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Subsidio Lição 2: A Igreja de Jerusalém: um modelo a ser seguido

Subsidio Lição 2: A Igreja de Jerusalém: um modelo a ser seguido

Subsidio Lição 2: A Igreja de Jerusalém: um modelo a ser seguido | EBD Adulto| 3º Trimestre 2025 | Pastor José Gonçalves

TEXTO ÁUREO

E perseveravam na doutrina dos apóstolos, e na comunhão, e no partir do pão, e nas orações.(At 2.42).

VERDADE PRÁTICA

A Igreja de Jerusalém, como igreja-mãe, tornou-se exemplo para as demais. Um modelo a ser seguido por todas as igrejas verdadeiramente bíblicas.

LEITURA BÍBLICA EM CLASSE

Atos 2.37-47.

 

INTRODUÇÃO

Por ser a Igreja-mãe, Jerusalém torna-se o modelo para as demais igrejas que foram implantadas. É de Jerusalém que partem as decisões que buscam, por exemplo, disciplinar e padronizar determinadas práticas cristãs. A igreja de Jerusalém já nasce forte! Sendo de origem divina, cheia do Espírito Santo e supervisionada pelos apóstolos, essa igreja é bem alicerçada. Isso fica claro no ministério da Palavra, a quem os apóstolos se devotaram inteiramente e ao exercício dos diversos dons que abundavam no seu meio. É, portanto, uma igreja da Palavra e do Espírito. E mais — é uma igreja onde a observância das ordenanças de Cristo é praticada na esfera do culto cristão. Assim, a igreja cristã primitiva exibe marcas que se tornaram um padrão para todas as igrejas em todas as épocas e lugares.

 

Palavra-Chave:

MODELO

 

I. UMA IGREJA COM SÓLIDOS ALICERCES

1. Uma igreja com fundamento doutrinário.

A igreja de Jerusalém era uma igreja bem doutrinada. Lucas diz que, antes de ascender aos céus, Cristo deu “mandamentos, pelo Espírito Santo, aos apóstolos que escolhera” (At 1.2). Uma igreja genuinamente cristã reflete a prática e os ensinos dos apóstolos. É exatamente isso o que o livro de Atos diz da primeira igreja: “E perseveravam na doutrina dos apóstolos” (At 2.42). Uma igreja só pode ser considerada genuinamente cristã quando ela consegue ensinar e doutrinar seus membros de tal forma que eles passem a refletir o caráter de Cristo.

A igreja verdadeira precisa estar firmada na doutrina. Desde o início, a igreja de Jerusalém se destacou pela fidelidade aos ensinamentos dos apóstolos, transmitidos diretamente por Jesus (At 1.2). Essa doutrina não vinha de opiniões ou tradições humanas, mas era inspirada pelo Espírito Santo e fundamentada nas palavras de Cristo.

A Bíblia afirma que eles “perseveravam na doutrina dos apóstolos” (At 2.42), o que nos mostra que não era uma adesão momentânea, mas um compromisso constante, diário e prático com a verdade.

Uma igreja sem doutrina sólida perde sua identidade espiritual e facilmente se deixa levar por ventos de falsas doutrinas. O apóstolo Paulo alerta em Efésios 4.14 que não devemos ser “como meninos, inconstantes, levados em roda por todo vento de doutrina”.

Infelizmente, muitas igrejas hoje têm priorizado entretenimento, emocionalismo e experiências superficiais, deixando de lado o ensino sistemático da Palavra de Deus. Isso gera crentes fracos, imaturos e facilmente enganados. Jesus deixou claro que aqueles que permanecem em sua palavra são verdadeiramente seus discípulos e que conhecerão a verdade, e a verdade os libertará (Jo 8.31-32).

Portanto, uma igreja verdadeiramente cristã é aquela que forma discípulos bem instruídos, que conhecem as Escrituras, sabem no que creem e vivem de acordo com os princípios do Reino de Deus. A doutrina não é algo opcional, mas essencial para moldar o caráter do cristão, fortalecê-lo espiritualmente e prepará-lo para enfrentar os desafios da vida cristã.

Como está escrito em 2 Timóteo 3.16-17, “Toda a Escritura divinamente inspirada é proveitosa para ensinar, para redarguir, para corrigir, para instruir em justiça; para que o homem de Deus seja perfeito, e perfeitamente instruído para toda boa obra”. Sem esse alicerce, a igreja se torna vulnerável, mas, quando permanece na sã doutrina, ela se mantém firme, refletindo o caráter de Cristo e cumprindo sua missão na terra.

