Conhecer a Palavra

Lição 11: Uma igreja hebreia na casa de um estrangeiro

Lição 11: Uma igreja hebreia na casa de um estrangeiro | EBD Adulto | 3º Trimestre 2025 | Comentarista : Pastor José Gonçalves

TEXTO ÁUREO

Respondeu, então, Pedro: Pode alguém, porventura, recusar a água, para que não sejam batizados estes que também receberam, como nós, o Espírito Santo?(At 10.47).

VERDADE PRÁTICA

O episódio da igreja hebreia na casa do gentio Cornélio demonstra que Deus não faz acepção de pessoas.

 

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE

Atos 10.1-8,21-23,44-48.

 

INTRODUÇÃO

Nesta semana, estudaremos sobre como a igreja judaica de Jerusalém deu um passo gigantesco quando foi chamada por Deus para compartilhar sua fé com pessoas de outras nações. O apóstolo Pedro foi escolhido divinamente para pregar as Boas-Novas da salvação aos gentios, o que na época não era aceitável. Atos 10 é uma das mais impressionantes histórias da Bíblia, onde fica evidente o grande amor e graça de Deus em salvar a todos aqueles que demonstrem fé na pessoa do seu bendito Filho, Jesus Cristo. Lucas destaca em seu livro que os gentios foram salvos e receberam o dom do Espírito da mesma forma que os judeus no Pentecostes.

Palavra-Chave:

ACEITAÇÃO

 

I. A REVELAÇÃO DE DEUS AOS GENTIOS

1. A visão de Cornélio.

Cornélio, um centurião romano da cidade de Cesareia, orava por volta das três horas da tarde quando teve uma revelação de Deus. Ele viu um anjo de Deus (At 10.3). Não é incomum, nas páginas das Escrituras, Deus se revelar por meio de anjos. Contudo, essa revelação se distingue de outras por conta de seu propósito: a inclusão dos gentios à Igreja do Senhor. Cornélio era um homem que tinha desejo de salvação, pois mesmo sendo um gentio, era piedoso e temente a Deus com toda a sua casa (At 10.2). No entanto, isso não era suficiente para salvá-lo. Ele precisava ouvir acerca da mensagem da cruz e o anjo de Deus estava ali para instruí-lo a como fazer. Não sendo a pregação do Evangelho missão para um anjo, Cornélio foi instruído a chamar o apóstolo Pedro para fazer isso (At 10.22).

Cornélio representa um exemplo da maneira como Deus age para conduzir os homens à salvação. Ele era um centurião romano, homem de destaque social e militar, mas isso não o tornava automaticamente herdeiro da vida eterna.

O texto bíblico afirma que ele era piedoso, temente a Deus e praticava boas obras (At 10.2). No entanto, a Escritura também mostra que tais virtudes não eram suficientes para garantir-lhe a salvação. Isso reforça a verdade ensinada em Efésios 2.8-9, de que a salvação é dom de Deus, pela graça, e não resultado de méritos humanos. Cornélio precisava ouvir a mensagem de Cristo, pois “a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus” (Rm 10.17).

A visão que ele recebeu às três horas da tarde demonstra como o Senhor responde àqueles que o buscam de coração sincero. O anjo foi enviado, mas não pregou o evangelho, porque a proclamação da cruz foi confiada à Igreja. Essa escolha divina ressalta o papel indispensável dos servos de Cristo na obra da evangelização. Se até mesmo um anjo do céu não anunciou a mensagem da salvação, mas orientou Cornélio a chamar Pedro, isso mostra que Deus confiou aos crentes a responsabilidade de testemunhar. Essa realidade também nos lembra as palavras de Paulo: “como pregarão, se não forem enviados?” (Rm 10.15).

Outro ponto importante é que essa revelação marcou a abertura do evangelho aos gentios. Até então, a mensagem de Cristo parecia restrita aos judeus, mas Cornélio se tornou símbolo da universalidade da graça. O fato de um homem romano ser chamado por Deus evidencia que não existem barreiras de etnia, cultura ou posição social que possam impedir a ação do Espírito Santo. Assim, o episódio ensina que todo aquele que busca a Deus pode encontrá-lo, pois o Senhor não faz acepção de pessoas (At 10.34-35).

