Subsidio Lição 02: Somos Cristãos | 1° Trimestre de 2025 | EBD ADULTOS
TEXTO ÁUREO
“Pelo que julgo que não se deve perturbar aqueles, dentre os gentios, que se convertem a Deus.” (At 15.19)
VERDADE PRÁTICA
O Cristianismo é uma religião de relacionamento pessoal com o Cristo ressuscitado e não um conjunto de regras e ritos.
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
INTRODUÇÃO
A Igreja herdou dos judeus muitas ideias e práticas no campo teológico e ético, visto que a jornada histórica da Igreja começou em Jerusalém no dia de Pentecostes numa comunidade judaica. E esses pontos de interseção levaram alguns a confundir a Lei de Moisés com a Graça. Nesta lição, veremos que Gálatas 2 é um relato de um dos debates que mostram o limite entre Judaísmo e Cristianismo, e os apóstolos, principalmente Paulo, tiveram muita dificuldade de mostrar isso aos judaizantes.
Palavra-Chave: Evangelho
I- PREVENINDO-SE CONTRA A TENDÊNCIA JUDAIZANTE
1- Subindo outra vez a Jerusalém (Gl 2.1,2).
Catorze anos depois da sua conversão a Cristo, Paulo sobe pela segunda vez a Jerusalém. Essa segunda visita foi por revelação (v.2; At 11.27-30), não sendo uma convocação pelos apóstolos para prestação de contas. Não podemos confundir essa visita de Paulo com a sua ida ao Concílio de Jerusalém, registrado em Atos 15. Infere-se que a Epístola aos Gálatas foi escrita antes do referido Concílio, pois não há menção dele na carta, visto que o Concílio tratou do mesmo assunto (At 15.5,6). Somando os anos mencionados em Gálatas, podemos afirmar que essa visita aconteceu antes de sua Primeira Viagem Missionária.
O Contexto da Visita a Jerusalém
A visita mencionada em Gálatas 2 não deve ser confundida com o Concílio de Jerusalém registrado em Atos 15, pois a carta aos Gálatas não faz referência direta a esse evento. Em vez disso, a viagem descrita por Paulo ocorreu antes de sua primeira viagem missionária. Em Atos 11.27-30, vemos o apóstolo sendo enviado com Barnabé para levar ajuda aos irmãos na Judéia, contexto que se alinha cronologicamente com a ocasião relatada em Gálatas 2. Essa visita surgiu da preocupação de proteger a pureza do Evangelho frente a uma crescente tentativa de submeter os gentios às práticas da Lei Mosaica, como a circuncisão.
O Conflito com a Judaização
A tendência judaizante envolvia a imposição de costumes judaicos, como a circuncisão, como requisitos para a salvação. No entanto, Paulo ensina claramente que a salvação é exclusivamente pela fé em Cristo e não pelas obras da Lei (Gl 2.16). A imposição legalista negava a suficiência do sacrifício de Cristo e representava um retrocesso à antiga aliança. Em sua defesa do Evangelho, Paulo escreveu: “Porque, se a justiça vem pela lei, Cristo morreu em vão” (Gl 2.21).
Além disso, ele advertiu aos colossenses sobre aqueles que tentavam impor regras como critérios para espiritualidade: “Ninguém, pois, vos julgue pelo comer, ou pelo beber, ou por causa dos dias de festa, ou da lua nova, ou dos sábados” (Cl 2.16). Essas práticas eram apenas sombras da realidade plena encontrada em Cristo (Cl 2.17).
O Ensino de Paulo
Paulo também enfatiza a unidade entre judeus e gentios em Cristo. No Evangelho da graça, não há distinção entre esses grupos, como declarado em Gálatas 3.28: “Não há judeu nem grego; não há servo nem livre; não há macho nem fêmea; porque todos vós sois um em Cristo Jesus.” Essa visão de igualdade radical eliminava as barreiras étnicas ou culturais impostas pela Lei, reafirmando a universalidade do Evangelho.
