
Subsidio Lição 6 : O Bom Pastor e suas ovelhas | EBD Adulto CPAD | 2º Trimestre 2025 |Comentarista Pastor Elianai Cabral
TEXTO ÁUREO
“Eu sou o bom Pastor, e conheço as minhas ovelhas, e das minhas sou conhecido.”
(Jo 10.14)
VERDADE PRÁTICA
Jesus é o Bom Pastor e nós, que pertencemos à sua Igreja, somos as ovelhas do seu rebanho.
LEITURA BÍBLICA EM CLASSE
INTRODUÇÃO
Nesta lição, estudaremos o capítulo 10 do Evangelho de João, destacando a figura de Jesus como o Bom Pastor, aquEle que protege, cuida e orienta as suas ovelhas. Analisaremos o contexto em que nosso Senhor é descrito como “A Porta das Ovelhas” e a conexão desta imagem com o aprisco das ovelhas, que representa o lugar de habitação do rebanho. Por fim, diferenciaremos as figuras do Bom Pastor e do mercenário, para que possamos reconhecer a voz do verdadeiro pastor de nossas almas.
PALAVRA-CHAVE
CUIDADO
I – JESUS, A PORTA DAS OVELHAS
1. O contexto.
Este capítulo é antecedido pelo capítulo 9, onde Jesus teve uma conversa breve com fariseus que tentavam encontrar algum ponto de discórdia para acusá-lo (Jo 9.40,41). No capítulo 10, o nosso Senhor interrompe esse diálogo após a cura de um cego de nascença, que foi expulso da sinagoga da cidade porque sabiam que o seu testemunho os incomodaria. No entanto, Jesus utilizou a parábola do Pastor e das Ovelhas para caracterizar os religiosos como falsos pastores e, mais especificamente, como mercenários. Este relato possui a mesma força da crítica aos falsos pastores presente na profecia de Ezequiel 34.1-10.
Jesus utilizou uma parábola para explicar a relação entre o verdadeiro pastor e as suas ovelhas (Jo 10.1-6). Ele apresentou dois tipos de líderes: os que entram pela porta do aprisco, ou seja, os legítimos, e os que entram por outro caminho, os falsos, chamados por Ele de ladrões e salteadores. Estes últimos são aqueles que não se preocupam com o bem-estar das ovelhas, mas agem por interesse próprio. Já o verdadeiro pastor é conhecido pelo porteiro, entra pela porta e é reconhecido pelas ovelhas. Elas ouvem a sua voz, confiam nele e o seguem.
Jesus estava falando diretamente sobre os líderes religiosos de seu tempo, especialmente os fariseus, que haviam acabado de expulsar o cego curado da sinagoga (Jo 9.34).
Ao fazer isso, demonstraram que não eram verdadeiros pastores, pois rejeitavam quem havia sido alcançado por Deus. Diferente deles, o verdadeiro Pastor acolhe, cura, guia e dá a vida pelas ovelhas.
Essa parábola também remete à profecia de Ezequiel 34, onde Deus repreende os falsos pastores de Israel por apascentarem a si mesmos, em vez de cuidarem do rebanho. Assim como no Antigo Testamento, Jesus confronta os líderes religiosos de sua época, mostrando que o povo estava desamparado, mas que Ele havia vindo para resgatar as verdadeiras ovelhas.
Nos dias atuais, essa verdade permanece: há muitos que se apresentam como guias espirituais, mas não têm compromisso com a Palavra de Deus nem com a salvação das almas. Somente Jesus é o Pastor verdadeiro, e Suas ovelhas o reconhecem porque Ele fala com amor, verdade e autoridade. Quem é dEle ouve a Sua voz e O segue.
2. A Porta das Ovelhas.
Nesta parábola de Jesus, contada no capítulo 10 de João, destacam-se dois pontos principais. Em primeiro lugar, Ele entra pela porta do aprisco onde se encontram as ovelhas (Jo 10.1-3). Em segundo lugar, Ele se refere a si mesmo como “a porta das ovelhas” (Jo 10.7). Nos primeiros versículos de João 10, sugere-se que aquele que passa pela porta do aprisco é o verdadeiro pastor, enquanto quem utiliza outros caminhos é associado a “ladrões e salteadores”. Assim, as ovelhas reconhecem a voz do verdadeiro pastor e não dão atenção ao mercenário. Além disso, Jesus afirma: “Eu sou a Porta” (Jo 10.7); e logo depois declara: “Eu sou o Bom Pastor” (Jo 10.11). Estas declarações são direcionadas aos líderes religiosos judeus, que podem ser vistos como falsos pastores do povo (Jo 10.11,14), pois não cuidavam, protegiam ou orientavam o povo de Deus.
