Conhecer a Palavra

Subsidio Lição 11 : A intercessão de Jesus pelos discípulos

Subsidio Lição 11 : A intercessão de Jesus pelos discípulos | EBD Adulto

Subsidio Lição 11 : A intercessão de Jesus pelos discípulos | EBD Adulto | 2º Trimestre 2025 | Pastor Elianai Cabral

TEXTO ÁUREO

E a vida eterna é esta: que conheçam a ti só por único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem enviaste.(Jo 17.3).

VERDADE PRÁTICA

A oração que Jesus fez ao Pai em favor de si próprio, dos seus discípulos e da sua Igreja ressoa ainda nos dias atuais.

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE

João 17.1-3,11-17.

 

INTRODUÇÃO

Na presente lição, iremos explorar João 17. Este capítulo descreve a oração mais significativa que o nosso Senhor fez em benefício de si mesmo, ou seja, a sua glorificação, bem como a dos seus discípulos e dos cristãos que viriam a crer num futuro próximo. A oração sacerdotal de Jesus é uma importante lição sobre a unidade do povo de Deus no seu Reino e o propósito de promover o Evangelho de Jesus no mundo.

Palavra-Chave:

INTERCESSÃO

I. A ORAÇÃO DE JESUS E SUA GLORIFICAÇÃO

1. A oração de Jesus.

Entre todas as orações do Senhor documentadas nos Evangelhos, é indiscutível que foi João quem relatou, possivelmente, a mais elevada oração de Jesus (17.1-26). No início de João 17.1 está escrito: “Jesus falou essas coisas”. Essa frase remete ao discurso do Senhor sobre a vinda do Espírito como Consolador, conforme estudado anteriormente (Jo 16.13). Certamente o local onde o Senhor se encontrava era o mesmo em que partilhou a Última Ceia com seus discípulos. Em relação à oração de Jesus no capítulo 17, os estudiosos costumam se referir a ela como “A Oração Intercessória”, “A Oração Sacerdotal de Jesus” ou “A Oração da Consagração”. Nosso Senhor apresentou essa oração em, pelo menos, três partes: Ele orou por si mesmo (Jo 17.1-8), intercedeu pelos seus discípulos (Jo 17.9-19) e, também, fez uma oração pela Igreja futura (Jo 17.20-26).

A oração registrada em João 17 é, sem dúvidas, uma das mais profundas expressões do coração de Cristo. Diferente das muitas orações curtas que vemos nos Evangelhos, esta apresenta um conteúdo extenso, revelador e intimamente ligado à missão do Salvador. Conhecida como “Oração Sacerdotal”, ela revela a comunhão perfeita entre o Filho e o Pai e deixa ensinamentos preciosos para todos os cristãos.

Logo no início do capítulo, João nos apresenta o cenário: “Jesus falou assim, e levantando os olhos ao céu, disse…” (Jo 17.1).

Isso aconteceu pouco depois da ceia e das últimas instruções aos discípulos. Ao orar, Jesus não o faz apenas por si, mas também pelos que estavam ao seu lado e por aqueles que ainda viriam a crer. Trata-se de uma oração dividida em três partes distintas, porém interligadas por um mesmo propósito: glorificar ao Pai.

Primeiro, Jesus ora por si mesmo (Jo 17.1-8), declarando que chegou a hora de ser glorificado, não com vaidade, mas para que o Pai fosse glorificado nEle. Em seguida, intercede pelos seus discípulos (Jo 17.9-19), pedindo proteção, santificação e unidade. Por fim, Jesus amplia sua visão e ora pela Igreja futura, por todos aqueles que creriam por meio da pregação dos apóstolos (Jo 17.20-26), rogando ao Pai que todos sejam um, assim como Ele e o Pai são Um.

2. A oração de Jesus pela sua glorificação.

Na oração de Jesus pedindo por sua “glorificação” havia um significado espiritual mais profundo, que não se tratava de um ato egoísta. Como já abordamos, Ele estava plenamente ciente de seu ministério e, portanto, da finalidade de sua missão na Terra. Assim, em sua conversa direta com o Pai, Jesus declara que “é chegada a hora”, referindo-se ao momento em que o Pai o glorificaria por meio de seu sacrifício redentor no Calvário. Nosso Senhor expressa: “glorifica a teu Filho para que também o teu Filho te glorifique a ti” (Jo 17.1). Que tipo de glorificação seria essa? Mediante a sua morte, o mundo o conheceria e a vida eterna seria oferecida a todos que o aceitassem como Salvador de suas vidas. Glorificar alguém significa torná-lo conhecido. Jesus seria reconhecido como “o Filho de Deus, o Salvador do mundo” (Jo 17.3,4).

