Subsidio Lição 06: O Livro de Ester | 3° Trimestre de 2024 | EBD ADULTOS
TEXTO ÁUREO
“Porque, se de todo te calares neste tempo, socorro e livramento doutra parte virá para os judeus, mas tu e a casa de teu pai perecereis; e quem sabe para tal tempo como este chegaste a este reino?” (Et 4.14)
VERDADE PRÁTICA
A perfeita vontade de Deus é nos guiar por caminhos que levem ao cumprimento de seus eternos propósitos.
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
INTRODUÇÃO
Concluímos o estudo de Rute. Nesta lição iniciamos o estudo do livro de Ester. Rute é cheio de referências expressas ao nome de Deus. Ester, por sua vez, tem como característica singular, e sempre destacada, a completa ausência do nome de Deus. Nem por isso o agir divino deixa de estar patente no livro. Ester não contém alusões diretas ao Deus da providência, mas nos apresenta uma história cujo roteiro é, por inteiro, uma manifestação da providência de Deus.
PALAVRA-CHAVE: ESTER
I – A ORGANIZAÇÃO DO LIVRO
1- A categorização de Ester.
Da mesma forma que Rute, Ester pertence aos Escritos, os onze livros que compõem a terceira seção da Bíblia Hebraica. E nesta seção – também ao lado de Rute –, integra os Megillot, os cinco livros curtos lidos anualmente nas festas judaicas. As categorizações de Rute e Ester também são semelhantes na Bíblia Cristã, na qual figuram entre os livros históricos. Por sua reconhecida canonicidade, Ester compõe o conjunto da revelação divina escrita, completa e perfeita (2 Tm 3.16,17).
Em primeiro lugar, é importante notar que o livro de Ester ocupa um lugar especial na liturgia judaica, sendo lido durante a festa de Purim. Esta celebração recorda a intervenção providencial de Deus para salvar o povo judeu da destruição planejada por Hamã, conforme narrado no livro. Essa história reforça a soberania de Deus e a sua capacidade de usar pessoas comuns para realizar Seus propósitos.
Por outro lado, a canonicidade de Ester, como mencionado, é amplamente reconhecida tanto na tradição judaica quanto na cristã.
No cânone hebraico, Ester está entre os Ketuvim, ou Escritos, uma seção que inclui diversos gêneros literários e históricos. Já na Bíblia Cristã, Ester é categorizado entre os livros históricos, junto com Rute e outros como Neemias e Esdras. Essa categorização não é apenas uma questão de organização literária, mas também um reconhecimento da importância histórica e teológica dessas narrativas.
Além disso, a inclusão de Ester na Bíblia como parte da revelação divina escrita reflete a crença na sua inspiração e autoridade. Segundo 2 Timóteo 3:16-17, “Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e para a instrução na justiça, para que o homem de Deus seja apto e plenamente preparado para toda boa obra.” Portanto, o livro de Ester não é apenas uma história antiga, mas uma fonte viva de ensinamentos espirituais e morais para os crentes.
2- Características literárias.
O Livro de Ester tem 10 capítulos. Dentre suas características literárias destaca-se sua objetiva historicidade, vista na expressa referência ao rei persa Assuero (Et 1.1) e em vários outros detalhes factuais, além de seu caráter de fonte primária para a Festa de Purim, anualmente celebrada pelos judeus (Et 9.20-32). O estilo narrativo é menos dialógico que o de Rute. O texto é mais do narrador que dos personagens.
Outro aspecto notável do livro de Ester é seu caráter de fonte primária para a Festa de Purim, anualmente celebrada pelos judeus (Et 9.20-32). Esta festa comemora a salvação miraculosa dos judeus da trama de Hamã para destruí-los. O estabelecimento de Purim como uma festa perpétua reforça a importância do livro de Ester na memória e identidade judaica, mostrando como eventos históricos específicos são transformados em rituais religiosos significativos.
Em termos de estilo literário, o livro de Ester se distingue por ser menos dialógico que o de Rute.
Enquanto Rute é caracterizado por diálogos extensos e interações diretas entre os personagens, Ester é predominantemente narrativo, com o narrador desempenhando um papel central na condução da história. O texto é mais do narrador que dos personagens, o que confere à narrativa uma sensação de continuidade e fluidez, permitindo ao leitor acompanhar os eventos de forma coesa e clara.
