Lição 12: O caráter missionário da igreja de Jerusalém | EBD Adulto | 3º Trimestre 2025 | Comentarista : Pastor José Gonçalves
TEXTO ÁUREO
“E havia entre eles alguns varões de Chipre e de Cirene, os quais, entrando em Antioquia, falaram aos gregos, anunciando o Senhor Jesus.” (At 11.20).
VERDADE PRÁTICA
Faz parte da missão da Igreja a evangelização de povos não alcançados.
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
INTRODUÇÃO
Como o evangelho alcançou Antioquia, uma importante cidade da Síria dentro do Império Romano? Conhecer esse fato é relevante porque, pela primeira vez, cristãos de Jerusalém levam a mensagem da cruz aos gentios fora das fronteiras de Israel. Com o ingresso do Evangelho na cidade de Antioquia, a igreja dava seu primeiro salto na missão transcultural. Nesta lição, estudaremos sobre como o “Ide” de Jesus é levado a sério por um grupo de cristãos refugiados, vítimas da perseguição que sobreviera a Estêvão em Jerusalém. Esses crentes, mesmo sendo leigos, possuíam uma forte consciência missionária. E, quando perseguidos, não escondiam sua fé, mas a compartilhavam apontando sempre para a cruz de Cristo. Esse é um belo exemplo de fé cristã que deve, não somente nos inspirar, mas, sobretudo, nos levar a agir como eles.
Palavra-Chave:
MISSÃO
I. UMA IGREJA COM CONSCIÊNCIA MISSIONÁRIA
1. O Evangelho para além da fronteira de Israel.
Lucas abre essa seção de seu livro fazendo referência aos cristãos, “os que foram dispersos pela perseguição que sucedeu por causa de Estêvão caminharam até à Fenícia, Chipre e Antioquia” (At 11.19). Observamos que essa passagem bíblica faz um paralelo com Atos 8.1-4 onde narra o início da perseguição em Jerusalém que gerou a dispersão cristã. Assim como Filipe, que em razão da perseguição levou o Evangelho à cidade de Samaria, da mesma forma esses crentes, que também faziam parte desse grupo de cristãos perseguidos, levaram o Evangelho para além da fronteira de Israel.
A perseguição que se levantou contra a igreja em Jerusalém após a morte de Estêvão não conseguiu sufocar a fé cristã; pelo contrário, contribuiu para a expansão do Evangelho. Aqueles que foram dispersos não se calaram diante do medo, mas aproveitaram as novas circunstâncias para anunciar a Cristo em terras distantes, como a Fenícia, Chipre e Antioquia (At 11.19). O mesmo Espírito que impulsionou Filipe a pregar em Samaria (At 8.4-5) também acompanhava os demais discípulos, mostrando que o plano de Deus sempre esteve além das fronteiras de Israel. A promessa de Jesus em Atos 1.8 começava a se cumprir de forma ainda mais evidente: o testemunho deveria alcançar não apenas Jerusalém, mas também a Judeia, Samaria e até os confins da terra.
Esse movimento missionário revela que a perseguição não limita a obra de Deus, mas frequentemente a impulsiona.
O próprio José, no Antigo Testamento, reconheceu que o mal planejado contra ele serviu para preservação da vida de muitos (Gn 50.20). Da mesma forma, o que parecia derrota para a igreja primitiva transformou-se em oportunidade para que o Evangelho alcançasse povos diferentes. O Senhor, em sua soberania, usa até mesmo as circunstâncias mais adversas para cumprir seus propósitos eternos.
Outro ponto importante é que essa expansão não foi restrita a líderes de destaque, mas envolveu crentes comuns que, cheios de fé, falavam de Cristo por onde passavam. Isso demonstra que a responsabilidade missionária não está apenas sobre apóstolos ou pregadores reconhecidos, mas sobre todos os que receberam a salvação. O apóstolo Paulo reforça essa verdade ao escrever que “a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus” (Rm 10.17). Se ninguém pregar, ninguém poderá crer, e por isso cada discípulo é chamado a ser instrumento para a propagação da mensagem.