Implicações Práticas para a Igreja Contemporânea
A lição de Paulo em prevenir a influência judaizante na igreja do primeiro século ainda é relevante hoje. Em qualquer época, há o perigo de acrescentar requisitos humanos à graça divina. Esses desafios podem surgir através de legalismos ou tradições que obscurecem a simplicidade da fé em Cristo. A defesa do Evangelho exige vigilância para garantir que ele permaneça centrado na graça de Deus, proclamando a liberdade conquistada por Cristo (Jo 8.36).
2- Objetivo da reunião.
É bom lembrar que essa reunião não foi um concílio nem um sínodo. É possível que essa segunda visita, por meio de revelação (v.2), tenha ligação com Ágabo, pois a missão de Paulo, pelo que parece, foi levar donativos para os irmãos pobres da Judéia (At 11.27-30). Aproveitando a ocasião, o apóstolo expôs o Evangelho que vinha pregando aos gentios há catorze anos (vv.1,2). Ele tinha convicção de que recebeu esse Evangelho de Deus e estava consciente de que a sua subida a Jerusalém era em obediência a uma ordem divina.
Um Contexto de Obediência Divina
Paulo deixa claro que sua ida à capital da fé judaica não foi um ato impulsivo ou movido por dúvidas. Pelo contrário, foi fruto de obediência à orientação divina. A revelação mencionada no versículo 2 pode ter conexão com a profecia de Ágabo, descrita em Atos 11.27-30, que previu uma grande fome. Essa profecia levou os cristãos de Antioquia a enviarem auxílio financeiro aos irmãos necessitados da Judéia, sendo Paulo e Barnabé os encarregados de entregar a oferta. Esse ato demonstra o compromisso do apóstolo com a unidade do corpo de Cristo, transcendente às barreiras culturais ou econômicas.
O Evangelho aos Gentios e a Convicção de Paulo
Ao apresentar o Evangelho aos líderes da igreja, Paulo não buscava validação humana, mas agia em obediência a Deus e com plena certeza de que sua mensagem tinha origem divina. Ele enfatizou que o Evangelho que pregava não foi aprendido de homens, mas recebido por meio de uma revelação direta de Jesus Cristo (Gl 1.11-12). Sua disposição em apresentar essa mensagem aos apóstolos e líderes reconhecidos, como Pedro, Tiago e João, reflete tanto humildade quanto o desejo de preservar a harmonia no ensino da igreja.
Essa reunião era importante para evitar conflitos internos que poderiam surgir devido às diferenças culturais entre judeus e gentios. O Evangelho de Paulo era claro: a salvação é pela graça mediante a fé, sem dependência de obras da Lei (Ef 2.8-9). Sua exposição privada visava garantir que todos estivessem unidos na mensagem, prevenindo qualquer divisão que pudesse comprometer o crescimento da igreja.
O Papel da Generosidade e da Unidade
O encontro também ressalta a generosidade e a interdependência dentro do corpo de Cristo. A entrega de donativos à igreja na Judéia manifesta a solidariedade prática entre os cristãos gentios e os judeus. Esse gesto cumpriu o ensino apostólico de que os crentes devem ajudar uns aos outros: “Repartam com os irmãos necessitados e pratiquem a hospitalidade” (Rm 12.13). Além disso, reforça a ideia de que a unidade espiritual deve se traduzir em ações concretas de amor e cuidado mútuos.
3- Tito e a circuncisão (v.5).
Barnabé era judeu (At 4.36) e seu nome aparece três vezes nesse capítulo (vv.1,9,13); sua presença na reunião em Jerusalém não seria um problema. Tito, no entanto, sendo grego, foi um risco que Paulo correu, mas não foi uma provocação introduzir um incircunciso no seio dos judeus. Os judaizantes queriam que Tito fosse circuncidado. Encontramos no Novo Testamento a compreensão e a tolerância de Paulo com os fracos na fé, a ponto de circuncidar Timóteo, mas ele era judeu, pois sua mãe era judia (At 16.3); no entanto, nessa reunião em Jerusalém, onde expôs o Evangelho que pregava aos gentios, ele não cedeu nem um pouco, “nem por uma hora” (v.5). Isso por duas razões: Tito era grego, e porque estava em jogo a verdade do Evangelho e o futuro do próprio Cristianismo.
