TEXTO ÁUREO
“E o mesmo Deus de paz vos santifique em tudo; e todo o vosso espírito, e alma, e corpo sejam plenamente conservados irrepreensíveis para a vinda de nosso Senhor Jesus Cristo.” (1Ts 5.23).
VERDADE PRÁTICA
Deus nos fez corpo, alma e espírito para glorificá-lo eternamente com todo o nosso ser.
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
Gênesis 1.26-28; 2.7,18,21-23.
INTRODUÇÃO
Deus criou o homem de forma especial, com um propósito especial (Gn 1.27,28), como um ato de coroamento de sua criação. E fez isso de maneira sublime e distinta em relação a todos os demais seres viventes. Muito além da expressão “produza a terra”, a partir da qual foram criados os animais (Gn 1.24), o homem é resultado de uma ação divina, pessoal e plural (Gn 1.26). Sua formação é constituída de uma modelagem sobrenatural — “do pó da terra” — e pelo sopro de Deus em seus narizes (Gn 2.7). Neste trimestre, estudaremos essa solene, maravilhosa e exclusiva criação, bem como a importância de uma vida equilibrada e saudável no espírito, na alma e no corpo, sob a perspectiva cristã. Abordaremos a Queda e a Redenção, firmados na esperança de nosso completo, iminente e eterno retorno ao Criador (1Ts 4.15-17).
Palavra-Chave:
TRICOTOMIA
I. A TRICOTOMIA HUMANA
1. Doutrina e teologia.
A Doutrina do Homem está fundamentada em toda a Escritura, numa revelação suficiente para demonstrar quem é o homem, como foi criado e com que propósito (Gn 1.26-29; 2.15; Sl 8.3-9; Ef 1.3-6). No campo da Teologia Sistemática, ela é conhecida como Antropologia Bíblica, que estuda o homem desde sua origem, constituição e existência, considerando o período anterior à Queda, o pecado original e suas consequências, o plano redentor e a eternidade. Relaciona-se com todas as outras grandes doutrinas da Bíblia e responde às intrigantes e milenares perguntas: Quem é o homem? De onde veio? Para onde vai?
Em um tempo de tanta psicologização da fé e intensa busca de respostas para os problemas humanos em concepções não cristãs, um piedoso e profundo estudo das Escrituras é cada vez mais necessário e urgente, a fim de desfazer toda e qualquer dúvida existencial e gerar uma fé bíblica genuína, sadia e equilibrada (1Co 2.1-16; 2Tm 3.16,17; Hb 4.12).
A doutrina do homem, conhecida como Antropologia Bíblica, ocupa um lugar essencial dentro da Teologia Sistemática, pois nenhuma outra área do conhecimento humano é capaz de oferecer respostas verdadeiras e completas sobre a identidade, a origem e o destino do ser humano fora da revelação divina.
A Escritura apresenta o homem como criação de Deus, feito à Sua imagem e semelhança, com a finalidade de glorificá-Lo e de se relacionar com Ele. Essa verdade já basta para refutar qualquer concepção puramente materialista ou humanista, pois tais ideias reduzem o ser humano a um simples resultado de processos biológicos ou sociais. Quando o salmista contempla a grandeza do universo e reconhece a atenção do Criador para com o homem, ele declara em admiração: “Que é o homem mortal, para que te lembres dele?” (Sl 8.4). Essa consciência coloca o homem em seu devido lugar: não como um ser autônomo, mas como dependente e amado pelo Deus eterno.
Ao mesmo tempo, a Antropologia Bíblica não se limita apenas à origem. Ela analisa também a condição atual da humanidade, marcada pela Queda. O pecado original deformou a natureza humana, afetando corpo, alma e espírito, de forma que todos pecaram e destituídos estão da glória de Deus (Rm 3.23). Por isso, qualquer compreensão do homem que desconsidere sua condição caída acaba se tornando superficial e ilusória. Muitos sistemas filosóficos e psicológicos modernos falham nesse ponto, pois tentam explicar os dilemas humanos sem reconhecer a raiz espiritual do problema. Essas propostas podem até aliviar sintomas, mas não alcançam a essência da necessidade do homem: a reconciliação com Deus.
A doutrina do homem também aponta para o plano redentor, pois o Criador não abandonou sua criação ao fracasso.