2. Cristãos dispersados, mas conscientes de sua missão.
Esses cristãos dispersados, após fugirem de uma perseguição feroz, não esconderam a sua fé. Aonde chegavam, anunciavam a Palavra de Deus (At 11.19,20). Foi assim que eles deram testemunho do Evangelho na Fenícia, Chipre e Antioquia. O que vemos são cristãos conscientes da missão de testemunhar de sua fé onde quer que estivessem. Eles haviam sido comissionados para isso (Mt 28.19; At 1.8). Somente cristãos participantes de uma igreja consciente de sua tarefa missionária age dessa forma. Eles não perdem o foco: anunciam o Senhor Jesus em qualquer tempo, lugar e circunstância.
Os cristãos que foram obrigados a deixar Jerusalém por causa da perseguição não permitiram que o medo apagasse a chama da fé. Pelo contrário, mantiveram a consciência de sua responsabilidade diante de Deus e continuaram a anunciar a salvação em Cristo. Onde chegavam, a Palavra era proclamada, como em Fenícia, Chipre e Antioquia (At 11.19-20). O compromisso desses irmãos não estava condicionado à segurança ou ao conforto, mas ao chamado do Senhor. Eles sabiam que a missão de pregar o Evangelho não era uma escolha opcional, mas uma ordem direta de Jesus: “Ide, portanto, e fazei discípulos de todas as nações” (Mt 28.19).
Essa consciência missionária não se restringia aos apóstolos ou aos líderes mais influentes, mas alcançava todo o corpo de Cristo.
Os discípulos entendiam que ser testemunha de Jesus significava anunciar sua mensagem em qualquer lugar e circunstância, cumprindo Atos 1.8. Mesmo sem púlpito, sem templos organizados e sem estruturas religiosas, eles aproveitavam cada oportunidade para revelar Cristo às pessoas. Essa atitude mostra que a missão não depende de condições favoráveis, mas de um coração comprometido com o Senhor.
O exemplo desses cristãos evidencia que a verdadeira igreja é aquela que entende sua vocação missionária. Quando a comunidade de fé mantém o foco em sua tarefa principal, nada pode impedir a propagação da mensagem. O apóstolo Paulo afirmou: “Ai de mim se não anunciar o evangelho” (1 Co 9.16). Essa declaração resume o senso de urgência que deve acompanhar cada discípulo de Cristo. Não se trata de pregar apenas quando tudo está bem, mas de cumprir a missão em meio a pressões, oposições e até perseguições.
3. Cristãos leigos, mas capacitados pelo Espírito.
Lucas destaca que dentre esses cristãos havia “alguns” que levaram o Evangelho para Antioquia, capital da Síria, uma cidade cosmopolita e uma das três cidades mais importantes do Império Romano (At 11.20). O texto deixa claro que foram esses cristãos “comuns” os fundadores da igreja de Antioquia, uma das mais relevantes e importantes do Novo Testamento (At 13.1-4). Eram cristãos anônimos e leigos. Eles não são contados entre os apóstolos, diáconos ou presbíteros. Contudo, eles foram usados por Deus para fundar aquele trabalho e foram bem-sucedidos porque “a mão do Senhor era com eles” (At 11.21), conforme Lucas destaca. Esse era o segredo que fez toda a diferença. O que fica em destaque, portanto, não era o ofício ou o cargo, mas a capacitação do Senhor. Os apóstolos eram extraordinários e os profetas excepcionais somente porque sobre eles também estava a mão do Senhor.
O relato de Lucas em Atos evidencia que a expansão da igreja não ficou restrita a apóstolos ou líderes oficialmente reconhecidos.