A oração de Jesus pela sua glorificação, não deve ser compreendida como um pedido de exaltação pessoal, como se Ele buscasse reconhecimento terreno ou vanglória. Pelo contrário, trata-se de um momento solene, de profunda submissão e consciência da missão redentora que estava prestes a ser consumada. Ao declarar: “Pai, é chegada a hora; glorifica a teu Filho, para que também o teu Filho te glorifique a ti” (Jo 17.1), Jesus estava se referindo à cruz, não como um fim trágico, mas como o ápice da obediência e do cumprimento do plano divino para a salvação da humanidade. Sua glorificação viria por meio do sofrimento, da entrega total e do amor sacrificial que revelaria ao mundo o caráter santo e justo de Deus.

Essa glorificação, portanto, não se limita à ressurreição e à exaltação de Cristo nos céus, embora essas etapas façam parte do plano.

A cruz em si é gloriosa, pois ali Deus se revela plenamente como justo e misericordioso, punindo o pecado, mas oferecendo perdão por meio do sacrifício vicário de seu Filho. O apóstolo Paulo, ao refletir sobre esse mistério, declara que Cristo, sendo em forma de Deus, se esvaziou e assumiu a forma de servo, tornando-se obediente até à morte, e morte de cruz. Por isso Deus o exaltou soberanamente (Fp 2.6-9). A obediência de Jesus foi o caminho para sua glorificação, e essa obediência revelou a glória do Pai.

Além disso, ao dizer “para que também o teu Filho te glorifique a ti”, Jesus demonstra que sua morte traria glória ao Pai ao revelar Seu amor, justiça, santidade e graça de forma incomparável. Em vez de buscar glória para si mesmo, Jesus desejava que, por meio da sua obediência, o mundo visse o verdadeiro caráter de Deus. Essa é a essência da oração: um clamor para que, através da redenção, os homens conhecessem a Deus e recebessem a vida eterna. Como Ele mesmo afirma: “E a vida eterna é esta: que conheçam a ti só, por único Deus verdadeiro, e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (Jo 17.3).

3. A mesma glória com o Pai.

No versículo 5 está escrito: “E, agora, glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse”. Essa referência à glória se relaciona à divindade do nosso Senhor como o Verbo Divino, antes da sua encarnação. Na realidade, o que Jesus solicita é a glorificação mútua entre o Filho e o Pai (v.5). Somente nosso Senhor, o Filho de Deus, poderia fazer tal pedido por essa glorificação, uma honra que Ele possuía “antes que o mundo existisse”. Essa declaração evidencia a divindade de Jesus, ao revelá-lo como um com o Pai (Jo 17.11,21,24). Assim, com base nessa igualdade com o Pai, o pecador que confessa e se arrepende de seus pecados recebe a vida eterna e conhece, pela fé, “o único Deus verdadeiro e a Jesus Cristo, a quem enviaste” (Jo 17.3).

Ao dizer: “E, agora, glorifica-me tu, ó Pai, junto de ti mesmo, com aquela glória que tinha contigo antes que o mundo existisse” (Jo 17.5), Jesus revela com clareza sua natureza divina e eterna. Esta não é uma simples expressão poética ou simbólica; trata-se de uma afirmação direta sobre sua preexistência e igualdade com o Pai. Antes mesmo da criação do mundo, o Filho já compartilhava da glória celestial, vivendo em perfeita comunhão com o Pai. A encarnação não anulou essa divindade, mas velou-a temporariamente, a fim de que o Verbo se tornasse carne e habitasse entre os homens (Jo 1.14), cumprindo assim o plano de redenção.

O pedido de Jesus não é uma reivindicação ilegítima de honra, mas a retomada da condição gloriosa que sempre foi sua por direito eterno.

Ao pedir para ser glorificado “junto de ti mesmo”, Ele não busca uma glória separada, inferior ou independente, mas a mesma glória que já possuía com o Pai na eternidade. Isso reforça a doutrina da Trindade, onde o Filho é coeterno, coigual e consubstancial com o Pai. O apóstolo João, em sua primeira epístola, reforça essa verdade ao afirmar que Jesus Cristo “é o verdadeiro Deus e a vida eterna” (1 Jo 5.20). Não se trata, portanto, de um homem pedindo para ser glorificado, mas do próprio Deus encarnado reivindicando a glória divina que lhe pertence.