A Pressão dos Judaizantes
Os judaizantes insistiam que Tito se circuncidasse como condição para aceitação entre os judeus. Essa pressão visava misturar elementos do judaísmo com o Evangelho, impondo sobre os gentios práticas da Lei mosaica, especialmente a circuncisão, como requisito de salvação. Paulo, no entanto, resistiu firmemente, declarando: “A eles nem ainda por uma hora nos submetemos, para que a verdade do evangelho permanecesse entre vós” (Gálatas 2.5).
A defesa de Paulo não foi motivada por uma oposição cega à Lei, mas pelo compromisso inabalável com a verdade central do Evangelho: a salvação é um dom de Deus, adquirido pela graça e recebido mediante a fé, sem a necessidade de obras da Lei (Efésios 2.8-9). Submeter Tito à circuncisão teria concedido terreno aos legalistas, comprometendo a pureza e a liberdade do Evangelho.
Timóteo e Tito: Um Contraste de Abordagens
Embora Paulo tenha concordado em circuncidar Timóteo, isso ocorreu em um contexto totalmente diferente. Timóteo tinha origem judaica por parte de mãe (Atos 16.1-3), e sua circuncisão foi uma estratégia para facilitar o ministério entre os judeus, não uma concessão doutrinária. Tito, por outro lado, era completamente gentio. Sua circuncisão em Jerusalém teria simbolizado a submissão do Evangelho às demandas legalistas, comprometendo a mensagem da graça.
Essa distinção demonstra que Paulo era sensível aos contextos culturais e às necessidades ministeriais, mas não negociava os fundamentos teológicos essenciais. A integridade do Evangelho era a prioridade absoluta.
O Evangelho da Liberdade
O episódio de Tito envolvia a própria essência do Cristianismo. O Evangelho proclama que, em Cristo, todos são libertos da escravidão da Lei. Como Paulo escreve em Gálatas 5.1: “Permanecei firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da servidão.” Forçar Tito a se circuncidar teria negado essa verdade e revertido o progresso do Evangelho entre os gentios.
II- A TENDÊNCIA JUDAIZANTE NO INÍCIO DA IGREJA
1- O espanto do apóstolo.
Tão logo Paulo retornou de sua viagem, ficou sabendo que os irmãos da Galácia estavam vivendo outro evangelho, e isso deixou o apóstolo estarrecido e atônito pela rapidez do desvio deles (Gl 1.6). O verbo grego metatithesthe, “deixar, abandonar, desertar, mudar de pensamento, virar a casaca”, que o apóstolo emprega nessa passagem, era usado na antiguidade quando alguém desertava do exército ou se rebelava contra ele. Isso significa também mudança de partido político, filosofia e religião. Em outras palavras, aqueles irmãos gálatas estavam abandonando a fé.
A Urgência da Situação
Paulo expressa seu espanto pela rapidez com que os gálatas estavam se afastando daquele que os chamou pela graça de Cristo. Este desvio não era apenas um erro teológico trivial; tratava-se de uma ameaça direta à essência do Evangelho. Como ele afirma em Gálatas 1.7: “O qual não é outro, mas há alguns que vos inquietam e querem transtornar o evangelho de Cristo.” Esse “outro evangelho” promovido pelos judaizantes acrescentava obras da Lei – como a circuncisão e a observância de tradições judaicas – como requisitos para a salvação. Tal distorção negava o fundamento da justificação pela fé, proclamada por Paulo em passagens como Romanos 3.28: “Concluímos, pois, que o homem é justificado pela fé, sem as obras da lei.”