A estrutura do livro de Ester é também digna de nota. A história é cuidadosamente construída, com um claro desenvolvimento da trama que vai desde a ascensão de Ester à posição de rainha até a derrota de Hamã e a instituição de Purim. Esse desenvolvimento narrativo inclui reviravoltas e momentos de tensão, mantendo o leitor engajado e ressaltando a intervenção providencial de Deus na história.
3- Autoria e data.
O autor de Ester é desconhecido. Muitos estudiosos consideram que o livro foi escrito por um judeu que viveu na Pérsia, pelo fato de o autor demonstrar amplo conhecimento da cidade de Susã e de sua estrutura, e de importantes documentos do Império Persa. Considerando essa possível autoria e algumas evidências internas, acredita-se que o livro seja datado ainda do século V a.C. (por volta de 460 a.C.), logo após a morte de Assuero, ocorrida em 465 a.C. Outro fator levado em conta para essa datação é de ordem linguística: o autor empregou algumas palavras persas em meio ao hebraico, mas não fez uso algum de expressões originárias do grego, o que revela um estilo anterior à ascensão da Grécia sobre a Pérsia, que se deu com Alexandre, o grande, em 330 a.C.
A tradição judaica tem atribuído a Mordecai, a autoria do texto. Embora essa atribuição não seja confirmada, destaca a importância de Mordecai na narrativa e sua possível contribuição para a preservação dos eventos relatados. Como um judeu influente na corte persa, Mordecai teria tido acesso a informações privilegiadas e poderia ter registrado os acontecimentos com precisão.
Do ponto de vista teológico, a autoria e a datação do livro de Ester são menos importantes do que a mensagem e o propósito do texto. A providência divina, a coragem e a fé de Ester, e a salvação do povo judeu são temas centrais que transcendem a questão da autoria e do período de composição do livro. No entanto, compreender o contexto histórico e cultural em que o livro foi composto enriquece nossa compreensão da narrativa e nos ajuda a apreciar sua relevância histórica e espiritual.
II – O CONTEXTO HISTÓRICO
1- O povo hebreu no exílio.
Para uma melhor compreensão do contexto histórico do Livro de Ester é importante mencionar o final do período da monarquia do povo hebreu. Em 722 a.C. houve a queda do Reino do Norte sob os assírios (2 Rs 17.6). Pouco mais de 100 anos depois, Judá, o Reino do Sul, foi levado para o Cativeiro Babilônico em três levas: 605, 597 e 586 a.C. Conforme Jeremias havia profetizado, o exílio na Babilônia duraria 70 anos (Jr 25.11; 29.10-14). Foi um período em que Deus tratou com Judá, principalmente para extirpar a idolatria que havia contaminado a nação (Ez 36.16-25). Deus abomina todo o pensamento, sentimento e comportamento idolátricos (Rm 1.18-25). Por isso, nada em nossa vida pode ocupar o lugar que pertence a Ele (1 Jo 2.15-17). “A soberania de Deus não encontra limites. Ele age em qualquer época ou lugar para cumprir seus propósitos.”
Em 722 a.C., o Reino do Norte, conhecido como Israel, caiu sob o domínio dos assírios (2 Reis 17:6). Os assírios dispersaram as dez tribos do norte, levando muitos israelitas para o exílio e trazendo povos estrangeiros para habitar na terra de Israel. Esse evento marcou a perda da independência e da identidade nacional das tribos do norte.
Pouco mais de 100 anos depois, o Reino do Sul, conhecido como Judá, enfrentou um destino semelhante. Em três levas, nos anos 605, 597 e 586 a.C., o povo de Judá foi levado para o Cativeiro Babilônico. A última leva, em 586 a.C., foi marcada pela destruição de Jerusalém e do Templo, um evento devastador para o povo de Deus.
Conforme profetizado por Jeremias, o exílio na Babilônia duraria 70 anos (Jeremias 25:11; 29:10-14).
Durante esse período, Deus tratou com Judá, principalmente para extirpar a idolatria que havia contaminado a nação (Ezequiel 36:16-25). O exílio foi um tempo de disciplina divina, um chamado ao arrependimento e à renovação espiritual. A idolatria e a desobediência contínua de Judá levaram ao exílio, mas esse período também foi uma oportunidade para o povo renovar seu relacionamento com Deus.