2. “Perseveravam na doutrina dos apóstolos” (At 2.42).

A expressão diz muito sobre o processo de discipulado da igreja de Jerusalém. Era uma igreja bem doutrinada, e, portanto, bem discipulada. A palavra “doutrina” traduz o termo grego didaché, que significa “ensinar” e “instruir”. Tem a ver, portanto, com o discipulado cristão. O discípulo é alguém que consegue reproduzir, isto é, levar adiante o que aprendeu de seu Mestre. Os apóstolos aprenderam de Cristo; a igreja cristã primitiva aprendeu dos apóstolos e agora vivia isso a fim de transmitir a outros o que aprendeu. A tragédia da igreja acontece quando ela não consegue ser discipulada, nem tampouco discipular.

A perseverança na doutrina dos apóstolos, mencionada em Atos 2.42, revela uma prática essencial para a saúde espiritual da igreja: o discipulado. A palavra “doutrina”, do grego didaché, carrega exatamente essa ideia de ensino, transmissão de conhecimento e formação espiritual. A igreja de Jerusalém não era apenas um grupo de pessoas reunidas para cultuar, mas uma comunidade comprometida com o aprendizado contínuo das verdades ensinadas pelos apóstolos, que, por sua vez, haviam recebido diretamente de Jesus.

Esse processo de discipulado era fundamental, pois permitia que cada crente não apenas absorvesse o ensino, mas também se tornasse capaz de reproduzi-lo, formando outros discípulos.

O verdadeiro discípulo não é aquele que simplesmente ouve, mas aquele que aprende, pratica e transmite o que recebeu. Foi exatamente isso que Jesus ordenou em Mateus 28.19-20, quando disse: “Portanto, ide, ensinai todas as nações… ensinando-as a guardar todas as coisas que eu vos tenho mandado”. Esse padrão foi seguido pela igreja primitiva, e é ele que deve ser mantido até os dias de hoje.

No entanto, quando a igreja falha nesse compromisso com o ensino e com o discipulado, surgem sérias consequências. Crentes despreparados, sem conhecimento da Palavra, tornam-se vulneráveis ao erro, ao engano e às heresias, exatamente como Paulo advertiu em 2 Timóteo 4.3-4, ao dizer que viria um tempo em que muitos não suportariam a sã doutrina e se voltariam às fábulas.

A tragédia espiritual se instala quando a igreja deixa de ser um ambiente de formação e se torna apenas um espaço de reuniões esporádicas, sem compromisso real com o crescimento espiritual dos seus membros. Por isso, perseverar na doutrina não é uma opção, mas uma necessidade urgente e inegociável. A missão da igreja não se resume a reunir pessoas, mas a formar discípulos que conheçam a Cristo, que vivam segundo seus ensinamentos e que sejam capazes de ensinar a outros, mantendo viva a chama da fé e da verdade em cada geração.

3. Uma igreja relacional e piedosa.

A igreja de Jerusalém perseverava na “comunhão” (At 2.42). A maioria dos intérpretes entende que a palavra grega koinonia, traduzida aqui como “comunhão” é uma referência às relações interpessoais dos primitivos cristãos. A primeira igreja era, portanto, uma igreja relacional. Assim, perseverar na comunhão tem o sentido de “se dedicar” à construção de bons relacionamentos. Tem a ver com o modo de vida dos crentes. Sem o cultivo de relações interpessoais fortes, a igreja cai em um mero ativismo. Há muita atividade, mas sem o calor humano que caracteriza a verdadeira vida cristã.

A mesma igreja que perseverava na doutrina dos apóstolos e na comunhão era a mesma igreja que vivia em oração (At 2.42). A igreja de Jerusalém orava! Assim, Pedro e João foram ao templo na hora nona de oração (At 3.1); os apóstolos estabeleceram como prática dedicar-se à oração (At 6.4) e a Igreja reunida na casa de Maria, mãe de Marcos, se dedicava à oração (At 12.5).

A igreja de Jerusalém se destacava não apenas por sua firmeza na doutrina, mas também por ser uma comunidade profundamente relacional e piedosa.