Em Cristo, o homem recebe o chamado para uma nova vida, restaurando sua comunhão com Deus e renovando sua verdadeira identidade (2 Co 5.17). A graça divina não apenas concede perdão, mas também dá um propósito eterno. Paulo afirma que Deus nos escolheu para sermos santos e irrepreensíveis diante dele em amor (Ef 1.4). Assim, o estudo da Antropologia Bíblica mostra não apenas o que somos por natureza, mas também o que podemos nos tornar pela redenção em Cristo.
2. A tríplice natureza.
A teologia utiliza o termo “tricotomia” para tratar da tríplice constituição do ser humano: o corpo, a alma e o espírito. Essas três substâncias, ou componentes do homem, são descritas tanto no Antigo quanto no Novo Testamento (Dt 4.9; Sl 42.11; 139.16; Dn 7.15; Zc 12.1; Mt 10.28; Lc 1.46,47; 1Co 14.14,15).
O próprio Jesus Cristo, o Filho de Deus encarnado — plenamente homem e plenamente Deus — possuía essa constituição (Lc 24.39; Jo 12.27; Lc 23.46). A primeira divisão — as partes material e imaterial — é explicitamente apresentada no ato de formação do homem: “E formou o Senhor Deus o homem do pó da terra e soprou em seus narizes o fôlego da vida, e o homem foi feito alma vivente” (Gn 2.7).
A compreensão da tríplice natureza do homem é fundamental para entendermos sua constituição e o plano de Deus para sua vida. A teologia chama esse conceito de tricotomia, pois identifica no ser humano três dimensões distintas: corpo, alma e espírito. Essa visão não surge de especulação filosófica, mas da revelação bíblica, que mostra o homem como um ser completo, formado por aspectos materiais e imateriais. Desde a criação, vemos que Deus formou o corpo do pó da terra e, ao soprar o fôlego de vida, fez o homem viver como alma vivente (Gn 2.7). Portanto, o ser humano não se limita à matéria, porque sua essência transcende o físico e revela uma dimensão espiritual que o conecta diretamente com Deus.
O corpo corresponde à parte visível e palpável, responsável pela interação do homem com o mundo físico.
Ele é o instrumento pelo qual sentimos, agimos e nos relacionamos com a criação. A alma, por sua vez, é a sede da mente, das emoções e da vontade. Ela expressa aquilo que somos em nossa individualidade, o “eu” que pensa, deseja e decide. Já o espírito representa a dimensão mais elevada do ser humano, pois é nele que ocorre a comunhão com Deus e o discernimento das realidades espirituais. É o espírito que, regenerado pelo Espírito Santo, torna-se sensível à voz do Senhor e capaz de compreender as coisas profundas da fé (1 Co 2.14-15).
O próprio Jesus Cristo confirma essa constituição. Como verdadeiro homem, Ele possuía corpo, alma e espírito. Após a ressurreição, mostrou aos discípulos Seu corpo físico para provar que não era apenas um espírito (Lc 24.39). Em outro momento, declarou que Sua alma estava angustiada diante da cruz (Jo 12.27). E, no momento final, entregou Seu espírito nas mãos do Pai (Lc 23.46). Esses exemplos revelam que a tricotomia não é apenas uma teoria teológica, mas uma realidade experimentada pelo próprio Filho de Deus em Sua encarnação.
Reconhecer essa constituição tríplice é importante para uma vida cristã equilibrada. Muitos se concentram apenas no cuidado do corpo, esquecendo da alma e negligenciando o espírito.
Outros, influenciados por filosofias modernas, exaltam as emoções e os sentimentos como se fossem a essência do ser humano, deixando de lado a dimensão espiritual. No entanto, a Bíblia nos chama a preservar íntegros corpo, alma e espírito para a vinda de Cristo (1 Ts 5.23). Isso significa cuidar do corpo como templo do Espírito Santo, renovar a alma pela Palavra de Deus e fortalecer o espírito pela oração e pela comunhão com o Senhor.
3. Físico e espiritual.
O processo formativo usado pelo Criador, que é Espírito (Jo 4.24), foi constituído de uma combinação única: o elemento físico (pó da terra) com o elemento espiritual (o sopro divino), tornando o homem um ser vivente diferente de todos os demais.
Os anjos são seres espirituais, porém sem corpo material (Sl 33.6; Hb 1.13,14). Os animais não possuem a parte imaterial que há no homem (alma e espírito). A “alma” do animal (sua vida) se restringe ao corpo e se esvai com ele (Lv 17.12-14).