Durante o exílio, muitos judeus se estabeleceram na Babilônia e em outras partes do Império Babilônico. Eles construíram uma vida nova em terras estrangeiras, mas mantiveram sua identidade cultural e religiosa. Sinagogas começaram a surgir como locais de culto e ensino da Torá, substituindo o Templo destruído.
Em 539 a.C., a Babilônia foi conquistada pelos persas, liderados por Ciro, o Grande. Ciro emitiu um decreto permitindo que os judeus retornassem à sua terra natal e reconstruíssem o Templo (Esdras 1:1-4). Esse retorno ocorreu em várias ondas, mas muitos judeus optaram por permanecer nas terras do exílio, onde haviam estabelecido novas vidas.
A história do livro de Ester se passa durante o reinado do rei persa Assuero (Xerxes I), que governou de 486 a 465 a.C. Ester e Mordecai são exemplos de judeus que permaneceram na Pérsia após o decreto de Ciro. A narrativa de Ester destaca a providência divina e a fidelidade de Deus em proteger Seu povo, mesmo quando estão dispersos em terras estrangeiras.
Lições Teológicas do Exílio
O exílio ensinou ao povo hebreu e a todos os crentes importantes lições teológicas:
1. Soberania de Deus: Deus é soberano sobre todas as nações e acontecimentos históricos. Ele usa até mesmo os momentos de disciplina para cumprir Seus propósitos divinos.
2.Fidelidade de Deus: Apesar da desobediência e da idolatria de Seu povo, Deus permaneceu fiel às Suas promessas e cuidou dos judeus no exílio.
3.Arrependimento e Renovação: O exílio foi um chamado ao arrependimento e à renovação espiritual. Deus desejava que Seu povo retornasse a Ele com um coração puro e sincero.
Portanto, entender o contexto do exílio é importante para apreciar a profundidade e a riqueza do livro de Ester. Esse período de disciplina e restauração revela o caráter de Deus e a importância de permanecer fiel a Ele, independentemente das circunstâncias.
2- O fim do exílio.
Ao mesmo tempo em que julgava Judá por sua idolatria, o Deus Eterno, Juiz de toda a terra, exercia seu justo juízo sobre a Babilônia, por sua iniquidade (Jr 25.12). Antes, já havia julgado a Assíria, como profetizado por Naum: Deus não tem o culpado por inocente (Na 1.2,3). Em 539 a.C. Ciro venceu os babilônios e anexou seu território ao Império Persa. Logo no primeiro ano de reinado, “despertou o Senhor o espírito de Ciro, rei da Pérsia” e o fez decretar o retorno do povo judeu para Jerusalém (Ed 1.1-3). Daniel havia se humilhado diante de Deus, jejuando e orando fervorosamente para a restauração de Jerusalém, confessando os pecados da nação de Israel (Dn 9.1-19).
O ensino bíblico a respeito de nosso relacionamento com as estruturas de poder terreno é sempre confiar na soberania divina, buscando, com humildade, a intervenção de Deus em nosso favor (2 Cr 7.14). Agindo assim, poderemos ter “uma vida quieta e sossegada, em toda a piedade e honestidade”, e contribuir para o cumprimento do maior propósito de Deus, que é a salvação de todos os homens, inclusive dos que não governam segundo os valores divinos (1 Tm 2.1-4).
O fim do exílio babilônico e o retorno dos judeus a Jerusalém, conforme registrado na Escritura, exemplifica a maneira como Deus atua através das estruturas de poder terreno para cumprir Seus propósitos soberanos.
Embora Deus tenha julgado Judá por sua idolatria, como evidenciado pelo exílio, Ele também exerceu Seu justo juízo sobre as nações opressoras, como a Babilônia. No entanto, o retorno à terra prometida foi possível devido à intervenção direta de Deus através de Ciro, o rei da Pérsia.
Primeiramente, em Jeremias 25:12, Deus declara: “E acontecerá que, depois de setenta anos, visitarei a Babilônia, e sobre ela cumprirei a minha palavra de mal, e farei dela um deserto assolado.” Esta profecia demonstra que, embora Deus tenha permitido o exílio, Ele não deixaria a iniquidade da Babilônia sem resposta. Assim, ao julgar a Babilônia, Deus demonstra que Sua justiça é universal e abrange todas as nações.