Homens e mulheres simples, sem títulos de destaque, foram os responsáveis por levar o Evangelho a Antioquia, uma das cidades mais influentes do mundo antigo (At 11.20). Aqueles cristãos anônimos, identificados apenas como “alguns”, fundaram uma das comunidades mais relevantes do Novo Testamento, que mais tarde se tornaria referência missionária (At 13.1-4). Isso demonstra que a obra de Deus não depende de status ou posição, mas da capacitação concedida pelo Espírito Santo.
A narrativa deixa claro que o segredo do sucesso deles estava na presença divina: “a mão do Senhor era com eles” (At 11.21). Esse detalhe revela que a eficácia do testemunho não vem da habilidade humana, mas do poder de Deus que opera através de vasos disponíveis. Foi assim com Moisés, que se via incapaz de falar diante do faraó, mas recebeu a promessa de que o Senhor estaria com sua boca (Êx 4.12). Foi assim também com Gideão, homem de origem simples, que só venceu os midianitas porque o Espírito do Senhor se apoderou dele (Jz 6.34). A capacitação do Espírito transforma pessoas comuns em instrumentos extraordinários.
Esses discípulos nos ensinam que todos os crentes, independentemente de cargos ou funções eclesiásticas, são chamados a testemunhar de Cristo.
Paulo reforça essa verdade quando declara que “a manifestação do Espírito é dada a cada um para o que for útil” (1 Co 12.7). Não há crente sem função no corpo de Cristo; cada um, revestido pelo Espírito, é útil para a edificação da igreja e para a expansão do Reino. A obra missionária da igreja de Antioquia começou com leigos que compreenderam essa realidade e se colocaram à disposição de Deus.
Portanto, o destaque não deve recair sobre os títulos ou posições, mas sobre a capacitação divina que repousa sobre aqueles que se dispõem a obedecer. Quando a mão do Senhor está sobre a vida de alguém, aquilo que parece pequeno ganha dimensões eternas. A igreja precisa reconhecer que o mesmo Espírito que atuou em Antioquia continua agindo hoje, capacitando cristãos comuns a realizarem obras grandiosas para a glória de Deus.
II. UMA IGREJA COM VISÃO TRANSCULTURAL
1. A cultura grega (helênica).
A Bíblia nos conta que alguns cristãos que tinham sido espalhados pelo mundo chegaram a “Antioquia, falaram aos gregos” (At 11.20). Essa expressão, “falaram aos gregos”, é muito importante. De acordo com estudiosos, ela explica que esse foi o primeiro momento em que cristãos judeus falaram de Jesus para pessoas que não eram judias, adoravam outros deuses e não seguiam o Judaísmo. Isso mostra que a igreja começou a levar a mensagem de Jesus para além das fronteiras da Palestina, chegando a um mundo totalmente diferente, onde as pessoas não conheciam a fé judaica. Ou seja, não eram judeus que falavam grego pregando para outros judeus da mesma cultura, mas cristãos judeus que falavam grego levando o Evangelho a pessoas que não tinham nenhuma ligação com o Judaísmo. Dessa forma, o que Jesus havia ordenado — pregar o Evangelho a “toda criatura” (Mc 16.15) — começou a se cumprir.
O registro de Atos 11.20 marca um momento decisivo na história da igreja: pela primeira vez, cristãos judeus compartilharam o Evangelho com pessoas de origem totalmente diferente, os chamados “gregos”.
Esses homens não possuíam vínculo algum com a tradição judaica, não frequentavam as sinagogas e estavam imersos em uma cultura moldada pela filosofia, pela arte e pela religião politeísta do mundo helênico. Esse passo missionário representou uma verdadeira quebra de barreiras, pois até então a mensagem de Jesus havia sido pregada principalmente a judeus ou a prosélitos ligados ao Judaísmo.
A decisão de anunciar Cristo a esse público evidencia a amplitude do plano divino. O Senhor não enviou Seu Filho apenas para um povo específico, mas para oferecer salvação a toda humanidade. Esse avanço em Antioquia confirmou a ordem de Jesus: “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura” (Mc 16.15). O que antes parecia impossível começou a se realizar de forma prática. A igreja, conduzida pelo Espírito Santo, entendeu que a mensagem do Evangelho não deveria ficar restrita a fronteiras geográficas, étnicas ou culturais.