Já o termo hebraico para “vida”, em Gênesis 2.7, alusivo ao homem, é chayim (no plural), permitindo a expressão literal “fôlego das vidas”. Isso pode significar que, em um único substantivo, o texto sagrado esteja aludindo implicitamente à vida do espírito humano, da alma humana e do corpo humano.
O relato da criação em Gênesis apresenta o ser humano como resultado de uma combinação singular entre o físico e o espiritual.
Deus, que é Espírito (Jo 4.24), formou o corpo do homem do pó da terra e, em seguida, soprou nele o fôlego da vida, transformando-o em um ser vivente. Essa união demonstra que o homem não pode ser entendido apenas pela sua dimensão material, pois o que lhe confere vida verdadeira é a presença do sopro divino. Essa realidade distingue o homem de todas as demais criaturas, colocando-o em uma posição única dentro da criação.
Enquanto os anjos são exclusivamente espirituais, sem corpo físico, e os animais possuem apenas vida biológica que se extingue com a morte, o homem reúne em si uma constituição especial. Ele participa do mundo físico, interagindo com a criação através do corpo, mas também possui uma dimensão espiritual que o conecta diretamente com Deus. Essa verdade revela a dignidade e a responsabilidade do ser humano, que não pode viver plenamente se desprezar qualquer uma dessas partes. O corpo precisa de cuidado, pois é o instrumento pelo qual expressamos nossa existência. A alma e o espírito, porém, exigem atenção ainda maior, já que neles reside nossa identidade diante do Criador.
O termo hebraico usado em Gênesis 2.7, chayim, no plural, sugere justamente essa complexidade.
A expressão “fôlego das vidas” indica que, no ato criador, Deus concedeu ao homem múltiplas dimensões de vida: a física, ligada ao corpo; a psíquica, ligada à alma; e a espiritual, ligada ao espírito. Essa riqueza de significados mostra que o ser humano não é resultado de acaso nem fruto de evolução cega, mas criação intencional e completa de Deus.
O apóstolo Paulo reforça essa visão ao destacar que o homem natural não compreende as coisas espirituais, porque estas só podem ser discernidas espiritualmente (1 Co 2.14). Isso significa que, mesmo possuindo corpo e alma, o homem só alcança plenitude quando seu espírito é vivificado pelo Espírito Santo. A separação dessas dimensões, causada pelo pecado, resultou em morte espiritual, mas em Cristo recebemos nova vida, pois Ele veio para que tivéssemos vida, e vida em abundância (Jo 10.10).
II. A DISTINÇÃO ENTRE ALMA E ESPÍRITO
1. A alma.
Do hebraico nephesh e do grego psyché, “alma” é uma das muitas palavras polissêmicas da Bíblia — possui vários significados. Aparece 755 vezes somente no Antigo Testamento. Seu primeiro sentido é “ser vivo”, como em Gênesis 1.20: “alma vivente”. Nesta acepção, a palavra “alma” é usada também para os animais (Gn 1.24) e significa simplesmente “vida”.
A distinção entre a alma do homem e a do animal é evidenciada no processo criativo: procedente do sopro de Deus (Gn 2.7), a alma do homem constitui uma substância espiritual, incorpórea, invisível e imortal (Dn 12.2; Mt 25.46; Lc 16.22-25; Ap 20.4). É dotada de razão, sentimento e vontade — atributos dados por Deus ao homem para o exercício de sua missão (Gn 1.28), especialmente sua vocação relacional com o Criador e com os semelhantes (Gn 2.15-24; 3.8). Isso, aliás, decorre do fato de o homem ser um ser pessoal, criado à imagem de Deus (Gn 1.26).
A palavra “alma”, tanto no hebraico nephesh quanto no grego psyché, possui múltiplos significados nas Escrituras, o que exige atenção no estudo de seus usos.
Em alguns textos, ela indica simplesmente “vida” ou “ser vivente”, aplicada inclusive aos animais, como em Gênesis 1.20 e 1.24. Entretanto, quando aplicada ao homem, ganha uma profundidade única, pois sua origem está ligada diretamente ao sopro de Deus (Gn 2.7). Nesse sentido, a alma humana não se reduz à vida biológica, mas se apresenta como substância espiritual, incorpórea, invisível e imortal. Essa característica distingue o homem dos demais seres, pois a alma humana permanece mesmo após a morte física, como mostram as palavras de Daniel ao falar da ressurreição (Dn 12.2) e de Jesus ao anunciar a realidade da vida eterna e do castigo eterno (Mt 25.46).