Além disso, como profetizado por Naum, “Deus não tem o culpado por inocente” (Naum 1:2,3). Esta afirmação reforça a ideia de que a justiça divina é infalível e que as nações que se desviam do caminho da retidão enfrentarão a punição de Deus.
No entanto, o retorno dos judeus a Jerusalém começou com a conquista da Babilônia por Ciro em 539 a.C.
O mais notável é que, “no primeiro ano de reinado de Ciro, rei da Pérsia, o Senhor despertou o espírito de Ciro” (Esdras 1:1-3). Este evento demonstra a soberania divina na manipulação das ações dos governantes para cumprir Seus propósitos. Através do decreto de Ciro, Deus permitiu que os judeus retornassem e reconstruíssem Jerusalém, cumprindo assim Suas promessas.
O exemplo de Daniel também é significativo. Em Daniel 9:1-19, Daniel se humilha diante de Deus, jejuando e orando fervorosamente pela restauração de Jerusalém, confessando os pecados da nação. Este ato de humildade e busca pela intervenção divina é um modelo para o relacionamento dos crentes com as estruturas de poder terreno.
O ensino bíblico sobre como devemos nos relacionar com as autoridades terrenas é claramente expresso em 2 Crônicas 7:14, que diz: “Se o meu povo, que se chama pelo meu nome, se humilhar, e orar, e buscar a minha face, e se converter dos seus maus caminhos, então eu ouvirei dos céus, e perdoarei os seus pecados, e sararei a sua terra.” Este versículo nos ensina que devemos confiar na soberania divina e buscar a intervenção de Deus em nossas vidas e na nossa nação. Ao fazermos isso, poderemos experimentar “uma vida quieta e sossegada, em toda a piedade e honestidade” (1 Timóteo 2:2).
Portanto, o propósito maior de Deus é a salvação de todos os homens, incluindo aqueles que estão em posições de poder. Mesmo quando os governantes não governam segundo os valores divinos, nossa responsabilidade é orar e buscar a Deus para que Ele intervenha e transforme as circunstâncias para cumprir Seu plano de salvação (1 Timóteo 2:1-4).
3- O pós-exílio.
Ester registra fatos ocorridos na capital do Império Persa, Susã, entre o primeiro e o segundo retorno dos judeus para Jerusalém. Estima-se que mais de 1 milhão de judeus viviam na região da Babilônia. Mesmo com o decreto de Ciro, que permitia a volta para Jerusalém, a maioria absoluta dos judeus decidiu pelo que lhes parecia mais cômodo: permanecer nas cidades que ocupavam na Babilônia. Somente cerca de 50 mil voltaram para Jerusalém no primeiro grupo, liderados por Zorobabel (Ed 1.5; 2.64,65), no segundo ano do reinado de Ciro (538 a.C.). Esse período da história é narrado do capítulo 1 ao capítulo 6 do livro de Esdras. Entre o capítulo 6 e o capítulo 7 há um intervalo de aproximadamente 60 anos. É na segunda metade desse período que se passam os fatos do livro de Ester (483-473 a.C.).
Após o decreto de Ciro em 538 a.C., que permitia aos judeus retornar a Jerusalém, apenas uma pequena fração da população judaica exilada optou por voltar. Estima-se que mais de 1 milhão de judeus viviam na região da Babilônia, mas apenas cerca de 50 mil voltaram no primeiro grupo liderado por Zorobabel (Esdras 1:5; 2:64-65). Esses eventos são narrados nos primeiros seis capítulos do livro de Esdras. No entanto, entre os capítulos 6 e 7 de Esdras, há um intervalo de aproximadamente 60 anos. É nesse período intermediário que os acontecimentos do livro de Ester, datados entre 483-473 a.C., se desenrolam.
A maioria dos judeus escolheu permanecer na Babilônia, buscando o conforto e a estabilidade das cidades que haviam ocupado.
Essa decisão reflete uma tendência humana de buscar o caminho aparentemente mais fácil e seguro, em vez de enfrentar os desafios e incertezas associados ao retorno e à reconstrução de Jerusalém. No entanto, essa escolha também significou uma continuidade da vida em um ambiente pagão, onde as leis e costumes locais não estavam alinhados com os valores e a fé judaica.
