“Coloque-se na Brecha”
Ezequiel 22:30 nos traz uma passagem poderosa e desafiadora: “Procurei entre eles um homem que erguesse o muro e se pusesse na brecha diante de mim e em favor desta terra para que eu não a destruísse, mas não encontrei nenhum.” Esta declaração nos chama a uma reflexão profunda sobre nosso papel como intercessores e guardiões espirituais em tempos de crise.
O Contexto Histórico
O profeta Ezequiel viveu aproximadamente 600 anos antes de Cristo e profetizou durante o cativeiro babilônico. Diferente de Jeremias, que profetizava em Jerusalém, Ezequiel falava ao povo de Judá e Israel no cativeiro. No capítulo 22, ele denuncia os pecados do povo de Israel, que estavam prestes a levar à destruição da cidade e ao exílio. A corrupção entre os profetas, sacerdotes e governantes havia atingido um nível intolerável para Deus.
Os profetas daquela época falavam em nome de Deus sem que Ele tivesse dito nada, os sacerdotes profanavam as coisas santas, e os governantes maltratavam o povo. Este cenário de opressão e injustiça levou ao caos e ao desespero, onde até mesmo o povo comum começou a se envolver em roubo e violência.
A Importância das Muralhas e das Brechas
As cidades antigas, como Jerusalém, construíam muralhas robustas para se proteger contra inimigos. Esses muros eram vitais para a segurança da cidade, e qualquer brecha representava uma vulnerabilidade crítica. Os sentinelas, ou atalaias, eram responsáveis por vigiar os muros, alertar sobre perigos iminentes e, mais importante, orar incessantemente pela proteção da cidade.
Em Isaías 62:6-7, lemos: “Sobre os teus muros, ó Jerusalém, pus guardas, que todo o dia e toda a noite jamais se calarão; ó vós, os que fazeis lembrar do Senhor, não haja silêncio em vós, e não lhe deis a Ele descanso até que estabeleça Jerusalém e a faça um louvor na terra.” Isso mostra que a função dos sentinelas era dupla: vigiar e orar.
A Brecha no Muro
Quando uma brecha surgia no muro, era crucial que alguém se colocasse ali para defendê-la. Nesse contexto, esta pessoa teria que estar pronta para enfrentar o inimigo, mesmo que isso significasse lutar às cegas, confiando na força e na proteção de Deus. A brecha, portanto, era um ponto de vulnerabilidade, e o sentinela que se colocava ali tornava-se a última linha de defesa.
Analogamente, na vida espiritual, somos chamados a interceder por nossas famílias, igrejas e nações. Por conseguinte, devemos interceder e lutar em oração, mesmo quando a situação parece desesperadora. Em Efésios 6:18, Paulo nos exorta: “Com toda oração e súplica, orando em todo tempo no Espírito e para isto vigiando com toda perseverança e súplica por todos os santos.”
Exemplos Bíblicos de Intercessão
Abraão e Sodoma
Em Gênesis 18, Deus revela a Abraão que destruirá Sodoma e Gomorra por causa de sua grande maldade. No entanto, sabendo que seu sobrinho Ló vivia em Sodoma, Abraão intercede insistentemente por misericórdia. Ele questiona a Deus se pouparia a cidade por causa de cinquenta, quarenta, trinta, vinte ou até dez justos. Assim, mesmo que Sodoma e Gomorra sejam eventualmente destruídas, Abraão oferece um poderoso exemplo de intercessão ao se colocar na brecha.
Moisés e o Bezerro de Ouro
Em Êxodo 32, após o pecado do bezerro de ouro, Deus está pronto para destruir Israel e começar uma nova nação a partir de Moisés. No entanto, Moisés intercede fervorosamente, lembrando a Deus de Suas promessas a Abraão, Isaque e Jacó. Moisés até oferece sua própria vida pela salvação do povo, dizendo: “Agora, pois, perdoa o seu pecado; se não, risca-me, peço-te, do teu livro que tens escrito” (Êxodo 32:32).