2. A experiência espiritual de Pedro.

Assim como Cornélio, Pedro também teve uma revelação (At 10.10). Pedro teve uma experiência espiritual com visão e revelação divina, que o deixou perplexo (At 10.11,12). Deus sabia do impacto que a missão na casa do gentio Cornélio teria sobre as convicções de Pedro e, por isso, por meio dessa experiência espiritual, o prepara para o que viria pela frente. Pedro levaria as Boas-Novas do Evangelho a um povo que, para ele, estava excluído do plano salvífico de Deus. Ele sentiu o caráter excepcional dessa revelação e achou por bem levar consigo outros seis irmãos judeus naquela missão (At 10.23; 11.12; 15.7).

Pedro, ao estar em oração, teve uma experiência profunda que mudou não apenas sua visão pessoal, mas também o rumo da história da Igreja.

Enquanto orava, foi arrebatado em êxtase e contemplou uma visão que, a princípio, lhe causou perplexidade (At 10.10-12). Nela, descia do céu um lençol com vários animais, muitos considerados impuros segundo a Lei. A ordem divina para que ele matasse e comesse parecia contradizer tudo o que aprendera desde a infância como judeu. Entretanto, Deus estava conduzindo Pedro a compreender que o plano da salvação não estava limitado às tradições judaicas, mas se estendia a todas as nações.

Essa revelação não tratava apenas de alimentos, mas simbolizava pessoas. Aquilo que o judaísmo considerava impuro, Deus estava purificando. Pedro precisava entender que a graça alcançava também os gentios. O próprio Senhor lhe disse: “O que Deus purificou não chames tu comum” (At 10.15). A resistência inicial de Pedro mostra o quanto as barreiras culturais e religiosas são difíceis de ser quebradas, mas também revela a paciência de Deus em preparar seus servos para missões maiores. O apóstolo, que outrora negara Jesus por medo, agora seria instrumento para abrir oficialmente a porta do evangelho aos não judeus.

O impacto dessa experiência foi tão grande que Pedro decidiu não ir sozinho. Levou consigo seis irmãos judeus, testemunhas daquilo que o Espírito estava realizando (At 11.12). Essa atitude mostra discernimento e prudência, pois o acontecimento certamente geraria questionamentos entre os da circuncisão. Ele queria que houvesse provas vivas de que não estava agindo por iniciativa própria, mas guiado pela revelação divina. Mais tarde, quando relatou os fatos em Jerusalém, a presença dessas testemunhas reforçou a legitimidade de sua missão (At 15.7-9).

3. A urgência da pregação do Evangelho.

Deus ainda pode revelar a alguém o seu plano salvífico de forma excepcional, inclusive usando anjos eleitos, como fez na casa de Cornélio. Contudo, essa não é a maneira usual do Senhor trabalhar. A partir da verdade bíblica de que Deus quer salvar a todos (1Tm 2.4), a igreja deve levar adiante a grandiosa missão de pregar o Evangelho a toda criatura (Mc 16.15). Paulo afirmou que Deus achou por bem salvar os que creem por meio da pregação (1Co 1.21). Devemos, portanto, pregar. Não é preciso ninguém ficar esperando um anjo comissioná-lo a pregar o Evangelho. Deus já fez isso.

A urgência da pregação do Evangelho se revela no propósito eterno de Deus em alcançar toda a humanidade com a mensagem da salvação. O episódio da casa de Cornélio mostra que, embora o Senhor possa agir de forma extraordinária, enviando até mesmo um anjo, Ele determinou que a responsabilidade de anunciar a mensagem recaísse sobre a Igreja. Essa verdade é confirmada nas palavras de Jesus quando ordenou: “Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura” (Mc 16.15). Essa ordem não foi dada apenas aos apóstolos, mas a todos os discípulos ao longo das gerações. Portanto, cada crente deve compreender que faz parte dessa missão e que não existe desculpa para permanecer em silêncio.

O apóstolo Paulo destacou que a salvação se manifesta por meio da pregação da Palavra, e não por meios alternativos ou mágicos. Ele escreveu que “aprouve a Deus salvar os crentes pela loucura da pregação” (1Co 1.21).