Além de sua imortalidade, a alma é dotada de razão, sentimentos e vontade. Esses atributos, concedidos por Deus, fazem do homem um ser consciente, capaz de pensar, sentir e escolher. Por isso, a alma está intimamente ligada ao exercício da missão que Deus entregou ao homem, como o domínio sobre a criação (Gn 1.28), a administração do jardim (Gn 2.15) e a vida em comunhão com o próximo (Gn 2.18-24). Mais do que funções racionais ou emocionais, esses aspectos revelam a vocação relacional do ser humano: ele foi criado para viver em harmonia com o Criador e com seus semelhantes. Essa verdade contrasta com a ideia de que o homem é apenas um ser material ou produto da evolução, mostrando que sua essência transcende a matéria e se fundamenta em sua origem espiritual.
A Bíblia apresenta a alma como o centro da individualidade humana, aquilo que caracteriza cada pessoa em sua singularidade.
É na alma que se formam as escolhas que definem o destino eterno do homem. Jesus alertou que a alma é de valor incalculável, superior a qualquer riqueza ou conquista terrena, quando perguntou: “Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se perder a sua alma?” (Mt 16.26). Esse ensino mostra que todo o cuidado que damos ao corpo e às coisas materiais jamais deve suplantar a necessidade de cuidar da alma, pois é ela que permanece para além do tempo.
2. O espírito.
Do hebraico ruah e do grego pneuma, o espírito do homem provém de Deus e constitui sua principal dimensão. É por meio dele que mantemos nossa comunhão com o Criador, o Pai dos espíritos, e o adoramos (Hb 12.9; Jo 4.23,24). Junto com a alma, e inseparável dela, compõe a parte imaterial do ser humano. É o “homem interior” que, na linguagem do apóstolo Paulo, aparece algumas vezes em contraste direto com o corpo, o homem exterior (Rm 7.22-25; 2Co 4.16-18; Ef 3.16-19).
Como ensina o pastor Antônio Gilberto, em sua Bíblia com Comentários, “à luz das Escrituras, o espírito é a fonte da vida recebida de Deus. O espírito usa e transmite essa vida à alma, que, por sua vez, a expressa por meio do corpo, utilizando seus sentidos físicos para explorar o mundo exterior e dele receber as necessárias impressões”. São três elementos que formam um único ser ou pessoa.
O espírito humano, designado nas Escrituras pelo hebraico ruah e pelo grego pneuma, ocupa lugar central na constituição do ser humano, pois é nele que reside a capacidade de comunhão direta com Deus.
Diferente do corpo, que se relaciona com o mundo físico, e da alma, que envolve razão, emoções e vontade, o espírito é a dimensão mais elevada do homem, pela qual ele se conecta com o Criador. O autor de Hebreus lembra que Deus é o Pai dos espíritos (Hb 12.9), e Jesus declarou que os verdadeiros adoradores O adorarão em espírito e em verdade (Jo 4.23-24). Essas verdades destacam que a verdadeira espiritualidade não nasce apenas da emoção ou da prática externa, mas da renovação interior que o Espírito de Deus opera no coração humano.
O apóstolo Paulo faz uma clara distinção entre o homem exterior, relacionado ao corpo, e o homem interior, que se refere ao espírito. Ele reconhece que, mesmo quando o corpo se desgasta, o homem interior pode se renovar a cada dia pela ação do Espírito Santo (2 Co 4.16). Essa renovação espiritual fortalece o crente para viver de modo santo em meio às dificuldades da vida. Em Romanos 7, Paulo também evidencia esse contraste ao descrever sua luta interior, mostrando que, em seu espírito, ele tinha prazer na lei de Deus, embora enfrentasse a resistência da carne. Isso demonstra que o espírito, quando sujeito ao Espírito Santo, é capaz de orientar a vida do homem para a obediência e a santidade, ainda que haja conflitos com as inclinações do corpo.
À luz das Escrituras, entendemos o espírito como a fonte da vida que procede de Deus.