A Gravidade do Desvio
Os judaizantes tentavam conciliar a graça de Cristo com a Lei mosaica, resultando em uma mensagem adulterada. No entanto, Paulo deixa claro que o Evangelho é exclusivo em sua natureza: não pode ser misturado ou adaptado às ideias humanas sem perder sua essência. Sua repreensão severa – “Mas, ainda que nós ou mesmo um anjo vindo do céu vos pregue evangelho que vá além do que vos temos pregado, seja anátema” (Gl 1.8) – destaca a seriedade de abandonar a mensagem original.
Desertores da Graça
O uso do termo metatithesthe também demonstra a responsabilidade pessoal dos gálatas. Eles não eram apenas vítimas da influência dos judaizantes; estavam deliberadamente mudando sua lealdade de Deus para algo inferior. Essa deserção equivale a uma negação da graça divina em favor de um sistema que não podia salvar. Como Paulo afirma em Gálatas 5.4: “De Cristo vos desligastes, vós que procurais justificar-vos na lei; da graça caístes.”
Aplicações para Hoje
A rápida apostasia dos gálatas serve como um alerta para a Igreja contemporânea. A tendência de modificar o Evangelho para acomodar tradições, filosofias ou práticas culturais continua sendo uma ameaça. Este episódio destaca a importância de permanecer firmes na verdade do Evangelho (1 Coríntios 15.1-2) e resistir a qualquer distorção que possa surgir, mesmo que aparentemente bem-intencionada.
Assim como Paulo ficou perplexo com os gálatas, hoje devemos estar alertas diante de qualquer ensino ou prática que questione ou dilua a suficiência da obra de Cristo. A Palavra de Deus nos orienta a nos “apegar firmemente à verdade” (2 Timóteo 1.13) e a defender “a fé que uma vez por todas foi entregue aos santos” (Judas 3).
2- Quem eram os judaizantes (v.4)?
O termo judaizante vem do verbo grego ioudaizō, “viver como judeu, adotar costumes e ritos judaicos”, e aparece uma única vez no Novo Testamento (Gl 2.14). Eles eram os opositores de Paulo, identificados também como “falsos irmãos” (v.4). São reconhecidos no capítulo anterior (Gl 1.7) como os que se apresentavam como enviados por Jerusalém, a igreja-mãe. Na verdade, esses homens saíram de Jerusalém por sua própria conta. Tiago negou formalmente as declarações deles, dizendo que não os havia enviado (At 15.24). Eram legalistas dentre os judeus, e por isso chamados de judaizantes. Esses judeus, convertidos ao Senhor Jesus, ensinavam que os gentios deveriam observar a Lei de Moisés como condição para salvação (At 15.1).
Quem eram os Judaizantes?
Os judaizantes, também chamados de “falsos irmãos” (Gl 2.4), eram judeus convertidos ao Cristianismo, mas fortemente apegados às tradições da Lei mosaica. Embora reconhecessem Jesus como Messias, insistiam que a salvação exigia a observância de práticas judaicas, como a circuncisão, as festas religiosas e as leis alimentares (At 15.1). Sua mensagem era uma distorção do Evangelho, combinando graça com legalismo. Como Paulo destaca em Gálatas 1.7, eles perturbavam a igreja, tentando “perverter o evangelho de Cristo”.
A Origem e a Autoridade Duvidosa
Esses homens alegavam representar a igreja de Jerusalém, a “igreja-mãe” do Cristianismo, e utilizavam essa aparente autoridade para ganhar a confiança das congregações gentias. No entanto, Tiago, um dos líderes de Jerusalém, desmentiu formalmente tal associação, afirmando: “ouvimos que alguns dentre nós, aos quais nada ordenamos, vos têm perturbado com palavras” (At 15.24). A oposição dos judaizantes a Paulo era intensa porque sua mensagem de justificação exclusivamente pela fé (Gl 2.16) confrontava diretamente sua ênfase na Lei.
