Lição 13 : Assembleia de Jerusalém | EBD Adulto | 3º Trimestre 2025 | Comentarista : Pastor José Gonçalves
TEXTO ÁUREO
“Na verdade, pareceu bem ao Espírito Santo e a nós não vos impor mais encargo algum, senão estas coisas necessárias.” (At 15.28).
VERDADE PRÁTICA
Em sua essência, a Igreja é tanto um organismo quanto uma organização e, como tal, precisa seguir princípios e regras para funcionar plenamente.
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
INTRODUÇÃO
Com esta lição, terminamos mais um trimestre de estudos sobre a igreja de Jerusalém. Aqui veremos como a igreja agiu para resolver seus conflitos de natureza doutrinária. Um grupo composto por fariseus convertidos à fé insistia que os gentios convertidos deveriam guardar a Lei, especialmente o rito da circuncisão. No entendimento dos apóstolos, se isso fosse exigido, a salvação deixaria de ser totalmente pela graça, o que era inaceitável. Devido à dimensão da questão e à sua importância para o futuro da Igreja, os líderes se reuniram em Jerusalém para buscar uma solução para o problema. Lucas deixa claro que a decisão tomada pela Igreja naquele momento foi guiada pelo Espírito Santo. É isso que veremos agora.
Palavra-Chave:
ASSEMBLEIA
I. A QUESTÃO DOUTRINÁRIA
1. O relatório missionário.
A questão doutrinária que se tornou objeto de discussão no Concílio de Jerusalém, abordada no capítulo 15 de Atos dos Apóstolos, teve seu início na igreja de Antioquia. Ela começou quando Paulo e Barnabé apresentaram à igreja de Antioquia um relatório sobre a Primeira Viagem Missionária que haviam realizado. Nesse relatório, os missionários narraram o que Deus havia feito entre os gentios e como estes aceitaram a fé (At 14.27).
O relatório deixa implícito que a salvação dos gentios ocorreu inteiramente pela graça de Deus, sem que nenhuma exigência da Lei, como a circuncisão, fosse imposta a eles. Tanto Paulo quanto Barnabé viam a ação de Deus — manifestada por meio de milagres extraordinários entre os gentios — como um sinal de sua aprovação, demonstrando que nenhuma outra exigência, além da fé em Jesus, era necessária para a salvação. Em outras palavras, a salvação é um dom de Deus, concedido inteiramente por sua graça.
O relatório missionário de Paulo e Barnabé à igreja de Antioquia foi decisivo para a questão doutrinária que levaria ao Concílio de Jerusalém.
Ao retornarem da Primeira Viagem Missionária, os apóstolos reuniram a igreja e relataram como Deus abriu a porta da fé aos gentios (At 14.27). A notícia trouxe grande alegria, pois mostrava que a salvação não estava restrita aos judeus, mas alcançava todos os povos. O testemunho destacava a graça de Deus, não esforços humanos ou méritos da Lei.
O impacto do relatório foi profundo. Os missionários narraram milagres entre os gentios como sinais da aprovação divina. A obra do Espírito Santo confirmava que a fé em Cristo justificava o pecador, independentemente da circuncisão ou das tradições mosaicas. Essa verdade já havia sido afirmada por Pedro: “pela graça do Senhor Jesus Cristo, cremos que seremos salvos, como também eles” (At 15.11). A experiência de Paulo e Barnabé serviu como testemunho prático da doutrina defendida no concílio: a salvação é exclusivamente pela fé, sem acréscimos humanos.
Essa ideia se harmoniza com a mensagem de Paulo aos efésios: “Porque pela graça sois salvos, por meio da fé; e isto não vem de vós, é dom de Deus. Não vem das obras, para que ninguém se glorie” (Ef 2.8-9). Se a salvação dependesse de obras, não seria graça, mas recompensa. O evangelho pregado entre os gentios enfatizava que a redenção é um dom gratuito, fruto do amor de Deus em Cristo.
Assim, o relatório missionário não foi apenas uma prestação de contas, mas uma declaração de fé. Ele mostrou que Deus não faz acepção de pessoas (Rm 2.11) e que judeus e gentios precisam igualmente da graça salvadora. O testemunho reforçou a centralidade de Cristo no evangelho e preparou o debate em Jerusalém, confirmando que a salvação resulta da graça de Deus e não da observância da Lei.