A Historia de Ester destaca como Deus, em Sua providência, continuou a cuidar de Seu povo mesmo enquanto eles estavam longe de sua terra natal. Ester, uma jovem judia que se tornou rainha da Pérsia, desempenhou um papel crucial em salvar os judeus de um plano genocida de Hamã, um alto oficial do rei Xerxes. A história mostra que Deus pode usar qualquer pessoa e qualquer situação para cumprir Seus propósitos. Como Mordecai disse a Ester: “E quem sabe se para tal tempo como este chegaste a este reino?” (Ester 4:14). Este versículo demonstra a crença na providência divina: Ester estava em sua posição real não por acaso, mas porque Deus a colocou lá para cumprir um propósito maior.
Este período pós-exílio também é um tempo de grande tensão e incerteza para os judeus.
Mesmo com a proteção oferecida pelo decreto de Ciro, a situação em Jerusalém era precária. A cidade estava em ruínas, e a tarefa de reconstruí-la era árdua e repleta de obstáculos, tanto físicos quanto políticos. Os poucos que retornaram enfrentaram a oposição dos povos vizinhos e a dificuldade de restabelecer uma sociedade dispersa e enfraquecida pelo exílio.
O livro de Ester, portanto, complementa a narrativa de Esdras, mostrando que, enquanto alguns judeus estavam empenhados na reconstrução física e espiritual de Jerusalém, muitos outros ainda viviam sob a influência e os riscos de uma cultura estrangeira. A história de Ester é um testemunho da fidelidade de Deus, que não abandona Seu povo, mesmo quando eles estão longe de sua terra prometida.
III – PROPÓSITO E MENSAGEM
1- A providência divina.
O principal propósito do livro de Ester é registrar o cuidado providencial de Deus com o seu povo, a despeito de suas escolhas fora de seu propósito. Ao decidirem permanecer na Babilônia, sob os domínios do Império Persa, os judeus olharam para a estabilidade que imaginavam ter conquistado, não apenas no aspecto econômico, mas também cultural, social e religioso. Os persas tinham fama de benevolência com os povos que dominavam, principalmente quanto à liberdade religiosa. O retorno a Jerusalém exigia renúncia e disposição para uma viagem penosa e para a dura reconstrução de uma cidade totalmente destruída. Para muitos, pareceu melhor ficar na Babilônia: “Há caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele são os caminhos da morte” (Pv 14.12).
Em primeiro lugar , a decisão de permanecer na Babilônia pode ser vista como uma busca por estabilidade econômica, social e religiosa, já que os persas eram conhecidos por sua tolerância religiosa e benevolência com os povos subjugados.
Contudo, a escolha dos judeus de permanecer na Babilônia pode ser vista como desobediência ao propósito de Deus de restaurar Jerusalém.
Esta situação é ilustrada no versículo de Provérbios 14:12: “Há caminho que ao homem parece direito, mas o fim dele são os caminhos da morte.” Embora a decisão de ficar parecesse sensata e segura, ela também representava uma falta de fé na promessa de Deus de restaurar Seu povo em sua terra natal.
No entanto, o livro de Ester mostra como Deus, em Sua providência, protegeu e preservou os judeus mesmo na Babilônia. Ester, uma jovem judia, torna-se rainha da Pérsia e, por uma série de eventos providenciais, encontra-se em uma posição para salvar seu povo do extermínio planejado por Hamã, um alto oficial do rei. Esta história demonstra que, apesar das circunstâncias adversas e das escolhas humanas que podem parecer erradas, Deus está no controle e age para o bem de Seu povo.
Outro exemplo de providência divina no livro de Ester é a frase de Mordecai, tio de Ester: “E quem sabe se para tal tempo como este chegaste a este reino?” (Ester 4:14). Este versículo destaca a crença na providência divina: Ester estava em sua posição real não por acaso, mas porque Deus a colocou lá para cumprir um propósito maior. Isso nos lembra que, mesmo em meio a decisões que parecem afastar-nos de Deus, Ele continua a trabalhar através de nossas vidas para realizar Seus planos.
2- Uma falsa estabilidade.
Ester nos transmite como mensagem o perigo de confiar nas falsas estabilidades que as estruturas do mundo nos oferecem, e costumam parecer mais vantajosas. Estava tudo indo muito bem em Susã, até surgir a ordem de extermínio total dos judeus (Et 3.7-13). A falsa segurança foi embora. O povo de Judá dependia novamente da intervenção divina para sua sobrevivência. Ester nos mostra Deus agindo mais uma vez, movendo as estruturas humanas; agora, no grande e poderoso Império Persa. Seja qual for a circunstância, é melhor confiar no Senhor do que no homem (Sl 118.8,9).
A narrativa atinge um ponto crítico quando Hamã, um alto oficial do rei Xerxes, trama o extermínio total dos judeus (Ester 3:7-13). A falsa segurança em que os judeus confiavam desmoronou rapidamente diante dessa ameaça mortal. A ordem de extermínio não só revelou a fragilidade da estabilidade oferecida pelas estruturas humanas, mas também demonstrou a dependência absoluta do povo de Judá na intervenção divina para sua sobrevivência.
Neste contexto, o livro de Ester destaca a ação de Deus movendo as estruturas humanas, mesmo dentro do grande e poderoso Império Persa.
Deus, em Sua providência, coloca Ester em uma posição de influência como rainha para interceder por seu povo. A história demonstra que, embora os sistemas e poderes humanos possam parecer fortes e confiáveis, eles são temporários e falíveis. Apenas a intervenção divina pode oferecer verdadeira segurança e estabilidade.
O Salmo 118:8-9 reforça essa lição: “É melhor confiar no Senhor do que confiar no homem. É melhor confiar no Senhor do que confiar nos príncipes.” Esses versículos ecoam a experiência dos judeus em Susã, lembrando-nos que a verdadeira segurança não está nas instituições ou líderes humanos, mas em Deus.
A falsa estabilidade das estruturas humanas pode parecer vantajosa no curto prazo, mas a confiança em Deus oferece uma base sólida e duradoura. A história de Ester nos ensina a colocar nossa confiança no Senhor em todas as circunstâncias. Ela nos mostra que, mesmo quando enfrentamos ameaças e incertezas, Deus está presente e ativo, movendo as peças de Sua criação para cumprir Seus propósitos e proteger Seu povo.
3- A Festa de Purim.
O livro de Ester tem como propósito, também, registrar a instituição da Festa de Purim, ordenada por Mardoqueu depois do grande livramento que os judeus receberam (Et 9.20-28). Purim é o plural da palavra pur (“lançar sorte”). Conforme Ester 3.7, Hamã lançou sorte para fixar o dia da morte dos judeus. A festa comemora a frustração desse nefasto plano diante da providencial ação divina para a libertação de seu povo. A soberania de Deus não encontra limites. Ele age em qualquer época ou lugar para cumprir seus propósitos.
A história de Purim é um poderoso testemunho da soberania de Deus, que não conhece limites. Mesmo em um ambiente hostil, sob o domínio de um império poderoso, Deus agiu de maneira decisiva para proteger Seu povo. Este evento ilustra claramente que Deus pode intervir em qualquer época ou lugar para cumprir Seus propósitos. A celebração de Purim é, portanto, uma lembrança anual da fidelidade e da providência divina.
Durante a Festa de Purim, os judeus leem o livro de Ester, também conhecido como Meguilá, para relembrar os eventos que levaram ao livramento de seu povo.
Eles celebram com alegria, festas, troca de presentes e caridade aos pobres, seguindo a instrução de Ester 9:22: “como os dias em que os judeus tiveram sossego de seus inimigos, e como o mês que de tristeza se lhes mudou em alegria, e de luto em dia de festa; para que os fizessem dias de banquetes e de alegria, e de mandarem presentes uns aos outros, e dádivas aos pobres.”
Essa celebração não é apenas um momento de recordar o passado, mas também uma reafirmação da fé na soberania de Deus. A história de Ester e a festa de Purim lembram-nos que, independentemente das circunstâncias, Deus controla tudo e Seus planos não podem ser frustrados.
Assim, a Festa de Purim serve como um testemunho contínuo da intervenção divina na história e da importância de confiar na providência de Deus. Ela nos ensina que, mesmo quando as situações parecem desesperadoras e os inimigos parecem invencíveis, a mão soberana de Deus pode mudar o curso dos eventos para cumprir Seus propósitos. Este é um lembrete poderoso de que a fé em Deus transcende as dificuldades temporárias e nos chama a confiar Nele em todas as situações.
CONCLUSÃO
O Livro de Ester nos lembra de que vivemos neste mundo, mas não devemos confiar em suas estruturas. Todos os reinos deste mundo passarão (Dn 2.37-45). Por isso, a Palavra de Deus diz que “a nossa cidade está nos céus, donde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo” (Fp 3.20).