O Legalismo Como Uma Ameaça ao Evangelho
O ensinamento dos judaizantes consistia em impor os mandamentos cerimoniais da Lei mosaica como um requisito para a salvação. Isso contradizia a obra redentora de Cristo, que havia cumprido perfeitamente a Lei (Mt 5.17). Paulo, ao combater essa heresia, afirmou enfaticamente: “Estai, pois, firmes na liberdade com que Cristo nos libertou, e não torneis a colocar-vos debaixo do jugo da servidão” (Gl 5.1). Ele enxergava essa insistência no legalismo como uma tentativa de substituir a graça divina por obras humanas, algo que comprometia totalmente a mensagem do Evangelho.
3- O clima de tensão (vv. 3-5).
Não é necessário muito esforço para perceber o quanto Paulo e Barnabé foram pressionados pelos judaizantes diante dos demais apóstolos de Jerusalém. À luz do versículo 9, parece que somente João, Pedro e Tiago estavam presentes. Os outros apóstolos deviam estar em plena atividade missionária em outras regiões. Os judaizantes chamados de “falsos irmãos” conseguiram “furar o bloqueio” e entraram sem serem convidados à reunião (v.4). Eram inimigos da liberdade cristã, do Evangelho, de Paulo e do próprio Cristianismo. O pior de tudo é que essas pessoas estavam infiltradas na igreja, e conseguiam até entrar em reuniões apostólicas.
A Presença dos Judaizantes
Esses “falsos irmãos”, identificados como judaizantes, não foram convidados oficialmente à reunião. Contudo, “conseguiram entrar” (v.4), agindo de forma subversiva para observar e contestar o Evangelho que Paulo pregava aos gentios. Esses homens eram inimigos da liberdade cristã, determinados a impor a circuncisão e outras práticas da Lei de Moisés como condições para a salvação. A expressão usada por Paulo em Gálatas 2.4 denota uma infiltração intencional e estratégica, mostrando a seriedade do risco que essas pessoas representavam para a unidade e a pureza doutrinária da igreja.
A Postura Firme de Paulo
Diante dessa pressão, Paulo manteve sua posição inabalável. Ele afirmou que, mesmo sob intensa oposição, “nem por uma hora” cedeu às demandas dos judaizantes (v.5). Essa resistência era necessária para preservar “a verdade do Evangelho” (v.5), garantindo que a mensagem de salvação permanecesse fundamentada na graça divina e não na obediência à Lei. O apóstolo compreendia que ceder às exigências dos judaizantes comprometeria a liberdade conquistada por Cristo e abriria precedentes perigosos para o futuro do Cristianismo.
A Infiltração na Igreja
O fato de os judaizantes terem acesso a reuniões com líderes apostólicos evidencia a vulnerabilidade da igreja primitiva em lidar com heresias internas. Essa infiltração não era apenas uma questão teológica, mas também estratégica, já que os opositores tentavam desestabilizar o trabalho de Paulo e enfraquecer o Evangelho entre os gentios. A situação descrita em Gálatas 2.4 ecoa o alerta de Jesus contra falsos profetas que se apresentam como ovelhas, mas são, na verdade, lobos vorazes (Mt 7.15). Também se alinha ao aviso de Paulo em Atos 20.29-30, sobre homens que se levantariam do próprio meio da igreja para perverter a verdade.
III – A TENDÊNCIA JUDAIZANTE HOJE
1- O mesmo Evangelho (vv.7-9).
O Evangelho é um só, não há dois. O Evangelho de Pedro e o de Paulo, também chamado respectivamente de Evangelho da Circuncisão e da Incircuncisão, são meras formas de apresentação, pois o conteúdo é o mesmo. Ambos receberam uma incumbência da parte de Deus, mas com audiências diferentes. O compromisso de Paulo era com os gentios, ele foi constituído, por Deus, apóstolo e doutor dos gentios (1 Tm 2.7; 2 Tm 1.11) para pregar aos não judeus (Rm 11.13); o de Pedro era com os judeus, mas a mensagem é a mesma.