Essa expressão demonstra que, aos olhos do mundo, a proclamação da cruz pode parecer fraca ou desnecessária, mas é justamente por meio dela que o poder de Deus opera transformação. A fé não surge de experiências místicas isoladas, mas do contato direto com a Palavra. Como Paulo também declarou: “a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus” (Rm 10.17).

Essa responsabilidade exige urgência, pois a salvação é para todos e o tempo é limitado. A vontade de Deus é que todos se arrependam e cheguem ao pleno conhecimento da verdade (1Tm 2.4; 2Pe 3.9). No entanto, muitos vivem sem conhecer a Cristo e caminham em direção à perdição eterna. Diante dessa realidade, a Igreja não pode esperar por circunstâncias ideais para pregar. A mensagem deve ser anunciada em todo tempo, seja de forma pública, pessoal ou por meio de testemunho de vida. Jesus advertiu que a noite vem, quando ninguém pode trabalhar (Jo 9.4). Isso mostra que o tempo de agir é agora.

Portanto, a missão evangelizadora não depende de anjos ou de manifestações sobrenaturais, mas da obediência da Igreja ao chamado divino. O Senhor já nos comissionou e capacitou pelo Espírito Santo para sermos testemunhas (At 1.8). O exemplo de Cornélio ensina que há muitas pessoas sedentas de ouvir a verdade, mas elas só crerão se alguém lhes anunciar. Assim, cabe a cada crente assumir a responsabilidade de compartilhar o evangelho com amor e convicção, entendendo que cada oportunidade pode significar a diferença entre a vida eterna e a perdição para quem ouve.

II. A SALVAÇÃO DOS GENTIOS

1. Pregação aos gentios.

Pedro recebeu a missão de pregar para Cornélio e sua casa (At 11.14). Sua pregação é totalmente cristocêntrica, sempre apontando para a cruz de Cristo. Assim, podemos perceber alguns eixos principais que sua mensagem percorria. Primeiramente, Deus ama a todos (At 10.34). Todas as pessoas, quer judeus quer gentios, são objeto do amor de Deus. Em segundo lugar, Deus quer salvar a todos (At 10.35). Deus não somente ama a todos, mas quer salvar a todos. Pedro agora reconhece que a salvação não é apenas para os judeus que guardam a Lei, mas também para todo aquele que em qualquer nação o “teme”. Em terceiro lugar, Cristo é o Senhor de todos (At 10.36). Cristo é o centro do Evangelho. Ele é o eixo em torno do qual todas as bênçãos espirituais se encontram. Estar em Cristo é estar salvo; não estar em Cristo é não estar salvo!

A pregação de Pedro na casa de Cornélio se tornou um marco na expansão do evangelho, pois abriu definitivamente as portas da salvação aos gentios.

Até aquele momento, muitos judeus entendiam que a graça de Deus estava limitada ao seu povo, mas a mensagem proclamada por Pedro mostrou que o amor do Senhor alcança a todos. O apóstolo reconheceu que Deus não faz acepção de pessoas (At 10.34) e que em qualquer nação aquele que o teme é aceito por Ele (At 10.35). Essa declaração rompeu séculos de barreiras culturais e religiosas, revelando que a salvação não está condicionada a uma linhagem étnica ou ao cumprimento de tradições, mas à fé em Jesus Cristo.

A centralidade da mensagem de Pedro também chama a atenção. Ele não pregou sobre costumes judaicos, nem buscou impor a lei cerimonial aos gentios. Seu sermão foi totalmente cristocêntrico, apresentando Jesus como o Senhor de todos (At 10.36). Essa ênfase demonstra que o coração da pregação da Igreja deve estar sempre na cruz e na ressurreição do Salvador. O próprio apóstolo Paulo mais tarde reforçou essa verdade ao afirmar que nada quis saber entre os coríntios “senão a Jesus Cristo, e este crucificado” (1Co 2.2). Portanto, o centro da mensagem não pode ser outro senão Cristo, pois somente nEle está a reconciliação entre Deus e os homens.