O termo grego koinonia, traduzido como “comunhão”, carrega a ideia de participação mútua, companheirismo e partilha de vida. Isso significa que os irmãos da igreja primitiva cultivavam relacionamentos sinceros, onde havia cuidado, amor, auxílio e encorajamento mútuo. Eles entendiam que fazer parte da igreja não era apenas frequentar reuniões, mas caminhar juntos, compartilhando alegrias, dificuldades e, acima de tudo, a fé em Cristo.

Perseverar na comunhão é dedicar-se intencionalmente à construção de vínculos que refletem o amor de Deus. Infelizmente, quando uma igreja perde essa dimensão relacional, ela corre o risco de se transformar em uma instituição fria, marcada apenas por eventos, atividades e rotinas sem vida espiritual. Nesse cenário, o ativismo substitui o relacionamento, e os membros passam a ser meros frequentadores, desconectados uns dos outros e sem experiências genuínas de amor cristão. Por isso, o apóstolo Paulo exorta em Romanos 12.10: “Amai-vos cordialmente uns aos outros com amor fraternal, preferindo-vos em honra uns aos outros”. O amor, a empatia e o serviço mútuo são marcas incontestáveis de uma igreja viva e saudável.

Além de relacional, aquela igreja era também uma comunidade piedosa, marcada pela prática constante da oração.

Eles entendiam que a comunhão com Deus era tão essencial quanto a comunhão entre irmãos. A oração fazia parte da vida diária da igreja. Atos 3.1 mostra Pedro e João subindo ao templo na hora nona para orar, demonstrando que a vida de oração era uma prática natural e indispensável. Os apóstolos, ao enfrentarem as muitas demandas do ministério, estabeleceram como prioridade a dedicação à oração e ao ministério da Palavra (At 6.4), revelando que uma igreja forte espiritualmente é uma igreja que ora.

Esse compromisso com a oração não era apenas individual, mas coletivo. Quando Pedro foi preso, por exemplo, a igreja se reuniu na casa de Maria, mãe de Marcos, para orar insistentemente por sua libertação (At 12.5). Isso evidencia que a piedade e a dependência de Deus eram pilares fundamentais da vida da igreja. Uma igreja que não ora perde sua força espiritual, enfraquece diante das lutas e se distancia da vontade de Deus. Portanto, uma igreja verdadeiramente cristã precisa ser relacional, onde os irmãos se amam e se ajudam, e piedosa, onde todos vivem em constante comunhão com Deus por meio da oração. É assim que se mantém viva, fortalecida e relevante na missão que lhe foi confiada.

II. UMA IGREJA OBSERVADORA DOS SÍMBOLOS CRISTÃOS

1. O Batismo.

Após o primeiro sermão do apóstolo Pedro na igreja de Jerusalém, e como resposta a uma pergunta, ele disse ao povo: “Arrependei-vos, e cada um de vós seja batizado em nome de Jesus Cristo para perdão dos pecados” (At 2.38). Naquela época, a primeira igreja batizava quem se convertia. Ela sabia que o batismo era uma das ordenanças de Jesus e que ele era um dos principais símbolos da fé cristã (Mc 16.16).

O batismo era um dos primeiros passos da fé cristã, um rito de entrada para a nova vida em Cristo. Mas para ser batizado, a pessoa precisava ter se arrependido dos seus pecados e crido em Jesus. Era preciso ter consciência do sentido desse símbolo de fé. Assim, o batismo era um testemunho público de que a pessoa havia se convertido. Por meio dele, os cristãos de Jerusalém mostravam ao mundo que sua vida agora era diferente, que eles tinham uma nova vida em Cristo.

Desde os primeiros dias da igreja primitiva, como vemos no relato de Atos 2.38, ele foi estabelecido como uma resposta natural e necessária ao arrependimento e à fé em Jesus Cristo.

O apóstolo Pedro deixou claro que, ao se arrepender, cada pessoa deveria ser batizada como expressão de sua decisão por Cristo e como sinal de que seus pecados foram perdoados.

O batismo, portanto, não é apenas um ato simbólico, mas uma pública declaração de que alguém rompeu com o mundo e assumiu um compromisso com Deus. Ele simboliza a morte do velho homem, sepultado com Cristo, e o nascimento de uma nova criatura, ressuscitada para uma nova vida, como ensina o apóstolo Paulo em Romanos 6.4. É impossível dissociar o batismo verdadeiro da fé e do arrependimento genuíno, pois ele não tem valor se não for precedido pela conversão sincera.