Unidade na Mensagem, Diversidade nas Missões
Paulo refere-se ao “Evangelho da incircuncisão” (gentios) e ao “Evangelho da circuncisão” (judeus) como missões distintas atribuídas pelo Senhor, mas que têm o mesmo conteúdo redentor.Enquanto Pedro focava nos judeus como apóstolo enviado a eles, Paulo, o “apóstolo dos gentios” (1 Tm 2.7; 2 Tm 1.11), via sua missão como a ampliação do plano de salvação destinado, desde o início, a abençoar todas as nações (Gn 12.3; Rm 1.16). Ambos os apóstolos, embora com públicos distintos, permaneciam fiéis ao Evangelho, centralizado na graça e na redenção em Cristo.
A Persistência da Tendência Judaizante
Mesmo nos dias atuais, a tendência judaizante pode se manifestar de forma sutil, quando práticas legalistas se acrescem à mensagem do Evangelho. Essa adição contradiz a verdade fundamental de que a salvação é obtida unicamente pela graça mediante a fé em Jesus Cristo (Ef 2.8-9). Algumas denominações e grupos ainda insistem na necessidade de guardar elementos da Lei mosaica, como o sábado, ou impõem rituais judaicos como critérios para uma vida cristã plena. Embora respeitar tradições culturais e religiosas seja válido, transformá-las em requisitos para a salvação distorce o Evangelho.
O Evangelho Imutável e Universal
Independentemente das formas de abordagem, o Evangelho é uma mensagem única e imutável: a morte e ressurreição de Cristo como a única esperança para a humanidade (1 Co 15.3-4). A unidade dessa mensagem reflete o chamado universal de Deus, que não faz acepção de pessoas (At 10.34-35). Assim, como Pedro e Paulo respeitavam os contextos culturais de seus públicos, mas nunca sacrificavam o conteúdo do Evangelho, a igreja contemporânea deve contextualizar a mensagem sem alterá-la.
2- O perigo da doutrina judaizante.
Os apóstolos viam em tudo isso dois problemas sérios: ameaça à liberdade cristã e o perigo de o Cristianismo se tornar uma mera seita judaica. Os cristãos judaizantes alteravam o cerne do Evangelho, pois colocavam a Lei como complemento da obra que Jesus efetuou no Calvário. Era, de fato, “outro evangelho”, por isso o apóstolo Paulo os amaldiçoou (Gl 1.8,9). Na verdade, quem tem o Espírito Santo vive pelo Espírito. Então, contra a tendência judaizante é preciso aprender a viver na dependência do Espírito e não da Lei, lutando contra os vícios da carne e buscando as virtudes do fruto do Espírito.
A Liberdade em Cristo e a Dependência da Graça
A mensagem central do Evangelho é que somos salvos pela graça mediante a fé em Cristo, sem depender de obras ou do cumprimento da Lei (Ef 2.8-9). Os judaizantes comprometeram essa verdade ao afirmar que a salvação exigia circuncisão e adesão às práticas da Lei (At 15.1). Contudo, o apóstolo Paulo explica que a Lei foi um aio para nos conduzir a Cristo, mas, uma vez que a fé chegou, já não estamos sob sua tutela (Gl 3.24-25). A liberdade cristã implica que não somos mais escravos de rituais legais, mas livres para viver de acordo com o Espírito de Deus.
Outro Evangelho: O Perigo do Legalismo
A doutrina judaizante não era apenas um equívoco teológico; representava uma ameaça espiritual. Ao adicionar exigências legais à salvação, negava a suficiência do sacrifício de Cristo. Esse ensino contraria diretamente o Evangelho da graça, fundamentado na obra completa de Jesus (Hb 10.10-14). Paulo adverte que esse “outro evangelho” (Gl 1.7) não é realmente boas-novas, pois escraviza as pessoas em um sistema religioso incapaz de dar vida. Assim, ele confronta energicamente os falsos mestres, alertando que a mensagem deles deve ser rejeitada por completo.