Essa declaração de Jesus também tem implicações diretas para a fé cristã. Ao revelar sua divindade, Ele mostra que somente o Filho pode revelar plenamente o Pai. Somente Aquele que veio do céu e retornou para lá possui autoridade para dar a vida eterna (Jo 3.13). A salvação não é apenas um processo emocional ou filosófico, mas um encontro com o próprio Deus, que se fez homem para morrer pelos pecadores. Ao crer em Jesus, o ser humano não está aceitando apenas um mestre ou profeta, mas está reconhecendo o único que pode perdoar pecados, justificar o ímpio e reconciliar o homem com Deus (Rm 5.1).

II. A ORAÇÃO DE JESUS PELOS DISCÍPULOS

1. Intercessão pela proteção dos discípulos.

Nos versículos 4 a 8, exceto o versículo 5, Jesus ora como se estivesse apresentando um relato ao Pai sobre tudo o que realizou durante seu ministério na Terra. No versículo 6, Ele intercede por seus discípulos e pela unidade entre eles, uma vez que seriam os responsáveis por continuar a obra que Jesus havia iniciado. Para o Pai, o nosso Senhor se refere aos discípulos como “homens que do mundo me deste” (v.6). O Redentor revela que seus discípulos pertenciam ao Pai e que Este os entregou a Ele: “Eram teus, e tu mos deste, e guardaram a tua palavra” (Jo 17.6b). Ao longo de quase quatro anos, Jesus investiu nesses homens, que se mostraram fiéis, prontos para prosseguir com a missão de evangelização.

Na oração sacerdotal , Jesus demonstra um profundo cuidado com os seus discípulos, intercedendo ao Pai em favor daqueles que haviam recebido a Palavra e crido em sua missão. Nos versículos 4 a 8, Ele apresenta, de forma reverente, um relatório espiritual do ministério que desempenhou durante seu tempo na Terra. Não se trata de vanglória, mas de uma prestação de contas de alguém que cumpriu fielmente o propósito para o qual foi enviado. Ao dizer: “Eu glorifiquei-te na terra, tendo consumado a obra que me deste a fazer” (Jo 17.4), Jesus reconhece que sua missão estava chegando ao fim, e que os frutos de seu trabalho já estavam evidentes na vida dos discípulos.

A intercessão pela proteção dos discípulos, especialmente no versículo 6, é um testemunho da preocupação de Cristo com a continuidade da obra do Reino.

Ele se refere aos seus seguidores como “homens que do mundo me deste”. Isso mostra que, embora vivessem no mundo, eles pertenciam ao Pai e foram escolhidos por Ele para seguir o Filho. Jesus não os via apenas como companheiros de jornada, mas como um presente do Pai, confiados a Ele para serem preparados e enviados. Essa visão reforça o valor inestimável que cada discípulo tem para Deus, bem como a responsabilidade espiritual de quem os guia.

Ao afirmar que esses homens “guardaram a tua palavra”, Jesus reconhece que, apesar das limitações humanas e falhas que ainda cometeriam, eles haviam acolhido com sinceridade a mensagem do Evangelho. Essa fidelidade não consistia em perfeição, mas em disposição de coração e compromisso com a verdade revelada por Cristo. Jesus sabia que, após sua partida, esses discípulos enfrentariam perseguições, tentações e desafios espirituais profundos. Por isso, Ele intercede por sua proteção e unidade, pois sabia que a obra de evangelização do mundo dependeria diretamente da firmeza desses homens na fé.

A oração de Jesus, nesse contexto, também ensina que a missão da Igreja só pode ser cumprida se aqueles que lideram e ensinam estiverem verdadeiramente protegidos e sustentados pelo poder de Deus. A proteção que Cristo busca para os seus não é apenas contra perigos físicos, mas, sobretudo, contra o engano, a divisão e o desânimo. Em tempos de provações, a unidade dos discípulos seria essencial para que o mundo cresse na mensagem do Evangelho. Essa preocupação é retomada mais adiante na oração, quando Jesus clama para que todos os seus sejam um, como Ele e o Pai são um (Jo 17.21).