Ele transmite essa vida à alma, que a expressa através do corpo. Assim, as três dimensões não funcionam de forma independente, mas em harmonia, formando um único ser. Quando o espírito é negligenciado, todo o equilíbrio humano se perde, pois é por meio dele que discernimos as coisas espirituais. Paulo explica que o homem natural não compreende as coisas do Espírito de Deus, porque elas se discernem espiritualmente (1 Co 2.14). Isso mostra que, sem regeneração, o espírito humano permanece insensível à voz de Deus, necessitando da ação redentora de Cristo para ser vivificado.
III. A INTERAÇÃO DAS TRÊS DIMENSÕES
1. Corpo, afetos e somatização.
O corpo (gr. sōma) é a parte material do ser humano, por meio da qual comumente manifestamos os atributos da alma e do espírito. Empregando o vocábulo “coração” (heb. leb; gr. kardia) — uma das principais palavras que o Antigo e o Novo Testamentos usam como sinônimo de alma —, Salomão bem identificou essa interação ao afirmar: “O coração alegre aformoseia o rosto” (Pv 15.13); “O coração com saúde é a vida da carne” (Pv 14.30); “O coração alegre serve de bom remédio, mas o espírito abatido virá a secar os ossos” (Pv 17.22). Identificados como doenças psicossomáticas a partir do século XX, muitos problemas físicos decorrem de crises da alma (e do espírito, inclusive pecados, cf. Sl 31.9,10; 32.1-5). E como se multiplicam em nossos dias!
O corpo humano, chamado no grego de sōma, constitui a parte material do ser, mas não existe de forma isolada. Ele expressa, de maneira visível, aquilo que se passa na alma e no espírito.
As Escrituras evidenciam essa interação entre o interior e o exterior pelo uso frequente da palavra “coração” (leb em hebraico, kardia em grego), muitas vezes empregada como sinônimo da alma. Salomão, com sabedoria, declarou que o coração alegre embeleza o rosto (Pv 15.13), o coração saudável traz vida para a carne (Pv 14.30) e o coração alegre é como remédio para o corpo, enquanto o espírito abatido seca os ossos (Pv 17.22). Essas afirmações revelam que a condição espiritual e emocional do homem repercute diretamente em sua saúde física.
A ciência moderna passou a classificar como doenças psicossomáticas os males físicos que resultam de crises emocionais ou espirituais. Embora esse termo só tenha surgido no século XX, a Bíblia já apontava essa relação muito antes. O salmista, ao descrever o peso do pecado não confessado, reconheceu que seus ossos se consumiam com o gemido contínuo, e que sua força se esgotava como em tempo de seca (Sl 32.3-4). Em outro cântico, ele declarou que a angústia da alma se refletia em seu corpo, consumindo-lhe a vida e trazendo enfraquecimento físico (Sl 31.9-10). Esses testemunhos mostram que a separação entre corpo, alma e espírito é impossível na prática, pois o ser humano foi criado como unidade. Quando uma dessas dimensões adoece, todas as outras sofrem as consequências.
Esse princípio se aplica também ao campo espiritual. O pecado não tratado gera culpa e peso sobre a alma, que inevitavelmente repercutem no corpo.
O afastamento de Deus abre espaço para ansiedade, medo e tristeza, estados que podem produzir sintomas físicos reais. Por isso, a restauração que vem do Senhor não alcança apenas o espírito, mas também traz alívio à alma e saúde ao corpo. O perdão divino, experimentado pelo salmista em Salmo 32.5, é exemplo claro de como a confissão e a comunhão com Deus restauram o ser humano por completo.
Vivemos em dias em que essas crises se multiplicam. A correria da vida moderna, a pressão social, o pecado e a falta de paz interior têm levado muitos a carregar enfermidades físicas originadas de males espirituais e emocionais. A resposta bíblica, porém, continua atual: buscar a presença de Deus, lançar sobre Ele toda ansiedade (1 Pe 5.7) e deixar que o Espírito Santo produza em nós frutos que afetam não apenas a alma, mas também a saúde do corpo. Assim, compreendemos que o cuidado integral do homem deve incluir corpo, alma e espírito, numa vida de equilíbrio que somente Cristo pode proporcionar.