Outro ponto essencial é que Pedro não apresentou Cristo apenas como Salvador, mas também como Senhor. Reconhecer Jesus como Senhor implica em submissão e obediência, algo que transcende o simples ato de ouvir uma pregação. O evangelho não é apenas um convite para receber bênçãos, mas um chamado para viver sob o governo de Cristo. Nesse sentido, a pregação apostólica mostra que estar em Cristo significa estar salvo, mas rejeitá-lo é permanecer perdido (Jo 3.36).

2. A conversão dos gentios.

A mensagem da cruz é um chamado ao arrependimento (At 10.43). Todos os que, arrependidos, creem em Cristo, serão perdoados, e, portanto, salvos. Na sua soberania e graça, Deus havia incluído no seu plano de salvação todos os não judeus que, arrependidos, professariam o nome do Senhor Jesus. Ninguém é salvo à força; é preciso crer em Cristo para receber a salvação. Tanto judeus quanto gentios necessitam se arrepender para ser salvos. Os judeus acreditavam que o privilégio da salvação era exclusividade deles e que, portanto, os gentios estavam excluídos. O Criador havia mostrado que isso era um erro. Posteriormente, os judeus convertidos reconheceram maravilhados que Deus, por meio do arrependimento, abriu a porta da fé para os gentios (At 11.18). Portanto, Ele salvou os gentios que demonstraram fé em Jesus e se arrependeram de seus pecados.

A conversão dos gentios na casa de Cornélio mostra de forma clara que a salvação está disponível a todos os que se arrependem e creem em Jesus Cristo.

Pedro, ao pregar, destacou que “todo aquele que nele crê receberá remissão dos pecados pelo seu nome” (At 10.43). Essa promessa é universal, não está limitada a um povo ou cultura, mas se estende a todos que, arrependidos, depositam sua fé em Cristo. O arrependimento, portanto, é o ponto de partida para a verdadeira conversão, pois não há perdão sem reconhecer o pecado e buscar a misericórdia divina.

A reação dos judeus convertidos diante da conversão dos gentios revela como o plano de Deus é maior do que as expectativas humanas. Eles se admiraram ao ver que o mesmo dom do Espírito Santo que receberam em Pentecostes também foi concedido aos gentios (At 10.45). Essa experiência quebrou de uma vez por todas a ideia de exclusividade judaica na salvação. A graça mostrou-se abundante e imparcial, revelando que Deus não faz distinção entre pessoas. Essa realidade confirma o que Paulo mais tarde escreveu: “Não há diferença entre judeu e grego; porque um mesmo é o Senhor de todos, rico para com todos os que o invocam” (Rm 10.12).

É importante ressaltar que ninguém é salvo de forma automática ou forçada. A salvação não acontece por herança familiar, tradição religiosa ou méritos pessoais. Tanto judeus quanto gentios precisam atender ao chamado divino para o arrependimento. Jesus mesmo afirmou que quem não nascer de novo não pode ver o reino de Deus (Jo 3.3). Isso mostra que o evangelho exige uma decisão consciente: crer no sacrifício de Cristo e se submeter à sua autoridade.

III. O ESPÍRITO DERRAMADO SOBRE OS GENTIOS

1. O Espírito prometido.

O batismo no Espírito Santo experimentado pelos gentios na casa de Cornélio (At 10.44-46) foi um dos fatos mais marcantes que aconteceu nos dias da Igreja Primitiva. Anos mais tarde, durante o primeiro Concílio da Igreja em Jerusalém, Pedro faz referência a esse fato como sendo uma das promessas feitas por Deus aos gentios (At 15.16). Assim, o recebimento do Espírito Santo, incluindo a experiência pentecostal do batismo no Espírito Santo, era a “bênção de Abraão” feita aos gentios (Gl 3.14).

Pedro já havia dito, citando a profecia do profeta Joel (Jl 2.28), que o batismo no Espírito Santo era uma promessa de Deus a “toda carne” (At 2.17). A promessa, portanto, não se limitava mais aos judeus, nem tampouco a uma classe especial (reis, profetas e sacerdotes), mas a todos quantos nosso Deus chamar (At 2.39). Eu, você e todos os que creem em Cristo somos contemplados com essa promessa de Deus.

O derramamento do Espírito Santo na casa de Cornélio marcou uma nova etapa no cumprimento das promessas divinas.