A chegada da Palavra ao ambiente grego também demonstra a capacidade do Evangelho de dialogar com diferentes contextos. O apóstolo Paulo, mais tarde, em Atenas, mostrou isso ao pregar no Areópago e citar até mesmo poetas locais (At 17.28), revelando que a mensagem de Cristo pode ser anunciada de maneira compreensível em qualquer cultura. O Evangelho não nega a identidade dos povos, mas transforma suas realidades, apontando para o único Deus verdadeiro.
2. Contextualizando a mensagem.
Podemos ver aqui um exemplo de como os primeiros cristãos adaptavam a mensagem ao contexto em que estavam. Lucas nos conta que eles “anunciavam o evangelho do Senhor Jesus” (At 11.20). O texto é curto e direto, mas esses cristãos estavam pregando para pessoas que não eram judias. Isso significa dizer que eles não podiam simplesmente usar o Antigo Testamento para provar que Jesus era o Messias prometido, porque isso não faria sentido para aquele público. Diferente dos judeus e samaritanos, que já esperavam um Messias (At 2.36; 5.42; 8.5; 9.22), os gentios não tinham essa mesma expectativa.
Além disso, esses cristãos também não mencionam costumes judaicos, como a circuncisão, que Estêvão citou em seu discurso (At 7.51), porque isso não fazia parte da cultura dos gentios. Em vez de enfatizar que Jesus era o Messias, eles destacavam que Ele é o Senhor. Ou seja, estavam dizendo que os pagãos precisavam deixar seus falsos deuses e se voltar para o único e verdadeiro Senhor (At 14.15; 26.18,20). Dessa forma, sem comprometer a verdade da mensagem, o Evangelho foi se espalhando e alcançando diferentes culturas.
O relato de Atos 11.20 mostra que os primeiros cristãos não apenas pregavam o Evangelho, mas sabiam como comunicar a mensagem de forma clara para o público a quem se dirigiam.
Ao anunciarem que Jesus era o Senhor, eles não estavam tentando convencer os gregos de que Ele era o Messias esperado por Israel, pois tal conceito não fazia sentido para quem não conhecia as Escrituras judaicas nem compartilhava da mesma expectativa messiânica. Em vez disso, apresentaram Cristo como o verdadeiro Senhor, superior a todos os deuses que os gentios adoravam, chamando-os a abandonar a idolatria e a se voltar para o Deus vivo (At 14.15).
Essa postura mostra que contextualizar a mensagem não significa adulterar a verdade, mas transmiti-la de modo que seja compreensível e relevante para quem ouve. Paulo exemplificou isso em suas viagens missionárias: aos judeus, falava como judeu, usando as Escrituras para provar que Jesus era o Cristo; já entre os gentios, destacava a soberania de Deus e a ressurreição de Cristo, como fez em Atenas ao apresentar o “Deus desconhecido” como o Criador de todas as coisas (At 17.23-31). Essa estratégia não era adaptação vazia, mas uma forma de tornar a mensagem acessível, sem comprometer sua essência.
O Evangelho, portanto, se mostra capaz de dialogar com diferentes culturas, chamando cada povo a reconhecer o senhorio de Cristo. Não se tratava de impor tradições judaicas, como a circuncisão ou regras cerimoniais, mas de proclamar a centralidade de Jesus como único Salvador. Isso evidencia que a salvação não está condicionada a práticas externas, mas à fé naquele que é Senhor sobre todos (Rm 10.12-13).
