). Ao negar a necessidade da regeneração espiritual, essas correntes colocam o homem no centro e retiram de Deus seu papel soberano de Redentor.
Além disso, quando a Igreja adota essa visão distorcida, sua ortopraxia — isto é, sua prática de fé — se torna desequilibrada. Em vez de proclamar o evangelho da graça, passa a promover agendas políticas e sociais. Embora a fé cristã deva inspirar compaixão e justiça, essas atitudes precisam fluir de um coração transformado pelo Espírito Santo, e não de ideologias humanas. Paulo advertiu que a confusão doutrinária sinaliza afastamento da verdade (1Co 14.33) e que apenas a sã doutrina conduz à salvação e à piedade (1Tm 4.16; 2Tm 4.3).
III. ALMA RENOVADA E SUBMISSA A DEUS
1. Edificação e saúde.
A estabilidade de nossa vida cristã e nosso destino eterno dependem de como cuidamos de nossa alma (Lc 12.13-21). A oração é um meio eficaz para nos livrar da ansiedade, um transtorno de dimensão global (Fp 4.6; 1Pe 5.7). Deus nos dá sua paz e protege nossas emoções e pensamentos (Fp 4.7); e nos guia no caminho de sua vontade (Cl 3.15). Nossa parte é alimentar nossa mente apenas com o que edifica (Fp 4.6-8). O que falamos?, O que ouvimos?, O que lemos?, O que vemos? Nossos hábitos diários determinam a saúde de nossa alma (Sl 1.1).
A vida cristã saudável não é construída de forma automática, mas exige disciplina espiritual e vigilância constante. Assim como o corpo precisa de alimento e descanso para manter-se firme, a alma necessita de comunhão com Deus para permanecer equilibrada e fortalecida. A edificação espiritual depende diretamente do que cultivamos em nossos pensamentos e emoções. Quando alimentamos a mente com a Palavra de Deus, criamos um ambiente interior propício para o Espírito Santo operar. Por outro lado, quando abrimos espaço para a ansiedade, o medo e o pecado, enfraquecemos nossa fé e comprometemos a saúde espiritual.
Jesus advertiu sobre o perigo de uma vida centrada nas preocupações materiais, mostrando que o verdadeiro valor da existência não está na abundância dos bens, mas na riqueza para com Deus (Lc 12.13-21).
A oração, portanto, torna-se um remédio essencial para a alma aflita. Ela não apenas nos aproxima do Senhor, mas também nos livra da ansiedade e do desespero que dominam o mundo moderno. O apóstolo Paulo nos encoraja a lançar diante de Deus todas as nossas inquietações, confiando que Ele cuidará de nós (Fp 4.6; 1Pe 5.7). Essa entrega gera uma paz que ultrapassa a compreensão humana, uma paz que guarda o coração e a mente contra as investidas do inimigo (Fp 4.7).
Contudo, essa paz divina se mantém apenas quando aprendemos a selecionar o que ocupa nossos pensamentos. O crente deve encher a mente com tudo o que é verdadeiro, justo, puro e digno de louvor (Fp 4.8). Isso significa cuidar do que ouvimos, do que falamos, do que lemos e do que assistimos, pois cada uma dessas práticas alimenta a alma de alguma forma. O salmista expressa esse princípio ao declarar que o homem bem-aventurado é aquele que evita o conselho dos ímpios e encontra prazer na lei do Senhor (Sl 1.1-2).
2. Purificação e renovação.
Ainda quanto aos cuidados da alma, a Bíblia nos adverte dos maus pensamentos (Mt 15.19), dos desejos impuros e perversos (Tg 1.14,15; Pv 21.10) e das intenções e inclinações malignas (1Pe 2.1; Nm 21.5). Devemos purificar e renovar nossa alma (1Pe 1.22; Ef 4.23,24), para que sejamos transformados e experimentemos a boa, agradável e perfeita vontade de Deus (Rm 12.2), vivendo em santidade e temor (Dt 4.15; Js 23.11-13).
A purificação e a renovação da alma são processos indispensáveis na vida cristã, pois revelam o quanto estamos dispostos a permitir que o Espírito Santo transforme nosso interior. A Bíblia ensina que o pecado começa no coração e se manifesta nas atitudes. Jesus afirmou que do coração procedem os maus pensamentos, homicídios, adultérios e toda sorte de impurezas (Mt 15.19). Portanto, o verdadeiro campo de batalha do cristão não é apenas o mundo exterior, mas a mente e o coração, onde nascem as intenções e os desejos que determinam o rumo da vida espiritual.
Quando permitimos que os desejos carnais e os pensamentos impuros dominem nossa mente, abrimos espaço para o pecado amadurecer e gerar morte espiritual (Tg 1.14,15). O coração humano, longe de Deus, tende ao mal e busca satisfazer paixões egoístas (Pv 21.10). Por isso, a Escritura nos exorta a abandonar toda maldade, engano e inveja, purificando a alma pela obediência à verdade (1Pe 1.22; 2.1). Essa purificação não é fruto do esforço humano isolado, mas do poder regenerador da Palavra de Deus, que nos limpa e nos torna aptos a viver uma nova vida.
A renovação da mente, mencionada pelo apóstolo Paulo, é essencial para que possamos discernir a boa, agradável e perfeita vontade de Deus (Rm 12.2).
Renovar significa substituir os padrões antigos por pensamentos moldados pela verdade divina. O Espírito Santo atua nesse processo, gerando em nós um novo modo de pensar e agir (Ef 4.23,24). Cada vez que submetemos nossos pensamentos e sentimentos à vontade de Deus, o velho homem perde força, e a nova natureza em Cristo se fortalece.
Além disso, a santidade deve acompanhar essa transformação. O Senhor ordenou ao seu povo que o servisse com temor e vigilância, cuidando do coração e afastando-se de tudo o que o afastasse da comunhão divina (Dt 4.15; Js 23.11-13). A pureza interior é o reflexo de um relacionamento vivo com Deus, sustentado por arrependimento sincero e pela constante busca por uma mente renovada. Assim, o cristão não apenas evita o pecado, mas passa a desejar o que é santo, justo e verdadeiro.
CONCLUSÃO
O cristão precisa viver em plena santificação, o que inclui a contínua rejeição de pensamentos, sentimentos e desejos pecaminosos, mantendo pura a sua alma (1Pe 1.22; 1Jo 1.7). Atribui-se a Lutero a frase que diz: “Não podemos impedir que os pássaros voem sobre as nossas cabeças, mas podemos impedir que eles façam ninhos sobre elas”.