Na parábola registrada em João 10, Jesus apresenta verdades profundas sobre sua identidade e missão. Primeiramente, Ele se mostra como Aquele que entra pela porta do aprisco, sendo reconhecido como o verdadeiro pastor das ovelhas (Jo 10.1-3). Depois, no versículo 7, declara de forma clara e poderosa: “Eu sou a porta das ovelhas”, revelando que Ele mesmo é o único meio legítimo de entrada no redil de Deus.
Essas palavras são dirigidas diretamente aos fariseus e demais líderes religiosos, que agiam como guias espirituais, mas, na verdade, conduziam o povo à confusão e à cegueira espiritual.
Eles se colocavam como autoridades, mas rejeitavam a Verdade encarnada — o próprio Cristo. Por isso, Jesus os compara a “ladrões e salteadores” (Jo 10.1), pois tentavam subir por outro caminho, sem passar pela Porta legítima.
A figura da “porta” revela que Jesus é o único acesso à salvação e à comunhão com Deus. Não há outro caminho. Nenhuma tradição religiosa, mérito pessoal ou autoridade humana pode substituir ou competir com Cristo. Somente passando por Ele é que alguém pode ser salvo e fazer parte do rebanho de Deus (Jo 10.9).
Além disso, Jesus afirma ser o “Bom Pastor” (Jo 10.11), em contraste com os falsos pastores que exploram e abandonam as ovelhas em tempos de perigo. Enquanto estes agem por interesse próprio, o Bom Pastor dá a vida pelas ovelhas. Ele não apenas conduz e alimenta, mas protege com sua própria vida.
3. A mensagem da porta.
O significado contido na frase “Eu Sou a Porta” é bastante claro: existe apenas um caminho exclusivo para entrar no Reino de Deus, que é através da fé em Jesus Cristo. O nosso Senhor atua como a porta de acesso direto ao Pai (Hb 4.14,15), permitindo-nos aproximarmos dEle com ousadia e confiança (Hb 4.16). Para desfrutarmos de uma relação eterna e significativa com Deus, é essencial crer em Jesus, viver conforme os seus ensinamentos e obedecê-lo plenamente. O nosso Senhor é a “porta” pela qual todos os pecadores devem entrar.
A declaração de Jesus — “Eu sou a porta” (Jo 10.7) — carrega um significado profundo e inegociável: somente por meio dEle é possível ter acesso à salvação e ao Reino de Deus. Não há atalhos, alternativas nem outros mediadores. O próprio Cristo é o único caminho legítimo para a reconciliação com o Pai.
Ao afirmar isso, Jesus exclui qualquer possibilidade de pluralismo religioso ou salvação por obras. Ele é a única porta de entrada para a vida eterna. O autor de Hebreus confirma essa verdade ao dizer que temos “um grande sumo sacerdote” que penetrou os céus — Jesus, o Filho de Deus — e que, por meio dEle, podemos nos achegar ao trono da graça com confiança (Hb 4.14-16). Cristo não é apenas o meio de entrada, mas também o sustentador da comunhão entre o homem e Deus.
Dessa forma, a mensagem da porta nos ensina que não basta conhecer sobre Jesus — é necessário entrar por Ele.
Isso significa crer, obedecer, seguir seus ensinamentos e abandonar a autossuficiência. Muitos se contentam em ficar próximos da porta, mas nunca passam por ela. Contudo, somente os que entram pela fé em Cristo são libertos do pecado, acolhidos como filhos e introduzidos no redil do Senhor.
Essa é a mensagem que o mundo precisa ouvir: Jesus é a única Porta que conduz à vida. Sem Ele, todos permanecem do lado de fora — perdidos, confusos e sem acesso ao Pai. Mas, por meio dEle, há salvação, paz e esperança. Por isso, proclamemos com ousadia que só há uma entrada para o céu, e essa entrada é Jesus, o nosso Salvador.