Por isso, na prática da igreja primitiva, não se batizavam crianças ou pessoas sem entendimento, pois o batismo exige consciência, fé e arrependimento. A pessoa batizada está, diante da igreja, declarando que morreu para o pecado e que deseja viver em novidade de vida, guiada pela Palavra de Deus e pela ação do Espírito Santo.

É importante lembrar que o próprio Senhor Jesus, mesmo sendo sem pecado, quis ser batizado, deixando-nos exemplo de obediência (Mt 3.13-17). Quando alguém se submete às águas batismais, ela está reconhecendo que pertence ao Reino de Deus e assume o compromisso de viver segundo os princípios do Evangelho.

Além disso, o batismo é um testemunho não só para a igreja, mas também para o mundo espiritual, indicando que aquela vida agora está separada para Deus. Por isso, é necessário entender que o batismo não salva por si só, pois a salvação vem unicamente pela graça, mediante a fé, como está escrito em Efésios 2.8-9. Contudo, aquele que verdadeiramente creu e nasceu de novo não pode negligenciar essa ordenança, pois ela faz parte da obediência à vontade de Cristo.

2. A Ceia do Senhor.

A Ceia do Senhor é a outra ordenança dada por Jesus e que foi observada pela igreja de Jerusalém. “E perseveravam… no partir do pão” (At 2.42). A maioria dos estudiosos concorda que esse texto é uma referência à prática da Ceia do Senhor entre os primeiros cristãos. Donald Gee, um dos principais mestres do pentecostalismo britânico, disse que, quando tomada corretamente, a Ceia leva a Igreja ao próprio coração de sua fé; ao próprio centro do Evangelho; ao objeto supremo do amor de Deus. Portanto, quão abençoado é esse “partir do pão”! Parece provável que os primeiros cristãos, combinando essa ordenança simples com a “festa do amor” de sua refeição comum, lembravam assim a morte do Senhor “todos os dias” (At 2.42-46).

A Ceia do Senhor ocupa um lugar de grande importância na vida da igreja, pois é um ato que mantém viva a lembrança do sacrifício de Jesus e reafirma a comunhão dos crentes com Deus e entre si.

Ao participarem do partir do pão, os discípulos mantinham-se conscientes de que sua redenção custou o sangue do Filho de Deus, e que viver em comunhão era uma expressão dessa graça recebida.

A Ceia não é apenas um momento de memória, mas também um tempo de reflexão e compromisso. Cada elemento que compõe esse ato carrega um simbolismo poderoso: o pão representa o corpo de Cristo, que foi entregue, e o cálice representa o seu sangue, que foi derramado como selo da nova aliança. Ao tomarmos desses elementos, declaramos que pertencemos ao povo de Deus e que somos participantes das promessas feitas através do sacrifício do Calvário.

Contudo, participar da Ceia exige responsabilidade espiritual. A Palavra de Deus orienta que cada um examine a si mesmo antes de participar (1 Co 11.28).

Isso nos lembra que não se trata de um costume religioso qualquer, mas de um encontro reverente com o Deus que nos salvou. A Ceia é também um momento de unidade, pois revela que, embora sejamos muitos, formamos um só corpo em Cristo, chamados a viver em amor, perdão e comunhão sincera.

Além disso, a Ceia do Senhor não apenas aponta para o passado, quando Jesus deu sua vida por nós, mas também projeta nosso olhar para o futuro. Cada vez que participamos dela, estamos anunciando que Jesus voltará, como afirma 1 Coríntios 11.26. Essa esperança renova nossa fé e fortalece nosso compromisso de viver de modo santo e irrepreensível até o dia em que estaremos reunidos com Ele nas bodas do Cordeiro.

III. UMA IGREJA MODELO

1. Uma igreja reverente e cheia de dons.

É dito da igreja de Jerusalém: “Em cada alma havia temor” (At 2.43). A palavra grega traduzida como “temor” é phóbos, que também significa “reverência, respeito pelo sagrado”. Havia um forte sentimento da presença de Deus! Havia um clima da presença do sagrado, do que é santo, o mesmo sentido que teve Moisés quando o Senhor o mandou tirar os sapatos dos pés porque o lugar “é terra santa” (Êx 3.5). Precisamos aprender com a primeira igreja! Não podemos perder o respeito pelo sagrado.

Lucas destaca que “muitas maravilhas e sinais se faziam pelos apóstolos” (At 2.43). “Sinais (gr. Téras) e maravilhas (gr. Sémeion)” são as mesmas palavras usadas pelo apóstolo Paulo para se referir aos dons do Espírito Santo que se manifestavam em suas ações missionárias (Rm 15.19). Os dons espirituais ornamentavam a igreja cristã primitiva.