2. Os discípulos receberam a Palavra.

Apesar de, em certas ocasiões, os discípulos terem encontrado dificuldades para compreender completamente os ensinamentos de Jesus, as suas recordações foram reavivadas pelo Espírito Santo quando receberam o poder no dia de Pentecostes, permitindo-lhes assim entender e difundir o que aprenderam com o Mestre (At 2.14-36). No versículo 6, Jesus referiu-se ao Pai afirmando que os seus discípulos mantiveram a mensagem recebida: “E guardaram a tua Palavra”. Ao vivermos conforme a Palavra de Deus, aceitando e obedecendo aos ensinamentos de Cristo, podemos testemunhar o Evangelho com credibilidade.

Ao declarar em sua oração: “E guardaram a tua Palavra” (Jo 17.6), Jesus reconhece que seus discípulos haviam acolhido e permanecido fiéis à mensagem divina revelada através d’Ele. Esse reconhecimento, porém, não nega que os discípulos enfrentaram momentos de incompreensão, medo e até incredulidade durante o ministério terreno do Senhor. No entanto, o foco da oração é a sinceridade do coração deles e a disposição em aprender, seguir e obedecer. Guardar a Palavra não significa apenas conhecê-la intelectualmente, mas permitir que ela transforme a vida. Os discípulos demonstraram essa disposição ao deixarem tudo para seguir o Mestre (Mt 4.19-22) e ao continuarem com Ele mesmo diante das dificuldades.

É importante notar que, apesar das limitações humanas, Jesus os identifica como homens que receberam e guardaram a Palavra.

Isso revela o olhar gracioso do Senhor, que valoriza o esforço sincero e o compromisso interior mais do que a performance perfeita. O processo de aprendizado dos discípulos foi gradual, e muitas das verdades espirituais ensinadas por Jesus só seriam plenamente compreendidas após sua ressurreição e, especialmente, depois do derramamento do Espírito Santo no dia de Pentecostes (At 2.1-4). Foi nesse momento que a promessa do Consolador se cumpriu, e o Espírito reavivou as lembranças dos ensinos de Cristo, capacitando os discípulos a pregar com autoridade e clareza (Jo 14.26).

O sermão de Pedro registrado em Atos 2 é uma demonstração concreta dessa transformação. Um homem que anteriormente havia negado Jesus por medo agora se apresenta com ousadia diante de uma multidão, expondo as Escrituras, explicando o plano de salvação e convidando ao arrependimento. Essa mudança só foi possível porque a Palavra havia sido implantada em seu coração, e agora era ativada pelo poder do Espírito. A experiência dos discípulos mostra que guardar a Palavra é mais do que lembrar textos bíblicos; é permitir que ela molde a mente, corrija os caminhos e produza frutos que glorifiquem a Deus.

Além disso, o exemplo dos discípulos ensina que todo aquele que aceita e obedece à Palavra também é capacitado para testemunhar com autoridade. Não basta apenas conhecer as Escrituras; é necessário vivê-las. A verdadeira credibilidade do Evangelho se manifesta quando o nosso falar é respaldado por um viver coerente. Como disse o apóstolo Tiago, “sede cumpridores da palavra, e não somente ouvintes, enganando-vos com falsos discursos” (Tg 1.22). O testemunho cristão mais eficaz nasce da combinação entre conhecimento e prática, entre fé e obediência.

3. Protegidos do mundo.

O versículo 14 afirma: “Dei-lhes a tua palavra, e o mundo os odiou, porque não são do mundo, assim como eu não sou do mundo”. É importante prestar atenção ao termo “mundo”. Este pode referir-se ao “universo criado” (Jo 17.5) ou à humanidade (Jo 3.16). No entanto, aqui Jesus se refere ao sistema espiritual governado por Satanás (Jo 17.14). O apóstolo Paulo descreve esse “mundo” como um governo espiritual maligno (Ef 2.2). Por conseguinte, o nosso Senhor deseja que o Pai guarde os seus discípulos desse sistema mundano, que é incompatível com o Evangelho, sob a influência do “príncipe deste mundo” (Jo 12.31; 14.30; 16.11).