Ester e Mardoqueu
No livro de Ester, quando o decreto de destruição do povo judeu é assinado pelo rei Assuero a pedido de Hamã, Mardoqueu e Ester se colocam na brecha através de jejum e oração. Ester arrisca sua vida ao se aproximar do rei sem ser chamada, e sua intervenção resulta na salvação do povo judeu. Ester 4:16 registra sua famosa declaração: “Se perecer, pereci.”
Daniel e a Babilônia
Daniel é outro exemplo de alguém que se colocou na brecha. Durante o cativeiro babilônico, Daniel permaneceu fiel a Deus, mesmo quando isso significava enfrentar a morte. Em Daniel 6, quando proibiram a oração a qualquer deus ou homem que não fosse o rei, Daniel continuou a orar três vezes ao dia. Sua fidelidade e intercessão resultaram na sua salvação da cova dos leões e na glorificação de Deus perante toda a Babilônia.
A Responsabilidade dos Sentinelas Espirituais
Deus continua procurando por aqueles que estão dispostos a se colocar na brecha. Isso requer um coração disposto a interceder, a vigiar e a orar sem cessar. Como seguidores de Cristo, somos chamados a ser esses sentinelas espirituais.
1.Vigiar e Orar: Jesus nos instruiu em Mateus 26:41: “Vigiai e orai, para que não entreis em tentação; na verdade, o espírito está pronto, mas a carne é fraca.” A vigilância espiritual envolve estar atento aos ataques do inimigo e permanecer firme na oração.
2. Interceder por Outros: Em 1 Timóteo 2:1, Paulo nos aconselha: “Antes de tudo, pois, exorto que se façam súplicas, orações, intercessões e ações de graças por todos os homens.” A intercessão é um ministério essencial para a saúde espiritual da igreja e do mundo.
3. Ser Luz em Meio às Trevas: Jesus nos chamou para ser a luz do mundo (Mateus 5:14). Isso significa ser um exemplo de justiça, amor e verdade em um mundo cheio de escuridão e pecado.
4. Perseverar em Oração: Paulo nos exorta em Colossenses 4:2: “Perseverai na oração, vigiando com ações de graças.” A perseverança na oração é fundamental para nos mantermos firmes e fiéis.
5. Buscar a Santidade: Em 1 Pedro 1:16, lemos: “Sede santos, porque Eu sou santo.” Para sermos eficazes em nossa intercessão e vigilância, devemos buscar a santidade e viver de acordo com os padrões de Deus.
Aplicação Prática
Na Família
Como pais, filhos ou irmãos, somos chamados a interceder por nossos familiares. Devemos estar atentos às brechas que possam surgir em nossas casas – sejam elas falta de comunicação, desentendimentos ou influências negativas. Em Josué 24:15, Josué declara: “Eu e a minha casa serviremos ao Senhor.” Isso é um compromisso de vigiar e orar pela família.
Na Igreja
Na igreja, devemos interceder uns pelos outros e manter a unidade do corpo de Cristo. Tiago 5:16 nos instrui a “confessar as nossas culpas uns aos outros e a orar uns pelos outros, para que sejamos curados”. A oração feita por um justo pode muito em seus efeitos.” A intercessão e a oração pela igreja são vitais para sua saúde espiritual e crescimento.
Na Comunidade e na Nação
Como cidadãos, temos a responsabilidade de orar por nossas comunidades e nações. Em 2 Crônicas 7:14, Deus promete: “Se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a minha face, e se converter dos seus maus caminhos, então eu ouvirei dos céus, e perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra.” A intercessão pode trazer cura e restauração para a nossa nação.
Conclusão
Colocar-se na brecha é um chamado divino para cada cristão. É um convite para se levantar em oração, intercessão e vigilância. Quando nos colocamos na brecha, não apenas protegemos aqueles ao nosso redor, mas também participamos ativamente do plano de Deus para trazer cura, restauração e salvação ao mundo.
Vamos nos comprometer a ser esses sentinelas espirituais. Que possamos responder ao chamado de Deus com um coração disposto, prontamente dizendo: “Eis-me aqui, envia-me a mim” (Isaías 6:8). Através de nossa oração e intercessão, podemos fazer a diferença, restaurando os muros espirituais e protegendo aqueles que amamos.
Que o Espírito Santo nos capacite a sermos fiéis em nosso chamado !