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Subsidio Lição 02: O Livro de Rute

Subsidio Lição 02 O Livro de Rute

Subsidio Lição 02: O Livro de Rute | 3° Trimestre de 2024 | EBD ADULTOS

 

A sequência dos livros do Antigo Testamento, incluindo o livro de Rute, passou por diversas mudanças ao longo do tempo até chegar à formatação atual da Bíblia Hebraica. Inicialmente, os livros não tinham uma ordem fixa, e diferentes comunidades judaicas os organizavam de maneiras variadas.

No início, os textos sagrados do Antigo Testamento circulavam entre as comunidades judaicas sem uma ordem definida. Cada grupo organizava os livros de acordo com suas tradições e necessidades. A falta de padronização levou a variações no arranjo dos livros.

Entretanto, com o tempo, surgiram versões importantes da Bíblia que apresentavam ordens diferentes.

Um exemplo é a Septuaginta, uma tradução grega dos textos hebraicos. Na Septuaginta, a ordem dos livros era diferente da Bíblia Hebraica atual. Os livros históricos, como Rute, vinham após os livros da Lei, como Gênesis e Êxodo, por exemplo. Essa variação demonstra como diferentes comunidades valorizavam e organizavam os textos sagrados de maneiras únicas.

Posteriormente, estudiosos judeus estabeleceram uma ordem padrão para os livros do Antigo Testamento. Essa padronização resultou na formatação conhecida como Tanakh, dividida em três partes:

  • Torá (Lei): Inclui os cinco primeiros livros, como Gênesis e Êxodo.
  • Nevi’im (Profetas): Contém livros como Josué, Juízes e os profetas maiores e menores.
  • Ketuvim (Escritos): Inclui uma variedade de livros, como Salmos, Provérbios e Rute.

Especificamente, o livro de Rute está classificado na seção de Ketuvim. Esta parte abrange diversos gêneros literários, incluindo poesia e história, refletindo a riqueza da tradição literária judaica.

A organização do livro de Rute na Bíblia cristã difere da sua posição na Bíblia Hebraica. Na Bíblia Hebraica, o livro de Rute é parte dos Ketuvim, a terceira seção que inclui uma variedade de gêneros literários, como poesia, sabedoria e história. Rute está posicionado depois do livro de Juízes e antes de 1 Samuel, o que não segue a ordem cronológica dos eventos, mas sim uma organização temática e litúrgica.

Na Bíblia cristã, o livro de Rute está entre os livros históricos. Especificamente, Rute está posicionado após o livro de Juízes e antes de 1 Samuel. Esta organização reflete a sequência cronológica dos eventos:

  • Juízes: Relata o período dos juízes que governaram Israel antes da monarquia.
  • Rute: Embora seja uma história pessoal e familiar, ocorre durante o tempo dos juízes e serve como uma ponte para a história de Davi.
  • 1 Samuel: Inicia a narrativa dos primeiros reis de Israel, começando com Saul e, posteriormente, Davi, que é descendente de Rute.

Primeiramente, o autor do livro de Rute é desconhecido. O texto bíblico não fornece nenhuma indicação direta de quem o escreveu. Tradicionalmente, alguns atribuem a autoria a Samuel, o profeta, devido à sua conexão com o período dos Juízes e à importância da genealogia de Davi, destacada no livro. No entanto, essa atribuição é conjectural e não tem respaldo explícito nas Escrituras.

O estilo de escrita e o vocabulário usados no livro de Rute sugerem que alguém o escreveu durante o período da monarquia de Israel, possivelmente durante o reinado de Davi ou Salomão, com base em evidências internas. A linguagem e as expressões empregadas no texto são mais próximas dos escritos históricos de Israel do que dos escritos legais ou proféticos.

Além disso, o livro termina com uma genealogia que liga Rute e Boaz ao rei Davi, implicando que o autor sabia da ascensão de Davi ao trono. Essa conexão reforça a ideia de que o texto foi composto ou finalizado durante ou após o reinado de Davi, quando a linhagem davídica já era reconhecida.

A história de Rute se passa “nos dias em que julgavam os juízes” (Rute 1:1), situando os eventos narrados no período dos Juízes, que vai aproximadamente de 1200 a 1020 a.C. No entanto, a composição do livro é geralmente datada muito depois desse período.

Estudiosos propõem que o livro de Rute foi escrito durante o período da monarquia unida de Israel (cerca de 1000 a.C.), possivelmente no século X a.C., quando a genealogia de Davi tinha um significado especial e a narrativa de Rute servia para legitimar e enaltecer a ascendência do rei Davi.