A igreja de Jerusalém se destacava por viver profundamente marcada pela reverência e pela manifestação do poder de Deus. Quando Lucas afirma que “em cada alma havia temor” (At 2.43), ele não está falando de medo comum, mas de um profundo respeito pela presença de Deus, uma consciência viva do sagrado.

Esse temor não era algo forçado, mas nascia da convicção de que Deus estava no meio deles, agindo de forma real e poderosa. Era o mesmo sentimento que tomou conta de Moisés diante da sarça ardente, quando ouviu do Senhor que o lugar onde estava era terra santa (Êx 3.5). A igreja primitiva nos ensina que a presença de Deus deve gerar em nós reverência, quebrantamento e profundo respeito pelas coisas espirituais.

Infelizmente, muitos em nossos dias parecem ter perdido essa percepção do que é santo. Vivemos em uma geração que, muitas vezes, banaliza a fé, trata as coisas de Deus com irreverência e transforma momentos sagrados em simples formalidades ou espetáculos. No entanto, olhando para a igreja de Atos, entendemos que uma igreja cheia do Espírito é também uma igreja que vive em temor, onde cada culto, cada oração e cada reunião são encarados como encontros com o Deus vivo, o Todo-Poderoso.

Além dessa reverência, era notável que os dons espirituais operavam de maneira abundante na vida da igreja.

O texto diz que “muitas maravilhas e sinais se faziam pelos apóstolos”, revelando que o Espírito Santo confirmava a pregação do Evangelho com manifestações sobrenaturais. Esses sinais não eram apenas demonstrações de poder, mas serviam como testemunho de que Jesus estava vivo e que sua Palavra era verdadeira. Assim como o apóstolo Paulo também afirmou que sua obra missionária foi acompanhada de “poder, de sinais e prodígios” (Rm 15.19), a igreja primitiva experimentava diariamente os dons como parte natural da vida cristã.

É importante compreender que esses dons não eram privilégios apenas dos apóstolos, mas estavam disponíveis para toda a igreja, como Paulo explica em 1 Coríntios 12. Eles não existiam para exaltar pessoas, mas para edificação do Corpo de Cristo, para socorrer os necessitados, fortalecer os crentes e confirmar a pregação do Evangelho. Uma igreja verdadeiramente cheia do Espírito é aquela que cultiva tanto a reverência quanto a operação dos dons, pois ambos caminham juntos no propósito de glorificar a Deus.

2. Uma igreja acolhedora.

Dentre as muitas marcas de uma igreja relevante, o acolhimento aparece como uma das suas principais. Uma igreja, para se tornar relevante, necessariamente deve ser acolhedora. A igreja de Jerusalém é um modelo de igreja acolhedora. Além de estarem juntos, o texto bíblico diz que naquela igreja “todos os que criam estavam juntos e tinham tudo em comum” (At 2.44). Não é fácil partilhar, muito menos acolher. A nossa tendência é nos fechar em nosso mundo e deixar de fora quem achamos ser inconveniente. Numa igreja acolhedora, os membros se sentem acolhidos e parte do grupo.

O acolhimento é uma característica indispensável na vida de uma igreja que deseja viver segundo os padrões estabelecidos por Deus. A igreja de Jerusalém nos dá um exemplo claro desse princípio, pois vivia de forma que todos se sentiam verdadeiramente parte de uma grande família.

O texto de Atos 2.44 afirma que “todos os que criam estavam juntos e tinham tudo em comum”, demonstrando que não havia espaço para divisões, egoísmo ou indiferença. A comunhão entre eles ia muito além de palavras ou formalidades; era uma prática diária, visível e sincera, fruto da ação do Espírito Santo em seus corações.

Viver em comunhão não significa ausência de dificuldades, afinal, partilhar exige renúncia, empatia e disposição para abrir mão dos próprios interesses em favor do próximo. O ser humano, por natureza, tende a se isolar, selecionar quem quer ao seu redor e, muitas vezes, rejeitar aqueles que considera diferentes ou inconvenientes. Contudo, a igreja, como corpo de Cristo, é chamada a quebrar essas barreiras e oferecer um ambiente onde todos sejam bem-vindos, amados e cuidados.

Uma comunidade acolhedora é aquela em que cada pessoa se sente valorizada, aceita e, sobretudo, amparada nas suas necessidades espirituais, emocionais e até materiais.