Até então, muitos judeus entendiam que a promessa do Espírito se limitava ao seu povo, mas o Senhor demonstrou que também os gentios eram participantes da mesma graça. Enquanto Pedro ainda pregava, o Espírito Santo desceu sobre todos os que ouviam a palavra (At 10.44), e isso se manifestou de maneira visível, pois começaram a falar em línguas e a exaltar a Deus (At 10.46). O batismo no Espírito Santo, que no início foi experimentado apenas pelos judeus no dia de Pentecostes, agora alcançava também aqueles que estavam fora da circuncisão, confirmando que a promessa era para todos.

Essa realidade foi tão impactante que Pedro, anos depois, ao relatar os acontecimentos no Concílio de Jerusalém, afirmou que Deus não fez diferença entre eles e os gentios, mas concedeu o mesmo dom (At 15.8-9). Isso cumpria as palavras do profeta Joel, já citadas por Pedro em seu primeiro sermão: “derramarei do meu Espírito sobre toda a carne” (At 2.17; Jl 2.28). Assim, o Espírito não era privilégio de uma nação, nem de uma classe específica como reis, profetas ou sacerdotes. A promessa se estendia a todos quantos o Senhor chamasse (At 2.39), revelando a universalidade da graça e a grandeza do plano de Deus.

Paulo também reforça esse entendimento ao declarar que a “bênção de Abraão” chegou até os gentios em Cristo, para que recebessem a promessa do Espírito mediante a fé (Gl 3.14).

Dessa forma, fica evidente que o batismo no Espírito Santo não é apenas um adorno espiritual, mas uma promessa cumprida que capacita a Igreja a testemunhar com poder. O próprio Jesus havia dito: “recebereis a virtude do Espírito Santo, que há de vir sobre vós; e ser-me-eis testemunhas” (At 1.8). Essa virtude se manifestou tanto em Jerusalém quanto em Cesareia, mostrando que a missão da Igreja só pode ser cumprida com a presença e o poder do Espírito.

2. O Espírito recebido.

Como vimos, logo após os gentios terem “recebido a Palavra de Deus” (At 11.1), isto é, se convertido à fé cristã, o Espírito Santo foi derramado sobre os crentes gentios de Cesareia: “E os fiéis que eram da circuncisão, todos quantos tinham vindo com Pedro, maravilharam-se de que o dom do Espírito Santo se derramasse também sobre os gentios” (At 10.45). Esse derramamento do Espírito veio acompanhado pela evidência física do falar em outras línguas e expressões de louvor, que aparece aqui como um padrão já aceito pela comunidade cristã: “Porque os ouviam falar em línguas e magnificar a Deus” (At 10.46).

O recebimento do Espírito Santo pelos gentios em Cesareia foi um marco inquestionável da obra de Deus entre todas as nações. O texto bíblico deixa claro que primeiro eles receberam a Palavra, ou seja, creram na mensagem de Cristo, e em seguida o Espírito Santo foi derramado sobre eles (At 11.1; 10.44). Essa ordem revela que a fé em Jesus é a condição para que alguém seja participante dessa promessa. O que surpreendeu os judeus convertidos que estavam com Pedro foi justamente o fato de que o mesmo dom do Espírito, que eles haviam experimentado no Pentecostes, agora se manifestava também sobre os gentios (At 10.45). Isso desmontou qualquer argumento de que a graça era restrita a Israel, pois Deus confirmava com sinais que a salvação alcançava a todos.

A evidência do recebimento do Espírito se deu pelo falar em línguas e pela exaltação a Deus (At 10.46).

Esse sinal visível não era algo estranho à comunidade cristã primitiva, pois desde Atos 2 já estava estabelecido como manifestação do batismo no Espírito Santo. O fato de os gentios falarem em outras línguas, do mesmo modo que os discípulos em Jerusalém, serviu como testemunho incontestável de que Deus os havia incluído na promessa. Essa evidência também serviu de confirmação diante dos judeus que acompanhavam Pedro, removendo dúvidas e barreiras culturais. Eles não poderiam negar que o Espírito havia sido derramado, pois ouviam claramente as manifestações de poder vindas do alto.