II – O APRISCO DAS OVELHAS
1. Parábola? Uma alegoria?
O versículo 6 indica que a história narrada pelo nosso Senhor é uma parábola. Trata-se de uma narrativa, normalmente breve, que ensina através de uma alegoria. Assim, o Senhor Jesus comunicava as suas lições de forma sistemática utilizando a parábola. Desta forma, as figuras do Pastor e das Ovelhas servem como símbolos para ilustrar o ensinamento de Cristo sobre o pastoreio das ovelhas no aprisco.
Ao longo do ministério terreno de Jesus, uma das formas mais marcantes de ensino que Ele utilizou foi a parábola. Esse recurso pedagógico consistia em narrativas simples, muitas vezes baseadas no cotidiano do povo judeu, mas carregadas de significados espirituais profundos. O versículo 6 do capítulo 10 do evangelho de João esclarece que a fala de Jesus tratava-se de uma parábola. Isso não significa que os elementos apresentados eram apenas fictícios ou irreais, mas sim que carregavam um sentido simbólico. Jesus, ao apresentar o quadro do pastor e das ovelhas, utiliza-se de uma alegoria, isto é, de uma representação figurada, para comunicar uma verdade espiritual mais elevada.
É importante destacar que, embora as parábolas se baseiem em fatos ou imagens comuns à vida do povo, o seu valor não está apenas na narrativa em si, mas na lição moral e espiritual que ela transmite.
Nesse contexto, o Senhor Jesus se vale da relação entre o pastor e as ovelhas — uma figura bem conhecida na cultura judaica — para ilustrar a sua própria missão como o verdadeiro Pastor de Israel. A porta do aprisco, o ladrão, o mercenário e o estranho são personagens da cena que apontam para realidades espirituais e práticas presentes no relacionamento entre Deus, Seu povo e os falsos líderes religiosos.
Essa forma de ensino exigia atenção e discernimento por parte dos ouvintes. Nem todos compreendiam de imediato o significado das parábolas. Como registrado em outras ocasiões, os discípulos frequentemente perguntavam ao Mestre o sentido de suas palavras (Mt 13.10-11). Isso demonstra que, por trás de cada figura alegórica, havia um convite à reflexão e uma provocação à fé. A parábola não era apenas uma forma de tornar o ensino mais atrativo, mas sim uma ferramenta para revelar verdades do Reino aos que estavam dispostos a ouvir com o coração aberto.
Além disso, a presença de alegorias nas palavras de Cristo aponta para o seu método intencional de ensino: Ele não falava de maneira direta para todos, mas revelava os mistérios do Reino àqueles que O seguiam com sinceridade. Assim, a narrativa do bom Pastor não é apenas uma ilustração pastoral, mas uma revelação sobre quem é Jesus e como Ele se relaciona com o seu povo. Ele não é como os falsos mestres, que exploravam e enganavam as pessoas. Ao contrário, Ele entra pela porta, conhece as ovelhas pelo nome, chama-as e as conduz com segurança.
2. O aprisco das ovelhas.
O aprisco das ovelhas consistia, essencialmente, numa edificação de pedras que possuía apenas uma entrada (ou porta) por onde as ovelhas eram levadas para dentro ao entardecer (Jo 10.1). Essas ovelhas eram supervisionadas pelo porteiro, ou pastor, que se acomodava junto à entrada do abrigo para assegurar a proteção delas. Desta forma, a representação simbólica do abrigo remete à atividade pastoril que os judeus exerceram ao longo de várias gerações, assim como à relação religiosa entre os líderes judeus e a população. Portanto, atualmente, essa imagem simbólica da parábola pode ser relacionada ao vínculo da Igreja de Cristo com o Senhor Jesus, nosso Sumo Pastor (1 Pe 5.4).
Na cultura do Antigo Oriente, especialmente entre os judeus, a imagem do aprisco era bastante familiar. O aprisco, geralmente construído com pedras empilhadas formando um muro, servia como local seguro onde as ovelhas passavam a noite protegidas de predadores e ladrões. A única entrada dessa estrutura simbolizava não apenas o controle de quem entrava e saía, mas também a vigilância constante do pastor ou do porteiro, que se colocava à porta como sentinela. Assim, o aprisco era sinônimo de refúgio, segurança e cuidado — elementos que, espiritualmente, apontam para a comunhão com Deus.