O livro de Rute também pode ter sido escrito com propósitos teológicos e sociais específicos. Em um tempo onde havia discussões sobre a pureza étnica e a inclusão de estrangeiros na comunidade de Israel, a história de Rute, uma moabita, destacando sua lealdade a Noemi e sua aceitação plena na sociedade israelita, serviria como um poderoso argumento a favor da integração e aceitação de estrangeiros fiéis ao Deus de Israel.

O período dos juízes foi marcado por ciclos repetitivos de desobediência, opressão, arrependimento e libertação. O povo de Israel constantemente se desviava dos caminhos de Deus, adorando deuses pagãos e se envolvendo em práticas idólatras, o que resultava em opressão por nações vizinhas. Quando o povo clamava a Deus em meio ao sofrimento, Ele levantava juízes para libertá-los. No entanto, após a libertação, a nação frequentemente voltava a se afastar de Deus, reiniciando o ciclo.

Os juízes não eram reis, mas líderes levantados por Deus para trazer libertação em tempos de crise.

Alguns dos juízes mais conhecidos incluem Débora, Gideão e Sansão. Apesar das vitórias militares, o período dos juízes é marcado por decadência espiritual e moral, evidenciada pela falta de unidade e liderança.

O livro de Rute se destaca nesse contexto como uma história de fidelidade e redenção. Em meio à escuridão espiritual, Rute, uma moabita, demonstra uma fé notável em Deus e um compromisso profundo com sua sogra, Noemi. Portanto, essa narrativa oferece uma contraposição à infidelidade generalizada dos israelitas, destacando a importância da lealdade, do amor e da providência divina.

O secularismo, que é a tendência de rejeitar ou minimizar a influência da religião na vida pública e nas decisões pessoais, levou o povo de Israel a uma postura de indiferença em relação a Deus e aos Seus mandamentos. Consequentemente, começaram a adotar os costumes e práticas dos povos vizinhos, distanciando-se dos princípios que Deus havia estabelecido para a nação. Esse distanciamento resultou em uma falta de identidade espiritual e moral, enfraquecendo a coesão do povo.

Além disso, o hedonismo, a busca incessante pelo prazer como principal objetivo da vida, contribuiu para a decadência moral de Israel.

Os cultos a Baal e Astarote não eram apenas rituais religiosos, mas envolviam práticas sexuais imorais e, muitas vezes, violentas. Essas práticas perverteram a visão do povo sobre a santidade do casamento e da sexualidade, resultando em uma sociedade marcada pela promiscuidade e pela degradação moral.

Por outro lado, a idolatria foi a consequência natural do secularismo e do hedonismo. Ao adotar os deuses dos cananeus, os israelitas não só desobedeceram ao primeiro mandamento (Êx 20.3), como também se afastaram da proteção e das bênçãos de Deus. A idolatria trouxe consigo uma série de maldições e juízos, pois Deus não podia abençoar um povo que rejeitava Sua soberania e Seus preceitos.

Finalmente, a falta de uma liderança espiritualmente madura e temente a Deus causou prejuízos incalculáveis ao povo. No Reino de Deus, não basta ter carisma para liderar; é preciso ter caráter aprovado (1 Tm 3.2-13; 2 Tm 2.15; Tt 2.7,8). A ausência de líderes piedosos levou Israel a um ciclo de pecado e opressão, pois sem uma direção firme e baseada nos princípios divinos, o povo se perdia facilmente.

Esses períodos de opressão e clamor por livramento nos tempos dos juízes não apenas revelam a justiça de Deus ao disciplinar seu povo por sua infidelidade, mas também demonstram sua fidelidade em responder aos clamores daqueles que se voltam para Ele em arrependimento. Em diversas ocasiões, quando os israelitas se afastavam dos caminhos de Deus e nações inimigas os dominavam devido à sua desobediência, Deus não os abandonava completamente. Ao contrário, Ele ouvia seus lamentos e enviava juízes para libertá-los, mostrando seu desejo constante de restaurar seu relacionamento com seu povo escolhido.

Esses episódios são um lembrete para os crentes hoje de que, mesmo em tempos de apostasia e sofrimento pessoal, Deus permanece pronto para ouvir, perdoar e restaurar aqueles que sinceramente se voltam para Ele.

A dinâmica de pecado, arrependimento e livramento exemplificada nos tempos dos juízes serve como um padrão de ensino importante. Pois, ensina-nos que a obediência aos mandamentos de Deus e a confiança contínua em sua providência são fundamentais para experimentarmos sua graça e intervenção em nossas vidas.

Para entender o propósito e a mensagem do Livro de Rute, é preciso explorar o significado do “cetro de Judá” nas Escrituras.