Vivemos em um tempo em que os valores do mundo estão cada vez mais distantes dos princípios do Evangelho. A afirmação de Jesus em João 17.14 — “Dei-lhes a tua palavra, e o mundo os odiou, porque não são do mundo, assim como eu não sou do mundo” — revela uma profunda verdade espiritual: os discípulos de Cristo não pertencem mais a este sistema mundano. Aqui, o termo “mundo” não se refere à criação de Deus ou à humanidade em geral, mas sim a um sistema de valores, pensamentos e comportamentos que se opõem diretamente à vontade de Deus. Trata-se de uma estrutura espiritual influenciada e governada por Satanás, como o apóstolo Paulo bem descreve em Efésios 2.2, ao mencionar “o príncipe das potestades do ar”.

Essa oposição entre o mundo e os discípulos de Jesus é inevitável. Quando alguém recebe a Palavra de Deus, passa a viver sob uma nova autoridade, a do Reino de Deus.

Isso naturalmente causa um contraste com o sistema mundano, resultando em perseguição, rejeição e até ódio. A luz de Cristo brilha nas trevas, e as trevas não a compreendem (Jo 1.5). O mundo não tolera a verdade que denuncia o pecado, e por isso odeia aqueles que foram transformados pela Palavra. No entanto, essa inimizade é uma marca de que pertencemos a Cristo. Jesus mesmo afirmou que, se fôssemos do mundo, o mundo nos amaria (Jo 15.19), mas justamente porque fomos tirados dele, somos alvo da sua hostilidade.

Diante disso, é necessário entender que essa separação não significa isolamento físico. Cristo não orou para que os discípulos fossem tirados do mundo, mas sim para que fossem guardados do mal (Jo 17.15). O desejo do Senhor é que estejamos no mundo, mas sem sermos moldados por ele. Isso exige vigilância espiritual e firmeza na fé. A Palavra de Deus é o nosso escudo contra as sutilezas do sistema mundano. O Salmo 119.11 declara: “Escondi a tua palavra no meu coração, para não pecar contra ti”. É por meio dela que somos santificados e fortalecidos para resistir às influências contrárias ao Reino de Deus.

A proteção do Pai não significa ausência de lutas, mas presença constante no meio delas. Jesus sabia que seus seguidores enfrentariam pressões, tentações e rejeições. Por isso intercedeu, pedindo ao Pai que os guardasse. O próprio apóstolo João, mais tarde, nos lembra que “o mundo inteiro jaz no maligno” (1 Jo 5.19), e, por isso, devemos andar com prudência, discernimento e fé. Nossa proteção está na comunhão com Deus, na obediência à Sua Palavra e na atuação do Espírito Santo em nós.

III. A ORAÇÃO DE JESUS PELOS QUE VIRIAM A CRER

1. Oração pela unidade da Igreja.

Nesta terceira parte de sua súplica, Jesus pediu pela unidade da Igreja. Mais do que uma unidade de natureza eclesiástica ou orgânica, Jesus intercedeu pela harmonia espiritual do seu povo. Nosso Senhor ansiava por uma união genuína, tal como a que existe entre Ele e o Pai. Essa foi a súplica do nosso Senhor: “para que todos sejam um, assim como tu, ó Pai, estás em mim, e eu em ti” (Jo 17.21).

Quando o Senhor intercede dizendo “para que todos sejam um, assim como tu, ó Pai, estás em mim, e eu em ti” (Jo 17.21), Ele revela o desejo de uma união que vai além da aparência ou da organização religiosa. Trata-se de uma unidade espiritual, baseada na comunhão com Deus, no amor mútuo e na verdade da Palavra. Essa unidade não é produzida por estruturas humanas, mas pelo agir do Espírito Santo na vida de cada crente.

A relação entre o Pai e o Filho é o modelo dessa unidade. Jesus e o Pai não são apenas aliados ou parceiros em um projeto divino; eles compartilham da mesma essência, propósito e vontade. Ao orar para que os seus discípulos também sejam um, Cristo está chamando a Igreja para viver em harmonia, tendo o mesmo pensamento, o mesmo amor e o mesmo espírito, conforme Paulo escreveu aos filipenses (Fp 2.2). A unidade verdadeira nasce de corações regenerados, que colocam os interesses do Reino acima das diferenças pessoais, culturais ou denominacionais.

Infelizmente, a história da Igreja tem sido marcada por divisões, disputas e desentendimentos. Muitas vezes, a vaidade, o orgulho e a busca por poder causam rupturas no Corpo de Cristo.