Quando Jesus menciona o aprisco em João 10.1, Ele está indo além de uma referência ao cotidiano rural; está revelando verdades espirituais profundas. Ao descrever que aquele que não entra pela porta é ladrão e salteador, Cristo faz um contraste direto entre o verdadeiro pastor e os falsos líderes que tentavam exercer influência sobre o povo sem autoridade legítima.
Naquele contexto, muitos líderes religiosos dos judeus já haviam se corrompido, conduzindo o povo a práticas que afastavam o coração deles de Deus. Dessa forma, o aprisco também representa a aliança de Deus com o seu povo, a comunidade reunida sob o cuidado do verdadeiro Pastor.
Por outro lado, a única entrada existente no aprisco aponta para a exclusividade do acesso verdadeiro: não há vários caminhos, mas apenas um. Jesus deixa claro, nos versículos seguintes, que Ele mesmo é a porta das ovelhas (Jo 10.7). Isso significa que ninguém pode entrar no Reino de Deus senão por meio d’Ele. A Igreja, como o rebanho do Senhor, encontra refúgio e direção ao permanecer dentro desse aprisco espiritual — não uma estrutura física, mas a comunhão com Cristo e com os santos. Fora desse ambiente, há risco, confusão e perda.
O papel do porteiro ou do pastor à entrada também carrega um valor simbólico importante. Ele representa não apenas a liderança legítima, mas a responsabilidade de zelar pela integridade do rebanho. Em 1 Pedro 5.4, Cristo é chamado de Sumo Pastor, e é sob a sua autoridade que os pastores terrenos devem conduzir as ovelhas. Isso destaca o valor do ministério pastoral comprometido com a Palavra, que orienta, protege e guia as ovelhas conforme a vontade de Deus. A liderança cristã deve se espelhar nesse modelo, rejeitando qualquer forma de dominação ou manipulação e priorizando sempre o bem espiritual dos membros da Igreja.
A imagem do aprisco, portanto, remete à fidelidade do Senhor para com o seu povo.
Nele há segurança, alimento, direção e descanso. Jesus, como a Porta e o Pastor, é quem garante a entrada, protege contra o inimigo e conduz as ovelhas para pastos verdejantes. Essa figura não é apenas um retrato do passado, mas uma realidade espiritual presente na vida daqueles que verdadeiramente pertencem ao rebanho de Cristo. Em tempos de tantas vozes estranhas e caminhos tortuosos, permanecer dentro do aprisco é manter-se debaixo da autoridade e cuidado do nosso Salvador.
3. Um lugar de proteção.
O aprisco das ovelhas simboliza também um espaço de proteção. Este local é defendido diretamente pelo Pastor do Rebanho, que está disposto a sacrificar-se, se necessário (Jo 10.11). Não existe lugar mais seguro do que aquele que está sob a vigilância e proteção do Sumo Pastor, o Senhor Jesus Cristo. O seu compromisso com o seu rebanho ficou evidente através da sua obra realizada no Calvário (Jo 19.30). Assim, as afirmações “Eu sou a porta” (v.9) e “Eu sou o bom pastor” (v.11) expressam essa realidade de cuidado por todos os que fazem parte do Corpo de Cristo (Cl 1.24).
Ao dizer “Eu sou a porta” (Jo 10.9), Jesus reforça a exclusividade da proteção que Ele oferece. Não se trata apenas de um caminho entre outros, mas da única entrada legítima para a segurança espiritual. A porta do aprisco não é um enfeite ou mero detalhe estrutural; ela é o limite que separa a ovelha da ameaça externa, é o ponto de passagem necessário para a salvação e a vida abundante. Jesus é essa porta. Ele não apenas conduz as ovelhas para fora e para dentro — isto é, para a liberdade e o repouso — como também se coloca a si mesmo entre elas e o perigo.
Essa proteção não se restringe apenas à vida terrena. A maior prova do cuidado do bom Pastor está no Calvário.
Em João 19.30, ao exclamar “Está consumado”, Cristo não apenas encerrava seu sofrimento, mas selava, com seu sangue, o pacto eterno de salvação e proteção sobre aqueles que creem. Por meio da sua morte, Ele derrotou o maior inimigo das ovelhas: o pecado. Assim, estar sob os cuidados do bom Pastor significa estar coberto por sua graça e guardado por seu poder. Nenhuma ovelha que está em seu rebanho está abandonada ou esquecida. O rebanho de Cristo é conduzido com amor, protegido com firmeza e alimentado com fidelidade.
Essa segurança espiritual se estende também à Igreja, o Corpo de Cristo (Cl 1.24). Os que pertencem a Ele não estão à deriva nem sujeitos ao acaso. Eles foram comprados por alto preço, reunidos em um só corpo, e agora vivem debaixo da autoridade e do cuidado direto de Jesus. Mesmo em meio às adversidades do mundo, a Igreja encontra no seu Senhor um refúgio inabalável. A proteção do bom Pastor não se limita ao presente; ela se estende à eternidade. Como Ele mesmo afirmou: “As minhas ovelhas ouvem a minha voz, e eu conheço-as, e elas me seguem. E dou-lhes a vida eterna, e nunca hão de perecer, e ninguém as arrebatará da minha mão” (Jo 10.27-28).
Portanto, o aprisco é mais do que um símbolo pastoral; é uma declaração do cuidado ativo de Cristo por sua Igreja. Permanecer nesse lugar de proteção é andar sob a direção de Jesus, confiar em sua voz e descansar na certeza de que Ele não abandona suas ovelhas. Não existe abrigo mais seguro do que estar aos cuidados do bom Pastor.
III – A DISTINÇÃO ENTRE O BOM PASTOR E O MERCENÁRIO
1. O Bom Pastor.
O versículo 11 menciona que Jesus é o “Bom Pastor” que sacrifica a sua vida pelas ovelhas. Em contraste com o ladrão (v.10), que vem para roubar, matar e destruir, a missão do Bom Pastor é oferecer vida, tanto na perspectiva eterna/celestial da salvação, como na dimensão virtuosa da santidade enquanto forma de viver no mundo (Jo 20.31; Rm 8.29). A generosidade do Sumo Pastor é sem igual, pois ninguém pode defender as suas ovelhas como Ele faz. O nosso Senhor é indiscutivelmente o melhor dos pastores. Quem entra no seu aprisco encontra uma vida verdadeira.
Ao afirmar “Eu sou o bom Pastor” em João 10.11, Jesus revela não apenas uma metáfora pastoral, mas uma verdade profunda sobre sua identidade e missão. No contexto do capítulo, Ele contrasta sua postura com a dos falsos líderes — os ladrões e salteadores que, em vez de cuidar, exploram o rebanho. Enquanto esses intrusos vêm para roubar, matar e destruir (Jo 10.10), o bom Pastor se distingue por dar a vida pelas ovelhas. Essa entrega não é simbólica ou retórica; é uma expressão real de sacrifício. Cristo voluntariamente enfrentou a cruz, suportou o sofrimento e venceu a morte, tudo por amor ao seu rebanho.
A missão do bom Pastor vai além da simples proteção física. Ele oferece vida — não apenas no sentido biológico, mas em sua plenitude espiritual. A vida que Jesus concede é eterna e começa já no presente.
É uma existência transformada, marcada pela comunhão com Deus, pela prática da justiça e pela santidade. O evangelista João reforça isso ao dizer que os sinais de Jesus foram escritos para que creiamos que Ele é o Cristo, o Filho de Deus, e que, crendo, tenhamos vida em seu nome (Jo 20.31). Já o apóstolo Paulo nos lembra que fomos predestinados para sermos conformes à imagem de Cristo (Rm 8.29). Isso mostra que o bom Pastor não apenas salva, mas molda o caráter de suas ovelhas à sua semelhança.
Diferente de qualquer outro líder ou mestre religioso, Jesus não conduz suas ovelhas por interesse próprio. Sua motivação é o amor. Ele conhece cada uma pelo nome (Jo 10.3), guia com mansidão, corrige com justiça e nunca as abandona. Seu cuidado é individual, constante e eficaz. Nenhuma ovelha que está em suas mãos se perde. Sua autoridade não oprime; antes, liberta. Sua liderança não ilude; antes, ilumina. A generosidade do Sumo Pastor se manifesta não apenas na salvação inicial, mas no acompanhamento diário que Ele oferece a cada crente em sua jornada de fé.
Ao nos declarar que é o bom Pastor, Jesus também nos convida a refletir sobre onde estamos buscando direção e cuidado. Muitos, hoje, têm seguido vozes estranhas, promessas vazias e caminhos de engano. Mas somente no aprisco de Cristo encontramos vida verdadeira. A segurança espiritual, o alimento para a alma, o consolo nos momentos de dor e a direção para uma vida santa estão todos sob o pastoreio d’Aquele que não mede esforços para guardar seu povo.
2. O Mercenário.
O versículo 12 apresenta a figura do mercenário. Ao contrário do Bom Pastor, que se sacrifica pela vida das ovelhas, o mercenário opta por fugir diante do perigo, dispersando e roubando as ovelhas. Não demonstra zelo nem cuidado por elas. Por essa razão, é simbolizado como ladrão e bandido. Assim, enquanto o Bom Pastor promove a vida, o mercenário traz consigo a morte; em vez de construir, ele destrói tudo o que encontra pelo caminho. Ele abandona as ovelhas à sua própria sorte. A representação do mercenário ilustra o caráter dos falsos líderes e mestres fraudulentos que procuram constantemente semear divisões entre o povo de Deus.
A figura do mercenário apresentada por Jesus em João 10.12 serve como um alerta direto contra a liderança espiritual corrompida e interesseira. Ao contrário do bom Pastor que ama e protege suas ovelhas, o mercenário cuida do rebanho apenas por conveniência e benefício próprio. Sua motivação não é o bem das ovelhas, mas o lucro. Quando surge o perigo, ele revela sua verdadeira natureza: foge e abandona o rebanho à própria sorte. Sua falta de compromisso e de compaixão permite que o lobo ataque, espalhe e destrua. Essa imagem retrata de forma clara a consequência trágica de se confiar em líderes que não têm o coração de Deus.
Enquanto o bom Pastor se entrega por amor, o mercenário apenas se serve da posição.
Ele não sente dor quando uma ovelha se perde, não se entristece com as feridas do rebanho e não se dispõe a enfrentamentos por causa da segurança do povo. Esse comportamento denuncia a ausência de vocação genuína. E, mais do que isso, expõe um perigo espiritual: sob o comando de tais líderes, o povo de Deus se torna vulnerável às mentiras, divisões e heresias. O mercenário não cuida, não ensina com verdade, não exorta com fidelidade e, quando necessário, não protege com firmeza.
A representação do mercenário como ladrão e bandido tem base na oposição direta ao caráter de Cristo.Jesus veio para que tenhamos vida e vida com abundância (Jo 10.10), mas o mercenário, por sua negligência e ambição, coopera com a destruição. A ausência de zelo e de responsabilidade transforma sua liderança em uma ameaça real para a saúde espiritual do rebanho. E essa advertência de Jesus não era dirigida apenas ao seu tempo, mas permanece atual. Ainda hoje, muitos se apresentam como pastores, mas agem como mercenários — exploram, manipulam, dividem e, ao primeiro sinal de dificuldade, desaparecem.
O apóstolo Paulo, em Atos 20.29-30, já alertava os presbíteros da igreja em Éfeso que, após sua partida, “entrarão no meio de vós lobos cruéis, que não pouparão ao rebanho” e que até mesmo dentre eles se levantariam homens que falariam coisas perversas para atrair discípulos após si. Esse cenário mostra que o espírito do mercenário não é apenas externo, mas pode surgir no meio da própria igreja. Por isso, a vigilância, o discernimento espiritual e o compromisso com a verdade da Palavra são indispensáveis para evitar que falsos líderes corrompam a fé e enfraqueçam o rebanho.
Diante disso, é fundamental que a igreja reconheça a voz do bom Pastor e permaneça firme sob a sua direção.
Os crentes devem rejeitar toda liderança que não reflete o caráter de Cristo e que não demonstra amor sincero pelo rebanho. Jesus, como o verdadeiro Pastor, não apenas cuida, mas também chama as suas ovelhas pelo nome, anda com elas e as conduz a pastos verdejantes. A igreja deve se apegar a esse modelo e não aceitar substitutos fraudulentos. Em um tempo marcado por tanta confusão espiritual, torna-se ainda mais urgente voltar ao padrão de liderança estabelecido por Cristo, onde o amor, a entrega e a fidelidade prevalecem sobre o interesse pessoal.
3. Lobos vorazes X o Bom Pastor.
Os lobos aproximam-se do aprisco para atacar as ovelhas apenas quando percebem que o mercenário não está atento à sua chegada. O mercenário, por sua vez, opta por fugir e abdica das suas responsabilidades: “Mas o mercenário que não é pastor, de quem não são as ovelhas, foge, e o lobo arrebata e dispersa” (Jo 10.12). Não é por acaso que o apóstolo Paulo descreve esses “lobos vorazes” como sendo os falsos mestres que promovem doutrinas enganosas e comprometem a fé recebida do Evangelho, iludindo e levando consigo as ovelhas desatentas (At 20.29,30). Estes têm intenções destrutivas (2 Co 2.17), geram divisões no rebanho (Tt 3.10) e dispersam as ovelhas (1 Jo 2.18,19; 4.1-3). Por essa razão, nosso Senhor se apresenta como a Porta das Ovelhas, o Bom Pastor (Mt 7.13,14; Lc 13.24).
A oposição entre os lobos vorazes e o bom Pastor expõe a gravidade do perigo espiritual enfrentado pelo rebanho de Deus. Os lobos, como descritos por Jesus e pelos apóstolos, não atacam ao acaso, mas se aproveitam da ausência de vigilância e da negligência dos que deveriam proteger. Quando o mercenário abandona suas funções, o campo fica livre para que os lobos arrebentem e dispersem as ovelhas. Esta metáfora ilustra a ação dos falsos mestres que, com discursos aparentemente piedosos, introduzem heresias sutis, corroem a doutrina sadia e desviam muitos da verdade. O apóstolo Paulo foi enfático ao advertir os presbíteros de Éfeso sobre isso, dizendo que, após sua partida, surgiriam lobos cruéis do meio deles mesmos, com o objetivo de atrair discípulos para si (At 20.29,30).
Esses lobos não apenas confundem, mas destroem. Seu objetivo é minar a fé, gerar escândalos, promover divisões e, por fim, afastar as ovelhas do redil.
São agentes do engano, cuja mensagem está carregada de interesses próprios, manipulação e desprezo pela verdade do Evangelho. Paulo os identifica como falsificadores da Palavra de Deus (2 Co 2.17), homens que torcem as Escrituras para sua própria conveniência. O resultado desse ensino pervertido é um rebanho confuso, vulnerável e dividido. Tito também adverte quanto à necessidade de rejeitar os hereges que, depois de admoestados, persistem no erro, demonstrando seu espírito faccioso (Tt 3.10). O apóstolo João reforça esse alerta ao dizer que muitos anticristos já se manifestaram, saindo do nosso meio, mas demonstrando que nunca pertenceram verdadeiramente à comunhão dos santos (1 Jo 2.18,19).
Diante dessa ameaça real e constante, a figura do bom Pastor se destaca como nossa única segurança verdadeira. Ele não apenas guarda o rebanho, mas se interpõe entre as ovelhas e o perigo. Ele conhece cada uma pelo nome, conduz com amor e firmeza, e jamais abandona as suas ovelhas. Jesus não foge diante do lobo — Ele o enfrenta. E mais do que isso: como a Porta do aprisco, é Ele quem define quem entra e quem sai (Jo 10.9). Sua autoridade é legítima, sua liderança é segura e seu compromisso com o rebanho é inabalável. Assim, quando Ele se apresenta como a Porta e o bom Pastor, está garantindo que, sob sua liderança, nenhuma ovelha será deixada à mercê dos lobos. Ele é o caminho estreito que conduz à vida (Mt 7.13,14), a entrada verdadeira pela qual todos devem passar para encontrar salvação.
A diferença entre os lobos e o bom Pastor não está apenas na intenção, mas nos frutos. Os lobos promovem confusão, espalham e enganam com palavras sutis. O bom Pastor oferece direção , reúne e fala com clareza e verdade.
Por isso, os crentes precisam cultivar discernimento espiritual, alimentando-se da Palavra, sendo firmes na doutrina de Cristo e atentos à voz do Espírito. É necessário vigiar, orar e permanecer sob o cuidado do verdadeiro Pastor. A comunhão com Jesus não apenas protege contra os lobos, mas fortalece a fé e nos mantém firmes no caminho.
CONCLUSÃO
O Senhor afirmou que as suas ovelhas conhecem a sua voz e a reconhecem, seguindo-a (Jo 10.27). Desta forma, aqueles que pertencem ao grande rebanho do Sumo Pastor têm a alegria de conhecer e reconhecer a sua voz. Assim sendo, não devemos perder tempo ouvindo a voz do lobo. A voz do Bom Pastor é mais do que suficiente para nos guiar ao longo da nossa caminhada na vida cristã.