Além do falar em línguas, o texto destaca que eles glorificavam a Deus. Isso mostra que a obra do Espírito Santo não se resume a sinais exteriores, mas conduz a um coração cheio de adoração e louvor. O derramamento do Espírito não apenas autentica a fé, mas também transforma a vida do crente em instrumento de glorificação ao Senhor. Paulo mais tarde reforça esse princípio ao declarar que “ninguém pode dizer que Jesus é o Senhor, senão pelo Espírito Santo” (1Co 12.3). Assim, a adoração que flui do coração dos gentios em Cesareia foi a maior prova de que estavam verdadeiramente cheios do Espírito.

3. Um pentecoste “visto” e “ouvido”.

Posteriormente, quando questionado e censurado por outros judeus por ter ido à casa de um gentio em Cesareia, Pedro usou a experiência pentecostal ocorrida na casa de Cornélio como argumento a favor da autenticidade da fé gentílica. Na argumentação de Pedro, os gentios haviam recebido a mesma experiência pentecostal que eles haviam recebido no dia de Pentecostes (At 2.4), inclusive com a manifestação do fenômeno das línguas (At 11.15-18). Em outras palavras, o Pentecostes gentílico, assim como o Pentecostes judaico, foi marcado pela experiência do Espírito. Em ambos os casos, foi um Pentecostes “visto” e “ouvido”.

A experiência pentecostal na casa de Cornélio se apresenta como uma confirmação clara de que Deus estende a sua promessa a todos os povos. Quando Pedro foi questionado pelos irmãos judeus sobre sua ida à casa de um gentio, ele não se apoiou apenas em sua palavra ou julgamento pessoal, mas apresentou evidências concretas: os gentios haviam recebido o Espírito Santo da mesma forma que os judeus haviam experimentado no dia de Pentecostes (At 11.15-18). Esse derramamento não foi apenas espiritual, mas também visível e audível, pois os gentios falavam em outras línguas e exaltavam a Deus, sinais que demonstravam de maneira inequívoca a presença do Espírito.

Essa manifestação deixou claro que a experiência do Espírito Santo não estava limitada a uma etnia ou grupo específico.

Tanto o Pentecostes judaico quanto o gentílico mostraram o mesmo padrão: o Espírito Santo desce, a fé é confirmada e a Igreja testemunha sinais que não deixam dúvidas quanto à ação divina. Paulo reforça essa verdade quando fala que o Espírito distribui seus dons a cada um segundo a vontade de Deus (1Co 12.11), mostrando que a obra do Espírito é inclusiva e soberana. A evidência visível e audível, portanto, não serve apenas como sinal externo, mas como confirmação do plano de Deus para toda a humanidade.

Além disso, o Pentecostes “visto” e “ouvido” reforça o caráter universal do evangelho. Ele desmonta qualquer preconceito ou limitação humana sobre quem pode ou não receber a promessa. O testemunho de Pedro diante dos irmãos judeus evidencia que a fé genuína, acompanhada pela obra do Espírito, é reconhecida por Deus independentemente de raça, cultura ou tradição. Essa lição continua atual: a obra do Espírito na vida dos crentes é sempre acompanhada de sinais que confirmam a autenticidade da fé, fortalecendo a Igreja a compreender e aceitar a inclusão de todos os que se arrependem e creem em Cristo.

Portanto, o Pentecostes vivido pelos gentios em Cesareia não apenas repetiu o padrão de Jerusalém, mas mostrou que o Espírito Santo cumpre suas promessas de forma universal. A experiência “vista” e “ouvida” é testemunho de que Deus confirma a fé de cada crente, capacitando-os a viver em comunhão com Ele e a proclamar o evangelho com poder e convicção.

CONCLUSÃO

A graça de Deus se manifestou trazendo salvação a todas as pessoas (Tt 2.11). A missão da igreja na casa do gentio Cornélio mostra como o amor de Deus pode alcançar todas a pessoas, independentemente de cor e raça, que abrem o seu coração à poderosa mensagem da cruz. Aqui também vemos que a fé evangélica não é algo subjetivo, mas marcada pela ação e presença real do Espírito Santo na vida daquele que crer.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *