V.3 Israel amava a José mais do que a todos os seus filhos, porque era filho da sua velhice; e fez-lhe uma túnica de várias cores.
A expressão “filho da velhice” é amplamente utilizada para descrever um filho que nasceu de pais idosos, destacando a singularidade e o valor desse filho que foi concebido e veio ao mundo em uma fase avançada da vida dos pais.
É importante destacar que José não era o único filho concebido e nascido em uma fase avançada da vida de seus pais. Ele tinha um irmão mais jovem, chamado Benjamim, que era o caçula entre os filhos de Jacó. Tanto José quanto Benjamim eram filhos da mesma mãe, Raquel. Se considerarmos a perspectiva humana, é possível argumentar que Benjamim deveria receber uma atenção maior por parte de seus pais. Como o filho caçula, ele poderia ser visto como o mais vulnerável e necessitado de cuidado e proteção.
O ‘Comentário Exegético e Explicativo da Bíblia’ oferece uma compreensão diferente sobre essa expressão “filho da velhice”;
era filho da sua velhice— Sendo Benjamim mais novo, era mais o “filho da sua velhice”, e por conseguinte, por este motivo se esperava que fosse o favorito. Traduzido literalmente, é “filho da velhice a ele”, frase hebraica que indica “filho sábio”, alguém que possuía prudência e sabedoria superiores a seus anos, “cabeça velha sobre ombros de jovem”.
Portanto, José ser o favorito de seu pai pode ser atribuído não apenas ao fato de ser o filho concebido em idade avançada, mas também por sua notável maturidade para alguém de sua idade.
Talvez tenha sido exatamente esse motivo que levou José, com apenas 17 anos, a ser designado para supervisionar seus irmãos mais velhos. Sua maturidade precoce e sua capacidade de liderança foram reconhecidas por seu pai, Jacó, resultando em uma posição de autoridade sobre seus irmãos.
Além disso, por ser o filho favorito, Jacó presenteou José com uma túnica de várias cores . Essa túnica se destacava das vestes comuns usadas por outras pessoas, pois era confeccionada com diferentes cores, tornando-a única e chamativa. Ela era um sinal visível de sua posição privilegiada na família.
V.4 Vendo, pois, seus irmãos que o pai o amava mais que a todos os outros filhos, odiaram-no e já não lhe podiam falar pacificamente.
A túnica de várias cores, que simbolizava o favoritismo de Jacó por José,se tornou uma fonte de ciúme e inveja entre os irmãos de José. Resultando em um evento trágico: a venda de José como escravo por seus próprios irmãos.
Matthew Henry em seu Comentário Bíblico , expressa o seguinte:
José era mais um profeta do que um político, caso contrário ele teria feito segredo dos sonhos, pois ele não podia deixar de saber que os seus irmãos já o odiavam, e que isto iria exasperá-los (irrita,provocar) ainda mais.Mas, mesmo dizendo isto na sua simplicidade, ainda assim Deus o destinou à admiração dos seus irmãos.
Os sonhos de José
V.5-9 “Teve José um sonho e o relatou a seus irmãos; por isso, o odiaram ainda mais.Pois lhes disse: Rogo-vos, ouvi este sonho que tive:Atávamos feixes no campo, e eis que o meu feixe se levantou e ficou em pé; e os vossos feixes o rodeavam e se inclinavam perante o meu.Então, lhe disseram seus irmãos: Reinarás, com efeito, sobre nós? E sobre nós dominarás realmente? E com isso tanto mais o odiavam, por causa dos seus sonhos e de suas palavras.Teve ainda outro sonho e o referiu a seus irmãos, dizendo: Sonhei também que o sol, a lua e onze estrelas se inclinavam perante mim”.
No primeiro sonho, fica evidente uma futura posição de autoridade e liderança de José sobre seus irmãos. Tanto os feixes de José quanto os de seus irmãos estavam no campo, mas o feixe de José se levantou e ficou em pé, enquanto os feixes dos seus irmãos se inclinavam perante ele.
Esse sonho simbolizava o domínio de José sobre seus irmãos, prenunciando um futuro em que eles se curvariam perante ele e reconheceriam sua autoridade.
O segundo sonho ,também apontava para uma futura posição de autoridade e domínio. Nele,o sol, a lua e as estrelas simbolizavam seus pais e seus irmãos, os quais reconheceriam sua liderança e se curvariam diante dele.
Os irmãos de José não reagiram positivamente aos seus sonhos, e a hostilidade em relação a ele só aumentava (v. 8), expressa pela pergunta: “Tu deveras terás domínio sobre nós?”
Oposição aos sonhos de José
V.10-11. “Contando-o a seu pai e a seus irmãos, repreendeu-o o pai e lhe disse: Que sonho é esse que tiveste? Acaso, viremos, eu e tua mãe e teus irmãos, a inclinar-nos perante ti em terra?Seus irmãos lhe tinham ciúmes; o pai, no entanto,guardava este caso no coração”.
Seu pai, por sua vez, repreendeu-o de maneira gentil, como se pode observar nas palavras do versículo 10 e 11. É possível que Jacó tenha repreendido José para tentar amenizar a ofensa que seus irmãos sentiram.No entanto,assim como Maria (Lucas 2:51), Jacó também guardou essas palavras em seu coração.
V.12-14.”E, como foram os irmãos apascentar o rebanho do pai, em Siquém,perguntou Israel a José: Não apascentam teus irmãos o rebanho em Siquém? Vem, enviar-te-ei a eles. Respondeu-lhe José: Eis-me aqui.Disse-lhe Israel: Vai, agora, e vê se vão bem teus irmãos e o rebanho; e traze-me notícias. Assim, o enviou do vale de Hebrom, e ele foi a Siquém”.
Os irmãos de José foram a Siquém apascentar o rebanho, e há sugestões de que eles tenham ido para lá com o propósito de esperar que José fosse enviado para visitá-los, buscando assim uma oportunidade de prejudicá-lo.
Foi nesta cidade que Dina (ler Gn 34), filha de Jacó e Lia, foi violentada pelo príncipe Siquém(mesmo nome da cidade). Após o ocorrido, Siquém desenvolveu um forte desejo de se casar com Dina e pediu permissão a seu pai, Hamor, para isso.
Indignados com o ocorridos os filhos Jacó planejaram uma vingança enganosa e concordaram em fazer um acordo com os homens de Siquém. Eles disseram que permitiriam o casamento se todos os homens da cidade se circuncidassem. Os homens de Siquém concordaram e se submeteram à circuncisão. No entanto, enquanto eles ainda estavam se recuperando da cirurgia, Simeão e Levi, dois dos irmãos de Dina, invadiram a cidade e mataram todos os homens, incluindo Siquém e Hamor.
Jacó ficou indignado com a ação de seus filhos e temeu as consequências da violência que eles haviam cometido. Ele repreendeu Simeão e Levi por sua fúria e crueldade, advertindo que isso poderia trazer problemas para eles no futuro.
Portanto, essa pode ter sido a razão pela qual Jacó enviou José para verificar como estavam seus irmãos.
V.17 Disse-lhe o homem: Foram-se daqui, pois ouvi-os dizer: Vamos a Dotã.
Ao vagar por Siquém em busca de seus irmãos e sem ter conhecimento de seu paradeiro, José recebe a informação de que eles partiram para Dotã.
Jose poderia ter retornado quando não os encontrou em em Siquém . Entretanto, ao partir para Dotã, ele demonstra que sua jornada não foi motivada apenas pela obediência a seu pai,mas também pelo amor que ele nutria por seus irmãos.
Por esse motivo, José empreendeu uma busca diligente para encontrar seus irmãos, perseverando até encontrá-los.
Menosprezando os Sonhos de José
V.18-20 “De longe o viram e, antes que chegasse, conspiraram contra ele para o matar.E dizia um ao outro: Vem lá o tal sonhador! Vinde, pois, agora, matemo-lo e lancemo-lo numa destas cisternas; e diremos: Um animal selvagem o comeu; e vejamos em que lhe darão os sonhos”.
Esses 3 versiculos descortinam os corações dos irmãos de Jose revelando uma premeditação perversa, uma conspiração, um planejamento de assassinato, ocultação de cadaver, propagação de mentiras e uma oposição direta a Deus.
E dizia um ao outro: Vem lá o tal sonhador!
Entre os irmãos de José, havia um sentimento de desprezo e sarcasmo, expresso pela frase “Vem lá o tal sonhador! Eles se referiam a José de forma desdenhosa, menosprezando seus sonhos e o considerando um indivíduo que vivia em um mundo de ilusões.
V.21-22 “E ouvindo-o Rúben, livrou-o das suas mãos, e disse: Não lhe tiremos a vida.Também lhes disse Rúben: Não derrameis sangue; lançai-o nesta cova, que está no deserto, e não lanceis mãos nele; isto disse para livrá-lo das mãos deles e para torná-lo a seu pai”.
Percebendo a intenção de seus irmão, Rúben, o primogênito filho de Leia,intercede por José. Ele sugere que joga-lo em uma cisterna ao invés de tirar sua vida. A intenção de Rúben, o irmão mais velho, era resgatar José posteriormente e devolvê-lo ao seu pai.
O início para a concretização do sonhos de José
V.23-24 E aconteceu que ,chegando José a seus irmãos tiraram de José a sua túnica a túnica de varias cores que trazia.E tomaram-no e lançaram-no na cova ,porém a cova estava vazia ,não havia agua nela.
Motivados pelo rancor e ódio, os irmãos de José deram início à sua trajetória dolorosa ao retirar sua túnica de várias cores e lançá-lo na cisterna. Contudo, desconheciam eles que tal ato, na verdade, era o começo do plano divino para a vida de José.
Para se vestir com roupas novas, é necessário deixar para trás as vestimentas antigas.
“Então Faraó tirou o seu anel da mão, e o pôs na mão de José, e o fez vestir vestes de linho fino, e pôs um colar de ouro no seu pescoço.” Gênesis 41:42.
V.28-29 “Passando, pois, os mercadores midianitas, os irmãos de José o alçaram, e o tiraram da cisterna; e venderam José por vinte moedas de prata aos ismaelitas, os quais levaram José ao Egito. Voltando, porém, Rúben à cisterna, eis que José não estava na cisterna; então rasgou as suas vestes.”
Assim como Jesus, José também foi vendido por aqueles que o rodeavam. Embora haja uma diferença significativa entre as histórias de José e Jesus, é interessante observar algumas semelhanças em seus sofrimentos.
José e Jesus foram traídos por pessoas próximas a eles. Os próprios irmãos de José o venderam, movidos pela inveja e pelo ciúme de sua posição de destaque na família. Da mesma forma, Jesus foi entregue por um dos seus discípulos, Judas Iscariotes, em troca de trinta moedas de prata.
Após descobrir que José havia sido vendido Rúben rasga suas vestes, demonstrando seu pesar pela situação. Esse ato simbólico representa o lamento de Rúben diante dos acontecimentos e a percepção de que algo grave ocorreu com José.
V.31-33 “Então tomaram a túnica de José, mataram um cabrito e a molharam no sangue. Enviaram a túnica de várias cores, mandando levá-la a seu pai e disseram: ‘Encontramos isto; vê se é a túnica de teu filho ou não.’ Ele a reconheceu e disse: ‘É a túnica de meu filho; um animal feroz o devorou; certamente José foi despedaçado”.
Nesses versículos, é narrado o desdobramento da trama envolvendo José e seus irmãos. Após vendê-lo como escravo, eles pegam a túnica de José, matam um cabrito de bode e a molham com o sangue do animal. Em seguida, levam a túnica ensanguentada a Jacó, seu pai, e o questionam se é a túnica de José.
Jacó, ao ver a túnica, reconhece-a imediatamente e conclui que José foi atacado e morto por um animal feroz. Ele lamenta a perda de seu filho, acreditando na história fictícia apresentada pelos irmãos.
Assim a conexão entre as ações de Jacó e as consequências que ele enfrentou na história de José é uma reflexão interessante sobre a colheita do que se planta. Jacó, em sua juventude, enganou seu pai Isaque para receber a bênção que originalmente pertencia a seu irmão Esaú. Ele mentiu e se disfarçou para alcançar seu objetivo, o que gerou conflitos familiares e separação.
Essa conexão nos convida, portanto, a refletir sobre a importância de nossas ações e escolhas.. Nossos comportamentos têm consequências, não apenas para nós mesmos, mas também para aqueles ao nosso redor. O exemplo de Jacó nos lembra da necessidade de agirmos com honestidade, integridade e consideração pelos outros, evitando a semente da falsidade que pode gerar futuros desdobramentos dolorosos.
V.36 “E os midianitas venderam José no Egito a Potifar, oficial de Faraó, capitão da guarda.”
Por fim, sua venda para Potifar Egito marcou o início de uma nova fase na vida de José. Ele passou de ser um filho amado por seu pai a um escravo em uma terra estrangeira. No entanto, veremos como a presença de José no Egito e sua fidelidade a Deus resultarão em um plano divino maior para sua vida.