2. O legalismo judaizante.
Lucas mostra que um grupo de judaizantes se sentiu incomodado com o relatório dos missionários (At 15.1). Esse grupo, composto por fariseus supostamente convertidos à fé, que haviam vindo de Jerusalém para Antioquia, se opôs ao ingresso de gentios na Igreja sem que estes, antes, cumprissem as exigências da Lei. Houve, portanto, um confronto entre esse grupo judaizante e os missionários Paulo e Barnabé. A questão tomou grandes proporções, correndo o risco até mesmo de dividir a igreja em Antioquia, o que exigia uma resposta rápida por parte da liderança. Contudo, por se tratar de um tema complexo e de amplo alcance, a igreja de Antioquia considerou adequado remeter a questão para Jerusalém, a igreja-mãe, onde o assunto seria analisado e amplamente discutido pelos apóstolos e presbíteros (At 15.2).
O legalismo judaizante surgiu como um dos maiores desafios enfrentados pela igreja primitiva.
Lucas registra que alguns homens, vindos da Judeia, começaram a ensinar que, sem a circuncisão, os gentios não poderiam ser salvos (At 15.1). Esses mestres pertenciam ao grupo dos fariseus que haviam crido em Jesus, mas ainda estavam profundamente apegados às tradições da Lei. Para eles, a fé em Cristo não bastava; era necessário acrescentar as obras da Lei como requisito para a salvação. Essa postura colocava em risco a essência do evangelho, pois diluía a graça divina ao condicionar a justificação a práticas externas.
A presença desse grupo em Antioquia causou grande perturbação. Paulo e Barnabé perceberam o perigo do ensino judaizante e o confrontaram, pois entendiam que a mensagem desses homens deturpava o evangelho de Cristo (Gl 1.6-7). A imposição da Lei, como a circuncisão, criava barreiras culturais desnecessárias e comprometia a verdade de que a salvação é dom gratuito de Deus. Paulo escreveria aos gálatas: “se a justiça provém da lei, segue-se que Cristo morreu debalde” (Gl 2.21). Aceitar o legalismo seria anular o sacrifício de Cristo na cruz.
O confronto em Antioquia ganhou proporções e ameaçou dividir a comunidade. A liderança local decidiu encaminhar a questão a Jerusalém, para que apóstolos e presbíteros tratassem o assunto de forma oficial (At 15.2). Isso revela a maturidade espiritual da igreja, que não permitiu que a controvérsia causasse ruptura e buscou a orientação da liderança estabelecida por Deus. A unidade do corpo de Cristo estava em jogo, e o concílio em Jerusalém seria crucial para preservar a verdade do evangelho.
II. O DEBATE DOUTRINÁRIO
1. Uma questão crucial.
A questão gentílica chegou a Jerusalém para ser tratada. Contudo, judaizantes, que ali se encontravam, deixaram claro que a igreja deveria circuncidar os gentios convertidos e ordenar que eles “guardassem a lei de Moisés” (At 15.5). No entendimento desse grupo, sem a observância da Lei, ninguém podia se salvar. Pedro é o primeiro a ver a gravidade da questão e percebe que ela não pode ser tratada de forma subjetiva. A questão deveria ser tratada com a objetividade que o caso exigia, e a experiência da salvação dos gentios em Cesareia, ocorrida anos antes, deveria servir de parâmetro (At 10.1-46). Pedro, então, evoca a experiência pentecostal gentílica como prova da aceitação deles por Deus: “E Deus, que conhece os corações, lhes deu testemunho, dando-lhes o Espírito Santo, assim como também a nós” (At 15.8).
A questão gentílica chegou a Jerusalém para ser resolvida e logo revelou sua grande importância para o futuro da igreja.
Alguns crentes vindos do grupo dos fariseus insistiam que era indispensável circuncidar os gentios e obrigá-los a guardar a lei de Moisés (At 15.5). Para eles, sem a observância da Lei, não haveria salvação. Consequentemente, essa posição colocava em xeque a suficiência do sacrifício de Cristo e criava um impasse que podia comprometer a unidade da comunidade cristã.
Diante disso, Pedro foi o primeiro a perceber a gravidade da questão. Ele entendeu que não poderia tratá-la de forma subjetiva ou secundária, pois envolvia o próprio coração do evangelho. Assim, em sua fala, trouxe à memória a experiência ocorrida em Cesareia, quando o Espírito Santo desceu sobre a casa de Cornélio (At 10.44-46). Naquele episódio, Deus mostrou claramente que aceitava os gentios pela fé, sem impor o jugo da Lei. Portanto, Pedro concluiu: “E Deus, que conhece os corações, lhes deu testemunho, dando-lhes o Espírito Santo, assim como também a nós” (At 15.8).