No entanto, a oração de Jesus nos lembra que a unidade é parte essencial do testemunho cristão. Ele mesmo afirmou: “para que o mundo creia que tu me enviaste” (Jo 17.21). Isso significa que a maneira como os crentes se relacionam entre si impacta diretamente a forma como o mundo percebe a mensagem do Evangelho. Quando há comunhão verdadeira, o mundo vê Cristo refletido na Igreja. Mas quando há contendas, escândalos e divisões, o nome de Deus é envergonhado entre os homens.

A unidade pela qual Jesus orou não elimina a diversidade, mas a valoriza. Deus deu dons diferentes aos membros do Corpo (1 Co 12.4-6), e essa variedade enriquece a Igreja. No entanto, todos devem agir com humildade, buscando sempre edificar uns aos outros. A comunhão dos santos é sustentada pelo amor, conforme João escreveu: “Aquele que ama a seu irmão está na luz” (1 Jo 2.10). Quando o amor de Cristo governa os relacionamentos dentro da Igreja, as diferenças não se tornam barreiras, mas oportunidades de crescimento mútuo.

2. Propósito da unidade.

O propósito da unidade espiritual da Igreja, conforme a intercessão do nosso Senhor, é que “o mundo creia que tu me enviaste” (v.21). Assim, a Igreja revela essa unidade espiritual com Cristo por pelo menos quatro motivos: (1) união essencial dos salvos como membros do Corpo de Cristo (1Co 12.12); (2) união essencial dos salvos promovida pelo conhecimento crescente sobre Jesus Cristo (2Pe 3.18); (3) união essencial dos salvos no desenvolvimento do Fruto do Espírito (Gl 5.22,23); (4) união essencial dos salvos manifestada na glória como filhos de Deus e detentores da vida eterna (Jo 17.22).

A unidade espiritual da Igreja não é apenas um ideal desejável ou um sinal de boa convivência entre os crentes; trata-se de um propósito divino que impacta diretamente o testemunho da Igreja diante do mundo. Quando Jesus orou para que todos fossem um, Ele acrescentou: “para que o mundo creia que tu me enviaste” (Jo 17.21). Isso mostra que a unidade da Igreja está diretamente ligada à credibilidade da mensagem do Evangelho. O mundo precisa ver nos cristãos algo que comprove a realidade de Cristo, e isso se torna evidente quando os crentes vivem em comunhão verdadeira, como membros de um só corpo, movidos pelo mesmo Espírito.

A primeira razão pela qual essa unidade é indispensável está no fato de que todos os salvos formam, essencialmente, um único Corpo: o Corpo de Cristo.

Paulo ensina que “assim como o corpo é um e tem muitos membros, e todos os membros, sendo muitos, são um só corpo, assim é Cristo também” (1Co 12.12). Essa união não é simbólica, mas real. Quando alguém nasce de novo, passa a fazer parte desse organismo espiritual. Logo, a unidade entre os crentes é natural para quem verdadeiramente está em Cristo. Negá-la ou desprezá-la é ir contra a própria natureza do Corpo que o Senhor formou.

Além disso, essa unidade se aprofunda à medida que os salvos crescem no conhecimento de Jesus Cristo. Pedro exorta: “crescei na graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2Pe 3.18). O crescimento espiritual não nos torna mais independentes, mas mais conscientes da nossa interdependência no Corpo. Quanto mais conhecemos a Cristo, mais aprendemos a amar, perdoar e servir uns aos outros. A maturidade espiritual, portanto, favorece a unidade. Não se trata de uniformidade, mas de harmonia fundamentada em verdades espirituais.

Outro aspecto fundamental dessa união é o desenvolvimento do Fruto do Espírito. Em Gálatas 5.22,23, o apóstolo Paulo destaca qualidades que promovem a verdadeira comunhão: amor, alegria, paz, longanimidade, benignidade, bondade, fé, mansidão e domínio próprio.

Esses frutos não são produzidos por esforço humano, mas pela ação do Espírito Santo na vida de quem anda em obediência. Uma comunidade de fé onde esses frutos são visíveis se torna um ambiente acolhedor, saudável e espiritualmente forte, capaz de testemunhar com poder a realidade do Reino de Deus.

Por fim, a unidade dos salvos se manifestará plenamente na glória, quando todos os filhos de Deus se revelarem como herdeiros da vida eterna. Jesus declarou: “E eu dei-lhes a glória que a mim me deste, para que sejam um, como nós somos um” (Jo 17.22). Essa glória compartilhada é um sinal de que, apesar das lutas e imperfeições presentes, Deus já está operando na vida dos que creem, preparando-os para a eternidade. A certeza da vida eterna une os crentes em um mesmo destino, uma mesma esperança e uma mesma alegria: estarem para sempre com o Senhor.