Gênesis 49:10 profetiza que “o cetro não se arredará de Judá, nem o legislador dentre seus pés, até que venha Siló; e a ele se congregarão os povos”. Essa profecia aponta para um líder e governante que viria da linhagem de Judá, estabelecendo uma promessa messiânica que se cumpriria em Jesus Cristo, o Messias esperado.

No contexto histórico de Rute, a importância dessa genealogia se destaca ainda mais. Embora Rúben tenha sido o primogênito de Jacó, ele perdeu sua primogenitura devido a um ato de desonra (Gênesis 35:22; 49:4). A liderança e a promessa de bênção passaram para Judá, e Davi, o rei ungido por Deus, continuou sua linhagem. O Livro de Rute, ao traçar a genealogia de Davi através de Boaz e Rute, demonstra a providência de Deus em usar pessoas comuns para cumprir Seus propósitos redentores.

O autor do livro, registrou esses eventos não apenas para documentar a ascendência de Davi, mas também para afirmar sua legitimidade como rei de Israel. Enquanto Saul, da tribo de Benjamim, era o rei reinante na época, Davi era o escolhido de Deus, de acordo com a promessa feita a Judá séculos antes.

Em Rute, explora-se também a redenção tanto literalmente quanto tipologicamente. Literalmente, Boaz atua como o parente remidor que preserva a descendência de Elimeleque, cumprindo a lei do levirato (DT 25:5-10) e garantindo o futuro de Noemi e Rute. Ele demonstra generosidade e integridade ao resgatar as terras e o nome da família, oferecendo segurança e sustento às viúvas desamparadas.

Além disso, Boaz figura como um tipo de Cristo, nosso Redentor espiritual.

Assim como Boaz resgata e restaura Rute e Noemi, Cristo redime e restaura toda a humanidade através de seu sacrifício na cruz. Os paralelos entre Boaz e Cristo são evidentes: ambos demonstram um amor sacrificial, ambos exercem autoridade para salvar aqueles que estão perdidos e ambos têm o poder de transformar vidas através de sua graça redentora.

Portanto, o conceito de redenção em Rute não se limita à restauração de uma linhagem familiar; ele aponta para a redenção espiritual e a restauração da comunhão com Deus. Assim como Boaz eleva Rute da condição de viúva e estrangeira para a posição de honra e bênção, Cristo eleva os pecadores da alienação espiritual para a reconciliação com Deus e a herança da vida eterna.

3- Fidelidade e altruísmo.

O livro de Rute abre uma janela que nos permite ver que nem tudo eram trevas nos dias dos juízes. Havia um remanescente fiel, que temia a Deus e foi usado por Ele para cumprir seus propósitos (Jó 42.2). Em um mundo de crescente iniquidade, o justo vive pela fé (Hc 2.4; cf. Mt 24.12,13). Outra eloquente mensagem do livro é o valor do altruísmo em que predominava o egoísmo. Nos dias dos juízes, a maioria vivia segundo os seus próprios padrões e interesses (Jz 21.25). Noemi e Rute destoaram dessa máxima individualista. Sogra e nora não pensavam em si mesmas. O amor não é egoísta (1Co 13.5).

Em um período marcado por apostasia e iniquidade generalizada (Jz 21.25), Rute e Noemi se destacam como exemplos de fidelidade a Deus e altruísmo em uma sociedade onde o egoísmo prevalecia.

Noemi, apesar de ter perdido seu marido e filhos em uma terra estrangeira, demonstra um compromisso profundo com sua nora Rute. Ela encoraja Rute a retornar à sua própria terra e buscar um futuro seguro, mesmo que isso signifique deixar Noemi sozinha. No entanto, Rute se recusa, declarando sua lealdade e afeto por Noemi em palavras que se tornaram famosas: “Não me instes para que te abandone, e deixe de seguir-te; porque aonde quer que tu fores, irei eu, e onde quer que pousares, ali pousarei eu; o teu povo é o meu povo, o teu Deus é o meu Deus” (Rt 1.16).

Essa demonstração de altruísmo vai além das relações familiares, destacando-se como um testemunho de fé e lealdade a Deus.

Rute, uma estrangeira entre o povo de Israel, escolhe abraçar não apenas Noemi, mas também a fé e o Deus de Israel. Seu compromisso com Noemi reflete um amor que não é egoísta, mas sacrificial e orientado para o bem-estar do próximo.

No contexto mais amplo das Escrituras, esse exemplo de altruísmo ressoa com os ensinamentos de Cristo sobre o amor ao próximo como a si mesmo (Mt 22.39). Paulo também enfatiza a natureza do amor verdadeiro em sua carta aos Coríntios, onde ele escreve: “O amor não busca os seus próprios interesses” (1Co 13.5). Rute e Noemi personificam esse princípio ao colocarem o bem-estar uma da outra acima de seus próprios interesses pessoais.

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