Com isso, a argumentação de Pedro destacou dois pontos fundamentais. Primeiro, Deus não faz acepção de pessoas (At 10.34). Segundo, a salvação chega pela graça e se confirma pelo Espírito Santo, sem depender de obras da Lei. Se a igreja impusesse aos gentios práticas como a circuncisão, colocaria sobre eles um fardo que nem mesmo os judeus conseguiram suportar (At 15.10).
2. A experiência do Pentecostes na fé dos gentios.
O derramamento do Espírito sobre os gentios, anos antes, em Cesareia, na casa de Cornélio (At 10), havia sido uma experiência objetiva, física e observável por todos os presentes ali (At 10.44-46; At 2.4). Pedro espera que seu argumento seja aceito da mesma forma que fora aceito, anos antes, pelos judeus que haviam questionado a salvação dos gentios de Cesareia. Convém lembrar que esse mesmo argumento de Pedro já havia sido usado pelo apóstolo Paulo por ocasião de seu debate com os crentes da Galácia. Da mesma forma, ali, Paulo deixou claro que o recebimento do Espírito era um fato observável e que todos, portanto, tinham consciência de que o haviam recebido (Gl 3.5).
A experiência do Pentecostes não se restringiu apenas aos judeus reunidos em Jerusalém no dia em que o Espírito Santo foi derramado pela primeira vez.
Deus estendeu essa mesma promessa também aos gentios, mostrando que não há acepção de pessoas diante d’Ele. Quando Pedro pregou na casa de Cornélio, o Espírito Santo desceu sobre todos os que ouviram a Palavra, e o sinal visível foi que começaram a falar em outras línguas e a glorificar a Deus. Esse acontecimento surpreendeu até mesmo os que haviam acompanhado Pedro, pois não esperavam que os gentios recebessem a mesma dádiva concedida no princípio (At 10.44-46). Assim, ficou evidente que a promessa de Joel, citada por Pedro em Atos 2, alcançava todas as nações, confirmando que o plano da salvação é universal.
Esse derramamento serviu como testemunho incontestável de que os gentios também faziam parte da Igreja de Cristo. Pedro afirmou mais tarde, em Jerusalém, que não poderia colocar nenhum impedimento àqueles que receberam o mesmo dom que eles haviam recebido no princípio (At 11.17).Esse argumento serviu como base sólida para defender a inclusão dos gentios, sem exigir deles a observância da lei cerimonial judaica. Paulo reforçou a mesma verdade aos gálatas, lembrando que o Espírito não se dá por obras da lei, mas pela fé na Palavra ouvida (Gl 3.2-5).Assim, tanto Pedro quanto Paulo usaram a experiência concreta do derramamento do Espírito como prova de que a fé em Cristo é o único requisito para a salvação.
3. A fundamentação profética da fé gentílica.
Enquanto Pedro recorreu à experiência do Pentecostes como sinal de validação da fé gentílica. Por outro lado, Tiago, o irmão do Senhor Jesus, recorre às profecias para fundamentar sua defesa da aceitação dos gentios na Igreja. Para ele, a inclusão dos gentios na igreja estava predita nos profetas: “E com isto concordam as palavras dos profetas” (At 15.15). A aceitação dos gentios na Igreja não era uma inovação sem respaldo nas Escrituras. Pelo contrário, Deus já havia mostrado aos antigos profetas que os gentios também fariam parte de seu povo. Esse era um favor divino, fruto de sua graça, e que nada mais precisava ser acrescentado.
A aceitação dos gentios na Igreja não foi uma decisão baseada em conveniências humanas, mas estava firmemente fundamentada nas Escrituras.
Quando Tiago falou no Concílio de Jerusalém, mostrou que aquilo não era novidade, mas cumprimento das profecias antigas. Ao citar que “com isto concordam as palavras dos profetas” (At 15.15), lembrou que os profetas já anunciavam a inclusão das nações no plano de Deus. Amós, por exemplo, declarou que, após a restauração do tabernáculo caído de Davi, o Senhor buscaria também as nações para serem chamadas pelo seu nome (Am 9.11-12). Isso deixava claro que os gentios seriam alcançados pela graça e integrados ao povo de Deus.