3. Oração por encorajamento à unidade.

Em João 17.21,22, o nosso Senhor roga para que os discípulos sejam incentivados a manter a unidade com Ele. A crença em Cristo como o único e suficiente Salvador é a principal razão da unidade cristã, de modo que os discípulos sejam encorajados a promover esse testemunho no mundo. Assim, sem essa unidade de fé, o testemunho perde completamente a sua credibilidade.

Nos versículos 21 e 22, Jesus intercede para que os seus seguidores permaneçam unidos, não por um interesse institucional ou por conveniência humana, mas por causa do testemunho que essa unidade carrega diante do mundo. Ao dizer: “para que todos sejam um […] para que o mundo creia que tu me enviaste”, Jesus mostra que a unidade entre os crentes é uma poderosa evidência da veracidade de sua missão redentora. Portanto, sua oração é também um encorajamento para que seus discípulos jamais abandonem esse compromisso.

A fé em Cristo como o único e suficiente Salvador é o fundamento dessa unidade. Quando todos creem em Jesus, compartilham da mesma verdade, vivem sob o mesmo Senhorio e possuem a mesma esperança.

Essa base comum é o que torna possível a união de pessoas tão diferentes entre si. Não se trata de uniformidade de opinião ou cultura, mas de um vínculo espiritual gerado pela salvação. É nesse terreno que floresce a verdadeira comunhão cristã. A unidade que Cristo deseja não depende de acordos externos, mas da transformação interna operada pelo Espírito Santo.

Contudo, essa unidade precisa ser constantemente incentivada. Jesus sabia que os discípulos enfrentariam perseguições, tentações e dificuldades que poderiam minar a comunhão entre eles. Sabia também que o inimigo tentaria semear divisões para enfraquecer o testemunho da Igreja. Por isso, Ele ora ao Pai para que essa unidade se mantenha viva, forte e visível. Quando os cristãos permanecem unidos em meio às provações, demonstram ao mundo que sua fé é autêntica, e que a mensagem que anunciam não é vazia, mas poderosa e transformadora.

A falta de unidade, por outro lado, enfraquece o testemunho da Igreja. Quando os crentes brigam entre si, quando as divisões dominam os relacionamentos, quando o ego fala mais alto do que o amor, o mundo desacredita da mensagem que pregamos. Afinal, como alguém poderá crer num Cristo que supostamente salva e transforma, se aqueles que dizem segui-lo vivem em constante conflito? A credibilidade do Evangelho está intimamente ligada à maneira como os cristãos vivem em comunhão. Por isso, o próprio apóstolo Paulo exortou: “Rogo-vos, irmãos, pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo, que digais todos uma mesma coisa, e que não haja entre vós dissensões; antes, sejais unidos em um mesmo pensamento e em um mesmo parecer” (1 Co 1.10).

A oração de Jesus deve ecoar em nossos corações como um chamado à responsabilidade. A unidade é tanto um dom de Deus quanto um dever do cristão.

Cabe a cada crente cultivar o amor, a humildade, o perdão e a paciência, pilares que sustentam uma comunhão verdadeira. Não se trata de ignorar as diferenças, mas de superá-las com maturidade e zelo pelas coisas do alto. O próprio Cristo deu-nos a glória que recebeu do Pai para que fôssemos um, indicando que já temos, em nós, todos os recursos espirituais para viver essa unidade (Jo 17.22).

Assim, a oração por encorajamento à unidade não é apenas uma lembrança do desejo de Jesus, mas uma convocação à ação. Devemos zelar por essa unidade com diligência, sabendo que ela glorifica a Deus, edifica a Igreja e torna o Evangelho visível e crível ao mundo. Que cada cristão, tocado por essa oração de Jesus, comprometa-se com a manutenção da unidade na fé, reconhecendo que ela é um testemunho vivo da presença de Deus entre os homens.

CONCLUSÃO

É extraordinário perceber que a oração sacerdotal de Jesus Cristo continua a ressoar nos dias atuais. Fazemos parte do Corpo de Cristo e esse privilégio deve manter-nos cientes da nossa função no Reino de Deus. Por isso, temos a responsabilidade de nos apresentar entusiasmados para testemunhar com coragem o Evangelho, revelando a obra que o Senhor Jesus realizou no Calvário.

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