Vivendo pelo Espírito, Não pela Lei
A resposta para resistir à influência da doutrina judaizante é viver pela dependência do Espírito Santo. Em Gálatas 5.16-18, Paulo incentiva os cristãos a andarem no Espírito, prometendo que assim não satisfarão os desejos da carne. Ele contrapõe as obras da carne, que levam à escravidão, ao fruto do Espírito, que produz verdadeira liberdade em Cristo (Gl 5.22-23). Essa liberdade não é uma licença para pecar, mas uma chamada para viver uma vida de amor e justiça que agrada a Deus.
3- As práticas judaizantes atuais.
Elas são basicamente a guarda do sábado, a observância rigorosa do kashrut (termo hebraico para as leis dietéticas do judaísmo), a liturgia da sinagoga, o uso do shofar, “trompa”, geralmente feito de chifre de carneiro; o uso de talit, o manto ou xale usado para oração; e, o uso do kippar, o solidéu que os judeus religiosos usam sobre a cabeça.
a) Os judeus. Os judeus messiânicos, principalmente em Israel, seguem a tradição judaica. Isso acontece simplesmente para preservar a identidade cultural deles e tem amparo neotestamentário: “É alguém chamado, estando circuncidado? Fique circuncidado” (1 Co 7.18a). Ou seja, na conversão a Cristo do judeu, ele não precisa mudar a sua tradição e cultura.
b) Os não judeus. Da mesma forma: “É alguém chamado, estando incircuncidado? Não se circuncide” (1 Co 7.18b). Ou seja, ele não precisa se judaizar. É erro o não judeu adotar práticas judaicas na liturgia e no dia a dia para imitar o Judaísmo. Paulo conclui: “Cada um fique na vocação em que foi chamado” (1 Co 7.20).
Práticas Judaizantes no Contexto Atual
Entre as práticas mais comuns estão a guarda do sábado, a observância rigorosa do kashrut (leis dietéticas do Judaísmo), o uso de elementos tradicionais como o shofar (chifre usado para proclamações), o talit (manto de oração) e o kippar (solidéu utilizado sobre a cabeça). Esses costumes têm significado cultural e religioso profundo para os judeus, mas sua introdução entre não judeus frequentemente resulta em debates sobre seu lugar na fé cristã.
a) Os Judeus Messiânicos
Os judeus messiânicos, especialmente em Israel, continuam a seguir tradições judaicas como uma forma de preservar sua identidade cultural. Essa prática encontra respaldo no Novo Testamento, como Paulo declara em 1 Coríntios 7.18a: “É alguém chamado, estando circuncidado? Fique circuncidado.” Assim, a conversão a Cristo não exige que um judeu abandone sua tradição e cultura, desde que isso não comprometa a essência do Evangelho.
b) Os Não Judeus
Por outro lado, Paulo instrui claramente os gentios convertidos a não assumirem práticas judaicas como requisitos para a fé. Ele afirma em 1 Coríntios 7.18b: “É alguém chamado, estando incircuncidado? Não se circuncide.” A adoção de costumes judaicos por gentios é vista como uma tentativa desnecessária de imitar o Judaísmo. O apóstolo reforça esse princípio ao concluir: “Cada um fique na vocação em que foi chamado” (1 Co 7.20).
CONCLUSÃO
O resultado da reunião foi desfavorável aos judaizantes. Só o fato de os apóstolos, sendo judeus, concordarem com a explicação sobre a especificidade de cada grupo dada por Paulo, já apontava o engano desses legalistas sobre a obra salvífica em Cristo. Esse resultado serviu tanto aos gálatas como a todo o Cristianismo nesses mais de vinte séculos de história. Assim, a diferença entre os judeus messiânicos e os cristãos judaizantes atuais é que os judeus estão preservando uma cultura hereditária do seu povo e os judaizantes colocando “remendo novo em pano velho” (Mt 9.16).
estava sentindo falta do conteudo atualizado das revistas, obrigado por passar um pouco do conhecimento, gloria seja ao nosso Deus