III. UMA IGREJA QUE FORMA DISCÍPULOS
1. A base do discipulado.
Ao serem informados de que o Evangelho havia chegado a Antioquia (At 11.22), a partir de Jerusalém, os apóstolos enviaram Barnabé para lá. Chegando ali, Barnabé viu uma igreja viva e cheia da graça de Deus (At 11.23). Como um homem de bem e cheio do Espírito Santo, Barnabé os encorajou na fé (At 11.24). Contudo, logo se percebeu que aquela igreja precisava de mais instrução, ou seja, precisava ser discipulada. Com esse propósito, Barnabé foi em busca de Saulo para que o auxiliasse nesta missão. E assim foi feito: “E sucedeu que todo um ano se reuniram naquela igreja e ensinaram muita gente” (At 11.26). Esse episódio nos mostra que não basta ganhar almas, é preciso ensiná-las. Sem o ensino, a igreja não cresce em graça e conhecimento. O crescimento saudável só é possível por meio da obra da evangelização e do discipulado.
O envio de Barnabé a Antioquia mostra a preocupação da igreja de Jerusalém com a maturidade espiritual dos novos convertidos.
Ao chegar, Barnabé reconheceu a graça de Deus operando naquele lugar, mas também percebeu que a obra precisava ser consolidada por meio do ensino. Por essa razão buscou Saulo, reconhecendo que o discipulado era essencial para que aqueles irmãos crescessem na fé (At 11.23-26). Essa atitude revela um princípio fundamental: a evangelização abre a porta da salvação, mas é o discipulado que fortalece os passos do novo crente no caminho do Senhor.
A própria ordem de Jesus em Mateus 28.19-20 deixa isso evidente. O Mestre não apenas disse para fazer discípulos, mas também ordenou que fossem ensinados a guardar todas as coisas que Ele havia mandado. Isso significa que a missão da igreja não se completa quando alguém aceita a Cristo; é preciso instruir, acompanhar e orientar, para que a fé seja enraizada e produza frutos permanentes. A experiência em Antioquia ilustra esse processo: não bastava uma multidão convertida, era necessário um povo instruído na Palavra.
Esse cuidado de Barnabé e Saulo demonstra que o discipulado não é um detalhe secundário, mas a base do crescimento cristão. O apóstolo Pedro reforça essa verdade ao escrever: “Antes, crescei na graça e conhecimento de nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo” (2 Pe 3.18). Sem ensino sólido, a fé corre o risco de se tornar superficial e vulnerável a enganos. Já quando há discipulado, os crentes desenvolvem firmeza, maturidade espiritual e capacidade de testemunhar com entendimento.
2. Denominados de “cristãos”.
Os cristãos de Jerusalém haviam sido chamados na igreja de “irmãos” (At 1.16); “crentes” (At 2.44); “discípulos” (At 6.1) e “santos” (At 9.13). Também passaram a ser identificados tanto pelos de dentro da igreja como pelos de fora dela como aqueles que eram do “Caminho” (At 9.2; 19.9,23; 22.4; 24.14,22). Agora em Antioquia são chamados de “cristãos” (At 11.26). O termo “cristãos” tem o sentido de “pessoas de Cristo”.
O título “cristãos”, dado pela primeira vez em Antioquia, representa um marco na identidade do povo de Deus. Até então, os seguidores de Jesus eram conhecidos por diversos nomes, como “irmãos”, “crentes”, “discípulos”, “santos” e até como os do “Caminho”. Cada uma dessas expressões ressaltava um aspecto importante da fé: a comunhão fraternal, a confiança em Cristo, a condição de aprendizes, a santidade e a nova direção de vida. No entanto, em Antioquia surge um nome que sintetiza a essência de tudo isso: “cristãos” (At 11.26), ou seja, aqueles que pertencem a Cristo.
Esse novo título não nasceu da iniciativa dos próprios discípulos, mas foi atribuído por pessoas de fora, que observavam a forma de vida dos seguidores de Jesus.