2. Equilíbrio e saúde.
Da mesma forma que o corpo padece por causa de disfunções da alma e do espírito, estes também sofrem por problemas do corpo — naturais ou não. A língua é um dos membros que mais produzem angústias ao ser humano (Pv 18.7,21; 21.23). Tem o nefasto poder de contaminar a pessoa por inteiro (Tg 3.6). Um viver santo e equilibrado requer constante vigilância e oração, preservando corpo, alma e espírito de toda a espécie de males, o que inclui cuidados físicos e relacionais saudáveis (Cl 3.5-9; Ef 4.25-32; 6.18).
Quanto à crescente busca por medicamentos como solução para todo tipo de problema emocional, é preciso discernimento e cautela. O acompanhamento médico e psicológico é importante em situações clinicamente diagnosticadas, mas, quando o problema tem origem espiritual — como crises produzidas por pecados não confessados —, os medicamentos não resolvem; no máximo, aliviam os sintomas. Arrependimento e abandono do pecado são essenciais para a verdadeira cura da alma (Cl 3.8; Ef 4.31; Tg 4.6-10; 2Cr 7.14; Is 53.4,5).
O equilíbrio entre corpo, alma e espírito é indispensável para a saúde integral do ser humano. Assim como a alma e o espírito podem gerar enfermidades físicas quando sobrecarregados por culpas, ansiedades e pecados, também o corpo, ao adoecer ou ser mal utilizado, repercute diretamente no interior do homem.
A Bíblia mostra que até mesmo a língua, um membro tão pequeno, pode comprometer todo o equilíbrio do ser humano. Salomão adverte que ela pode ser instrumento de morte ou de vida (Pv 18.21). Tiago afirma que a língua contamina todo o corpo e inflama o curso da existência (Tg 3.6). Essa verdade mostra que não existe neutralidade nas palavras. Elas podem edificar e trazer cura, mas também destruir e adoecer quem fala e quem ouve. Por isso, viver de maneira santa requer vigilância e oração constante. Assim, corpo, alma e espírito se preservam de qualquer prática que traga desequilíbrio ou dano (1 Ts 5.23).
A saúde integral exige disciplina espiritual e também cuidados práticos. Paulo exorta os crentes a mortificar os membros terrenos (Cl 3.5) e abandonar práticas que ferem o próximo, como a mentira, a ira e as palavras torpes (Ef 4.25-32). Esses conselhos mostram que a santidade não se limita ao campo espiritual. Ela inclui atitudes relacionais saudáveis, que repercutem positivamente em nosso interior. Além disso, Paulo recomenda a oração constante na vida cristã (Ef 6.18). Assim, lembramos que só com a ajuda do Espírito Santo conseguimos vencer as inclinações que levam ao desequilíbrio.
Na sociedade atual, cresce a tendência de buscar em medicamentos a solução para todo tipo de sofrimento emocional.
Embora a medicina e a psicologia sejam dádivas de Deus e fundamentais em situações clinicamente diagnosticadas, nem todos os problemas encontram resposta apenas nelas. Muitas angústias têm origem espiritual, e nesses casos o uso de remédios apenas alivia sintomas, sem tratar a raiz do problema. O pecado não confessado, por exemplo, gera culpa e peso na alma, que não se resolvem com fórmulas químicas, mas com arrependimento genuíno e abandono do erro. A Palavra de Deus ensina que, se nos humilharmos, orarmos, buscarmos a face do Senhor e nos convertermos dos maus caminhos, Ele ouvirá do céu, perdoará os pecados e sarará a terra (2 Cr 7.14). Esse princípio também se aplica à vida pessoal: a verdadeira cura da alma começa no arrependimento e na reconciliação com Deus.
Assim, práticas físicas, cuidados emocionais e uso de medicamentos não produzem sozinhos equilíbrio e saúde.
Eles dependem de uma vida que une vigilância, disciplina, oração e santidade. Somente em Cristo o homem encontra restauração plena para corpo, alma e espírito, pois Ele levou sobre si as nossas dores e enfermidades (Is 53.4-5). Portanto, viver em comunhão com o Senhor é o caminho seguro para desfrutar de verdadeira paz e equilíbrio em todas as áreas da vida.
CONCLUSÃO
Uma correta compreensão espiritual acerca do homem, de sua constituição e propósito é fundamental para uma vida cristã equilibrada (1Co 2.14,15). Mesmo as almas mais piedosas não encontram verdadeira paz e alegria senão em Deus, o seu Criador (Sl 42.1; Jo 14.27), pois “a alegria do Senhor é a [nossa] força” (Ne 8.10).