Além de Amós, outras passagens do Antigo Testamento confirmam essa verdade. Isaías profetizou que o Servo do Senhor seria “luz para os gentios” e que a salvação alcançaria os confins da terra (Is 49.6). O salmista também afirmou que todas as nações viriam adorar diante do Senhor (Sl 86.9). Essas profecias mostram que a inclusão dos gentios sempre fez parte do plano divino e não era mudança no propósito de Deus, mas cumprimento do que Ele já havia revelado.
Ao fundamentar sua defesa nas Escrituras, Tiago mostrou que a fé dos gentios não era inferior ou incompleta. Eles não precisavam cumprir a lei cerimonial judaica, pois o que os tornava parte do povo de Deus era a graça recebida pela fé em Cristo. Isso reforça a unidade da Igreja, formada por judeus e gentios, todos salvos pelo mesmo Senhor. Paulo também confirma isso em Romanos, ao afirmar que judeus e gentios estão debaixo do pecado, mas são justificados gratuitamente pela graça em Cristo Jesus (Rm 3.9,24).
III. A DECISÃO DA ASSEMBLEIA DE JERUSALÉM
1. O Espírito na Assembleia.
É digno de nota o papel atribuído ao Espírito Santo na tomada de decisões da Igreja: “[…] pareceu bem ao Espírito Santo e a nós” (At 15.28). O Espírito Santo não era apenas visto como uma doutrina na Igreja, mas como uma pessoa com participação ativa nela. Esse texto faz um paralelo com Atos 5.32, onde também se destaca a participação ativa do Espírito Santo na vida da Igreja: “E nós somos testemunhas acerca destas palavras, nós e o Espírito Santo, que Deus deu àqueles que lhe obedecem” (v.32).
A Igreja primitiva reconhecia a presença ativa do Espírito Santo em todas as suas decisões.
Quando os apóstolos e anciãos se reuniram em Jerusalém, declararam: “pareceu bem ao Espírito Santo e a nós” (At 15.28). Isso mostra que não conduziam a obra de Deus apenas com raciocínio humano, mas sob a direção do Consolador prometido por Jesus. A expressão demonstra que o Espírito Santo participava da vida comunitária e da orientação da Igreja, cumprindo a promessa de Cristo de guiar os discípulos em toda a verdade (Jo 16.13).
O episódio evidencia que a Igreja não via o Espírito como uma ideia abstrata ou doutrina teológica. Ele era reconhecido como pessoa divina, presente e atuante, orientando os passos da comunidade cristã. Assim como em Atos 5.32, quando Pedro declarou que eles eram testemunhas juntamente com o Espírito Santo, fica claro que a obra da Igreja não podia se separar da atuação do Espírito. Ele testifica da verdade, fortalece os crentes e confirma decisões tomadas em submissão à vontade de Deus.
Esse entendimento traz uma lição importante: a Igreja cumpre seu papel quando se submete à orientação do Espírito Santo. Decisões humanas podem falhar, mas quando a comunidade busca discernimento em oração e depende da direção divina, o Espírito confirma o que está em harmonia com a Palavra. Foi assim em Jerusalém, quando a inclusão dos gentios gerou debates. A solução não veio apenas de acordos humanos, mas da percepção de que o Espírito guiava a Igreja a reconhecer a graça de Deus também sobre os gentios.
2. A orientação do Espírito na Assembleia.
O texto de Atos 15.28 não nos diz como era feita a orientação do Espírito na primeira Igreja; contudo, a observação feita por Lucas, de que Judas e Silas “eram profetas” (At 15.32) e que eles fizeram parte da comissão que levou a carta com a decisão tomada pela Assembleia, indica que o Espírito Santo se manifestava na Igreja por meio de seus dons (cf. At 13.1-4). Isso explica por que as coisas funcionavam na primeira Igreja. Esse era o padrão da Igreja Primitiva e deve ser também o padrão na Igreja de hoje.
A declaração registrada em Atos 15.28 mostra que a Igreja primitiva tinha plena convicção de que suas decisões eram fruto da orientação do Espírito Santo.
Embora o texto não explique detalhadamente como essa orientação se manifestava, fica claro que o Espírito conduzia a assembleia pelos dons que Ele distribuía. Além disso, Judas e Silas eram identificados como profetas (At 15.32) e participaram diretamente da comunicação da decisão. Isso reforça que o Espírito Santo falava por meio de homens com autoridade espiritual. Do mesmo modo, em Atos 13.1-4, o Espírito separou Barnabé e Saulo para a obra missionária, mostrando que a direção divina era prática e objetiva, garantindo que a Igreja seguisse a vontade de Deus.
Portanto, esse padrão revela que a vida comunitária não dependia apenas da capacidade humana de organizar debates ou alcançar consensos. A ação sobrenatural do Espírito Santo orientava a congregação por meio de dons como profecia, palavra de sabedoria e discernimento. Assim, as decisões não eram apenas estratégicas, mas espirituais e alinhadas ao propósito eterno de Deus. Paulo reforça esse princípio em 1 Coríntios 12, ao afirmar que os dons são manifestações do Espírito distribuídas para a edificação do corpo de Cristo (1 Co 12.7).
Consequentemente, essa realidade nos desafia a compreender que a Igreja de hoje também deve buscar a mesma sensibilidade espiritual. Muitas vezes, confiamos apenas em planejamentos humanos e esquecemos que o verdadeiro guia da Igreja é o Espírito Santo. No entanto, quando os crentes se dedicam à oração, ao estudo das Escrituras e à abertura para os dons, a orientação divina se torna evidente. Foi assim que a Igreja Primitiva superou desafios, manteve a unidade e avançou na missão.
3. O parecer final da Assembleia.
Depois dos intensos debates, o parecer da Assembleia foi de que os gentios deveriam se abster “das coisas sacrificadas aos ídolos, do sangue, da carne sufocada e da fornicação” (At 15.29). Fica óbvio que a Igreja procurou resolver a questão mantendo-se rigorosamente fiel à doutrina da salvação pela graça, isto é, sem os elementos do legalismo judaico, mas evitando os extremos de rejeitar os irmãos judeus que também compartilhavam da mesma fé. O legalismo deveria ser rejeitado, os crentes judeus, não. Assim, ficou demonstrado que os gentios eram salvos pela graça, mas deveriam impor alguns limites à sua liberdade cristã, a fim de que o convívio com seus irmãos judeus não fosse conflituoso.
O parecer final da Assembleia de Jerusalém revela a sabedoria e o equilíbrio da Igreja primitiva ao lidar com questões delicadas de fé e convivência.
Ao determinar que os gentios se abstivessem “das coisas sacrificadas aos ídolos, do sangue, da carne sufocada e da fornicação” (At 15.29), a Igreja não impôs a lei mosaica como condição para a salvação. Pelo contrário, estabeleceu diretrizes práticas para preservar a unidade entre judeus e gentios. Dessa forma, a decisão mostra que a salvação é unicamente pela graça, como Cristo ensinou, e que a liberdade cristã deve ser exercida com responsabilidade e amor fraternal.
Além disso, a assembleia evitou dois extremos. De um lado, o legalismo, que colocaria regras humanas como pré-requisito para a fé; de outro, a completa independência, que poderia gerar conflitos com judeus recém-convertidos. Portanto, a orientação dada não restringia a fé. Ela buscava promover um convívio harmonioso e um testemunho coerente da Igreja diante do mundo. Paulo reforça essa perspectiva aos Romanos, alertando que a liberdade cristã deve ser guiada pelo amor, de modo que ninguém tropece pelo que considera permitido (Rm 14.13-15).
Consequentemente, a decisão da assembleia consolidou a inclusão dos gentios na Igreja e estabeleceu um princípio eterno de convivência entre crentes de diferentes contextos culturais e espirituais. A graça que salva não elimina o cuidado com o próximo; pelo contrário, exige sensibilidade e respeito. Essa postura ensina que a Igreja deve buscar a orientação do Espírito Santo e o consenso comunitário para resolver conflitos. Assim, a fé se preserva e a unidade do corpo de Cristo se mantém intacta. Em resumo, a decisão tomada em Jerusalém continua sendo um modelo de equilíbrio, sabedoria e amor que toda assembleia cristã deve seguir em suas deliberações.
CONCLUSÃO
A Igreja sempre será desafiada a enfrentar os problemas que surgem em seu meio. No capítulo 6 de Atos, vimos como ela resolveu um conflito de natureza social, provocado por reclamações de crentes helenistas (hebreus de fala grega). Aqui, o problema foi de natureza doutrinária: uma questão melindrosa que requeria muita habilidade por parte da liderança para ser resolvida. Graças ao parecer de uma liderança sábia e orientada pelo Espírito Santo, a Igreja tomou a decisão certa. A unidade da Igreja foi preservada e Deus foi glorificado.