Isso não significa conivência com o pecado, mas sim amor ao pecador, estendendo a mão, oferecendo apoio e guiando-o em direção à transformação que só Jesus pode operar. O apóstolo Paulo reforça esse princípio quando escreve: “Levai as cargas uns dos outros, e assim cumprireis a lei de Cristo” (Gl 6.2). Isso deixa claro que acolher é mais do que simpatia, é um ato de obediência e amor cristão.

Além disso, uma igreja acolhedora reflete o próprio caráter de Cristo, que nunca rejeitou aqueles que se aproximavam dele com um coração sincero. Jesus acolheu publicanos, pecadores, enfermos e marginalizados, oferecendo-lhes não só palavras de esperança, mas também transformação e vida abundante. Assim também deve ser a igreja hoje: um lugar onde todos possam encontrar refúgio, cuidado e apoio para crescerem na fé.

3. Uma igreja adoradora.

A igreja de Jerusalém era também uma igreja adoradora: “louvando a Deus” (At 2.47). “Louvando”, traduz o verbo grego aineo. É o mesmo termo usado para se referir aos anjos e pastores que louvavam a Deus por ocasião do nascimento de Jesus (Lc 2.13,20); é usado também para descrever o paralítico que louvava a Deus depois que foi curado junto à Porta Formosa do Templo (At 3.8). É, portanto, uma expressão de júbilo e de gratidão. Louvar é muito mais que simplesmente “cantar”; é uma expressão de rendição e total entrega! É o reconhecimento da grandeza de Deus e de seus poderosos feitos.

O texto bíblico afirma que eles estavam “louvando a Deus” (At 2.47), utilizando o verbo grego aineo, o mesmo que descreve o louvor dos anjos na ocasião do nascimento de Jesus (Lc 2.13) e também a atitude do paralítico que, após ser curado na Porta Formosa, entrou no templo andando, saltando e louvando a Deus (At 3.8). Isso revela que a adoração que brotava do coração daqueles crentes estava diretamente ligada à consciência dos feitos poderosos de Deus em suas vidas.

Adorar não se limita a entoar cânticos, embora o canto seja uma poderosa expressão de louvor. Mais do que isso, é reconhecer quem Deus é, sua majestade, sua santidade, sua fidelidade e seu amor.

A verdadeira adoração nasce de um coração grato e quebrantado, que entende que tudo o que possui, tudo o que é e tudo o que vive vem unicamente do Senhor. Quando uma igreja cultiva essa consciência, sua adoração se torna viva, sincera e agradável a Deus.

A atitude adoradora da igreja primitiva refletia uma vida de plena comunhão com Deus. Eles não adoravam apenas nos momentos de reunião, mas em seu viver diário. Suas palavras, ações e escolhas demonstravam que Deus ocupava o primeiro lugar em suas vidas. Isso está alinhado com o que Jesus ensinou à mulher samaritana, quando disse que os verdadeiros adoradores adorariam o Pai em espírito e em verdade (Jo 4.23-24). Adorar, portanto, é algo que transcende os rituais e invade toda a existência do crente.

Além disso, a adoração que se manifestava na igreja de Jerusalém estava intimamente conectada ao testemunho da presença de Deus entre eles.

Uma igreja que adora de verdade se torna luz no meio da escuridão, porque revela, por meio de sua vida, a grandeza, a bondade e o poder de Deus. Não é por acaso que a continuidade do texto afirma que “caía na graça de todo o povo” (At 2.47), mostrando que a adoração impactava não só os crentes, mas também os que estavam de fora.

Ser uma igreja adoradora é reconhecer a soberania de Deus, render-se a Ele, viver em santidade e testemunhar, com atitudes e palavras, que Ele é digno de toda honra e glória. Quando o louvor se torna estilo de vida, a presença de Deus transforma corações e glorifica Seu nome em tudo.

CONCLUSÃO

Vimos, nesta lição, algumas características que marcaram a primeira igreja. Frequentemente, nos referimos a ela como a “Igreja Primitiva”. Vemos como sendo uma igreja ideal, modelo para todas as outras. De fato, ela é a igreja-mãe. Isso, contudo, não significa dizer que a igreja de Jerusalém não tivesse problemas. Pelo contrário, veremos em outras lições, que havia alguns bem desafiadores. Nada, contudo, que tire o seu brilho e nos impeça de nos espelharmos nela.

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