A conduta deles, marcada pela fé, amor e obediência ao Senhor, era tão visível que os habitantes de Antioquia não encontraram termo mais apropriado para descrevê-los. De maneira prática, eles se tornaram uma extensão de Cristo na Terra. Isso cumpre o ensino de Jesus em Mateus 5.16: “Assim resplandeça a vossa luz diante dos homens, para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem a vosso Pai, que está nos céus”.
O nome “cristãos” carrega, portanto, um profundo significado. Ele não é apenas uma designação religiosa, mas a declaração de pertencimento. O apóstolo Paulo reforça essa ideia ao afirmar: “E, se sois de Cristo, então sois descendência de Abraão, e herdeiros conforme a promessa” (Gl 3.29). Ser cristão não é apenas seguir ensinamentos morais ou adotar práticas religiosas, mas viver em união com Cristo, refletindo Seu caráter no mundo.
3. A identidade cristã.
O que realmente define um cristão não é apenas um nome ou um rótulo, mas sim sua vida, sua fé e suas atitudes. Embora alguns estudiosos acreditem que o termo “cristão” tenha sido usado em Antioquia como uma forma de zombaria, a verdade é que aqueles seguidores de Jesus demonstravam um grande entusiasmo e dedicação, assim como os primeiros crentes que vieram da igreja de Jerusalém para pregar naquela cidade.
O nome “cristão” aparece novamente na Bíblia em Atos 26.28 e 1 Pedro 4.16. Segundo a Bíblia, ser cristão significa crer em Jesus, abandonar o pecado e receber a salvação como um presente de Deus, dado pela sua graça.
A identidade cristã não pode ser reduzida a um simples título, pois ela se manifesta de forma prática na vida de quem segue a Cristo.
Em Antioquia, mesmo que o termo “cristão” possa ter surgido como uma forma de escárnio, o testemunho dos discípulos foi tão marcante que a designação permaneceu. O que sustentava esse nome não era uma etiqueta religiosa, mas uma vida transformada pela graça de Deus. O apóstolo Pedro reforça essa ideia ao declarar: “Se alguém padece como cristão, não se envergonhe; antes glorifique a Deus nesta parte” (1 Pe 4.16). Assim, ser cristão significa viver de modo que, mesmo em meio à perseguição ou zombaria, Cristo seja exaltado.
Essa identidade envolve, antes de tudo, fé genuína em Jesus como Senhor e Salvador. Paulo afirmou que “se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo” (Rm 10.9). O verdadeiro cristão não apenas reconhece a Cristo intelectualmente, mas entrega sua vida a Ele, abandona o pecado e passa a viver sob a direção do Espírito Santo. A salvação não é fruto de obras humanas, mas um presente recebido pela graça de Deus (Ef 2.8-9).
Entretanto, a identidade cristã também se expressa em atitudes concretas. Jesus ensinou que seus discípulos seriam conhecidos pelo amor (Jo 13.35).
Isso significa que o nome “cristão” deve estar ligado a uma vida que reflete o caráter de Cristo em palavras e ações. Um título sem prática se torna vazio, mas uma fé que se manifesta em obras demonstra a autenticidade da vida cristã.
Portanto, ser cristão é muito mais do que carregar um rótulo. É viver diariamente como alguém que pertence a Cristo, mantendo-se fiel em meio às pressões do mundo e demonstrando em cada atitude a transformação que só o Evangelho pode produzir. Essa identidade é motivo de honra e responsabilidade: honra porque nos identifica com o Senhor da glória, e responsabilidade porque nos chama a viver de maneira digna daquele nome.
CONCLUSÃO
Aprendemos como a providência de Deus faz com que o Evangelho chegue, por meio da Igreja, a povos ainda não alcançados. O que se destaca não é uma metodologia sofisticada de evangelismo, mas a graça de Deus, que capacita pessoas simples e anônimas a realizarem a sua obra. Quem deseja fazer, Deus capacita. Ninguém jamais terá tudo de que precisa para cumprir a obra de Deus; no entanto, se Deus tiver tudo de nós, Ele nos habilitará a realizá-la.